Após a divulgação dos indicadores de agosto, a indústria brasileira não tem mais esperança na retomada da atividade em 2015 e agora aposta na “estabilização” da recessão para tentar voltar a crescer em 2016. A avaliação é do gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. “Obviamente não esperamos nenhuma reação mais forte nesse ano de 2015, talvez possamos no fim do ano ter uma estabilização desse mergulho recessivo e uma gradual melhora em 2016, que ainda vai depender de muitas variáveis”, disse.
De acordo com a pesquisa divulgada nesta terça-feira, 1, em julho o nível de capacidade instalada na indústria brasileira ficou em 78,6% ante 79,5% registrados em junho, na série dessazonalizada. Com o recuo de 0,9 ponto porcentual na variação mensal, o indicador registrou o menor patamar para a série histórica, que começou em janeiro de 2003. Em julho de 2014, a utilização da capacidade instalada era de 81,5%. Já o faturamento da indústria teve queda de 0,2% em julho na comparação com junho e recuou de 6,7% em relação a julho de 2014. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o faturamento real da indústria caiu 6,5% ante o mesmo período de 2014.
Para Castelo Branco, para que a economia brasileira reaja é preciso que a indústria e os empresários retomem a confiança e voltem a investir. “Em 2015, temos uma queda de investimento bastante expressiva. Precisamos mudar o ambiente macroeconômico para que as expectativas melhorem, mas o horizonte ainda é bastante turvo”, afirmou.
O economista disse ainda que o Orçamento de 2016, apresentado ontem pelo governo ao Congresso, com a expectativa de déficit, mostra que a situação fiscal do País é “ainda mais grave do que antes”. “Um déficit fiscal no Orçamento significa uma dificuldade maior em reverter o quadro de baixa confiança”, disse. “Para ter melhora na economia é preciso ter estabilidade na economia e nas contas públicas”, afirmou.
Castelo Branco reafirmou que o governo tem que buscar adequar seus gastos, mas sem punir ainda mais a sociedade com aumento de tributos. “Aumento de tributação só implicaria em aumento de custos, seria mais uma transferência do custos”, disse. “Assim como os indivíduos, o governo tem que adequar seus gastos a sua receita.”
Câmbio, inflação e juros
A recente alta do dólar, que ajuda os exportadores, pode ser uma “janela de saída” para a indústria e para a economia brasileira, na avaliação de Castelo Branco, mas esse efeito ainda deve demorar um pouco para acontecer. “O câmbio ajusta aquilo que chamamos de custo unitário do trabalho em moeda estrangeira, esse custo unitário vai cair e aí o produto brasileiro vai ficar mais competitivo, mas isso demora um tempo, não é algo imediato”, disse.
O economista ressaltou ainda que o câmbio não pode ser visto “como uma varinha mágica” que pode resolver os problemas da indústria. “Temos outras dificuldades na economia brasileira, que são sistêmicas”, disse. “Além disso, temos um movimento de desvalorização das moedas, como no caso da China, por exemplo, que faz com que a competição no comércio internacional seja maior.”
Para Castelo Branco, a situação macroeconômica atual exige cuidados com as variáveis do chamado tripé. Segundo ele, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que acontece nesta semana, vai ser “bastante delicada”. “Ambiente recessivo é muito grave, a inflação tem mostrado resistência e precisa ser controlada”, disse. “Vejo o BC no fio da navalha”, afirmou o economista, que acredita que a autoridade monetária manterá a Selic em 14,25% ao ano. “O BC tem que ser cuidadoso.”