O ano eleitoral mexe com diversos setores da economia, mas poucos se beneficiam tanto como a construção civil – especialmente empresas focadas em obras públicas, que executam desde recapeamento de estradas, até construção de hospitais, escolas, penitenciárias. O reflexo pode ser conferido no aumento de contratações. Conforme dados do Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, no Paraná a construção civil abriu 5.031 novos postos de trabalho no primeiro semestre deste ano contra 1.788 no mesmo período do ano passado – ou seja, aumento no saldo de 181%.
?A expectativa é que o setor continue contratando?, afirmou o supervisor técnico do Dieese-PR (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócios Econômicos, regional Paraná), Cid Cordeiro. De fato, a construção civil parece, finalmente, estar tomando fôlego. Depois de registrar queda no nível de emprego em 2003 (-3.903 postos de trabalho), o setor vem se recuperando aos poucos: encerrou 2004 com a contratação de 1.417 pessoas e, 2005, com saldo de 2.091 postos de trabalho. Para o economista, o número de contratações aumentou por conta do crescimento no volume de crédito e por este ser um ano eleitoral. Hoje o setor emprega cerca de 62 mil pessoas no Estado.
Mais funcionários
A Sial Construções Civis, que atua no mercado há quinze anos e tem 65% das suas obras voltadas para o setor público – especialmente do governo do Estado -, já dobrou seu quadro de funcionários diretos: de 150 até o ano passado para aproximadamente 300 este ano. ?A gente espera poder manter estas pessoas em 2007?, afirmou o sócio-proprietário da Sial, Edenilson Rossi Arnaldi.
Segundo o empresário, a intensificação de obras pelo governo neste período não é apenas uma estratégia política, mas o resultado de um ?calendário administrativo eleitoral.? ?O primeiro ano de governo costuma ser de planejamento, regularização. As obras começam de fato apenas a partir do segundo semestre do segundo ano de governo?, apontou. ?Além disso, a obra tem um tempo de maturação entre o projeto e a licitação, que leva um ano no mínimo.? No caso da Sial, as obras públicas em 2003 e 2004 ficaram praticamente paralisadas e só foram retomadas a partir do segundo semestre do ano passado.
Atualmente, a construtora está executando quatro obras públicas do governo do Estado: duas penitenciárias – uma em Francisco Beltrão e outra em Foz do Iguaçu -, o Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá e a reforma do Hospital da Polícia Militar, em Curitiba. Todas as obras devem ser entregues ainda este ano.
Apesar de sofrer menos com o baixo crescimento da economia e a taxa de juros elevada – quando comparado ao segmento imobiliário -, o setor de obras públicas tem suas dificuldades, segundo Rossi. ?Ao longo dos últimos quinze anos, o volume de recursos públicos aplicado na construção civil vem caindo. É o reflexo de um País que não cresce?, criticou. Outros problemas, segundo ele, é a concorrência acirrada e, em alguns casos, problemas com falta de pagamento.
Sinduscon-PR projeta crescimento para o setor
Com base nos dados do primeiro semestre, a projeção de crescimento da construção civil apresentada no final do ano passado pela diretoria do Sinduscon-PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná) deve se concretizar. ?Se analisarmos pelo ponto de vista do licenciamento de novas construções (a emissão de alvarás), eu diria que está estável. Mas a área de vendas melhorou: a velocidade de vendas saiu de 6,7% no ano passado para 10% este ano?, apontou Hamilton Pinheiro Franck, presidente em exercício do Sinduscon-PR.
O aumento do crédito imobiliário também tem beneficiado o setor. ?Hoje não se pode dizer que falta crédito para compra de um imóvel. Os juros estão caindo e há bancos financiando durante 20 anos com prestações fixas?, afirmou. ?É preciso desmistificar a idéia de que o crédito imobiliário gera um saldo altíssimo, como ocorreu no passado devido às ?canetadas políticas.??
Para Franck, apesar das boas expectativas, o baixo crescimento da economia é um dos fatores que tem dificultado maior dinamismo do setor. ?É preciso que haja recuperação da economia. Existe a questão do real valorizado, que tem afetado os exportadores; no caso do Paraná, há problemas na agricultura, esse período de estiagem, a importação de energia elétrica?, apontou.
Sobre as obras públicas, Franck observou que de fato são elas que têm puxado o setor este ano. ?Por ser um ano eleitoral, o setor de obras públicas é o que mais tem crescido na construção civil. Não deveria ser assim; essas obras deveriam ocorrer sempre?, arrematou ele.
