Segundo a Ashoka, uma organização mundial sem fins lucrativos cuja missão é contribuir para criar um setor social empreendedor, eficiente e globalmente integrado, havia cerca de 250 mil organizações do Terceiro Setor no Brasil. Este levantamento foi feito em 2001 e naquela época essas instituições eram responsáveis pela movimentação financeira equivalente a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. O número também demonstra enorme potencial de crescimento, pois o Terceiro Setor movimenta 6% do PIB em países da Europa e nos EUA. Hoje, o setor possui cerca de 12 milhões de pessoas, entre gestores, voluntários, doadores e beneficiados por entidades.
O assim chamado Terceiro Setor é representado pelas organizações sem fins lucrativos e não governamentais, que têm como objetivo gerar serviços de caráter público. É assim denominado para ser diferenciado do primeiro setor (governo) e segundo setor (empresas). O termo foi criado por pesquisadores norte-americanos nos anos 70, apontando que há uma terceira via, uma maneira da sociedade civil organizada mobilizar os outros setores e, conjuntamente, atender às demandas sociais.
?Por muito tempo, o trabalho dessas instituições que atuam no Terceiro Setor foi de prestar assistência, dar conta das mazelas sociais que o Estado não conseguia. Hoje, percebemos que há uma movimentação buscando a transformação do quadro social e não apenas a resolução imediata do problema. Há o envolvimento com a transformação social e assim o Terceiro Setor se articula para propor soluções, mobilizando governos e empresas?, analisa Fernanda Rocha dos Santos, coordenadora do Centro de Ação Voluntária de Curitiba (CAV). Há dez anos, a instituição atua organizando a demanda do serviço voluntário em Curitiba e região metropolitana, atuando com empresas, instituições sociais e voluntários. Para Fernanda, a década de trabalho na área social acumulado pelo CAV proporcionou a visão deste panorama e agora aponta para novas necessidades: ?É preciso que a ação social se transforme, tenha seu caráter alterado de meramente assistencialista para transformador, comprometido com a superação de problemas que há anos nos acompanham. E nesse sentido, o Terceiro Setor contribui com suas experiências inovadoras, apontando e cobrando novas atitudes dos outros setores?, explica.
Integram o Terceiro Setor instituições como as organizações não governamentais (ONGs) e as Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público). Além disso, fazem parte também movimentos sociais e organizações que não tenham interesse econômico e que trabalhem para o bem comum. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6,8% da população brasileira desenvolvem algum tipo de trabalho não remunerado, ou seja, exercem algum trabalho voluntário em instituição religiosa, beneficente ou de cooperativismo. Os números foram obtidos a partir dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2006 e por mais que ainda seja um número baixo em comparação a outros países, são cerca de 12 milhões de pessoas oferecendo seu tempo, trabalho e talento em benefício de uma causa.
Outras instituições de atuação social, como as fundações empresariais, também são contabilizadas quando falamos em Terceiro Setor. De acordo com o Grupo de Instituições, Fundações e Empresas (Gife), dos 101 investidores sociais associados ao grupo, o investimento em projetos sociais, culturais e ambientais foi de cerca de R$ 1 bilhão. Isso equivale a 20% do que o setor privado nacional destina à área social – cerca de R$ 4,7 bilhões, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A área priorizada pela rede para o investimento social privado é a Educação, somando cerca de R$ 124 milhões em 2005.
Crescimento implica em profissionalização do setor
Fernando Rossetti, secretário geral do Gife: ?O trabalho social deve provocar transformações concretas na sociedade?. |
Para o secretário geral do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), Fernando Rossetti,?o fortalecimento da responsabilidade social na sociedade civil talvez seja hoje o movimento mais importante para a construção da democracia e, certamente, para a condução da humanidade a um futuro sustentável?. Segundo Rossetti, uma das dificuldades encontradas nesse tipo de trabalho está na definição dos conceitos. ?A área está se construindo de maneira recente, por isso, são várias palavras que precisam ser esclarecidas. Porém, que devem confluir para um único propósito: a mudança de visão de que o trabalho social deve provocar transformações concretas na sociedade?, conta.
Ele relata que o grande ?boom? do Terceiro Setor aconteceu na década de 90 e, em menos de duas décadas cresceu em números que, segundo Rossetti, ainda não são satisfatórios, mas são impactantes. ?Pesquisa feita em 2005 mostra que os investimentos nesta área somam R$ 4,7 bilhões, o que equivale a 5% do PIB brasileiro?, revela Rossetti.
Outro número que avaliza esse salto é o destino dos investimentos. De acordo com Rossetti, 87% das empresas brasileiras desenvolvem e destinam recursos para projetos próprios. Os outros 13%, afirma ele, simplesmente doam o dinheiro e não se envolvem na formatação dos programas.
Ele diz que a ampliação do movimento de responsabilidade social tem levado a outra mudança no cenário do Terceiro Setor: a profissionalização também cresce em ritmo acelerado. ?Já são cerca de 1,5 milhão de trabalhadores formais atuando no setor. São profissionais especificamente formados para trabalhar nesta área?, diz. Rossetti defende que essa profissionalização do Terceiro Setor é necessária para que não haja só quantidade de entidades, empresas e organizações fazendo responsabilidade social, mas também qualidade e estratégia na execução.
Para que esse desenvolvimento continue, Rossetti aponta quatro grandes desafios a serem vencidos pelas empresas que querem investir. O primeiro é definir em que categoria de conceitos as ações desenvolvidas pela empresa se enquadram: assistencialismo ou caridade; multiprojetos – desenvolve diferentes projetos para várias ou uma única comunidade; busca de foco – direciona o investimento para um único projeto; estratégica – planeja exatamente onde e como aplicar; políticas públicas – trabalha com tecnologias sociais. O segundo desafio é trabalhar com os resultados, saber como monitorar e levantar indicadores e índices comparáveis. O terceiro é a profissionalização do processo, definindo missão, ação, visão, planejamento estratégico. ?Esta fase é mais profissional que voluntariosa e delimita funções como se fosse uma empresa?, afirma Rossetti. O quarto e último desafio, segundo Rossetti, é trabalhar em escala com políticas públicas.