A Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal nesta sexta-feira, 17, revelou uma série de artimanhas de frigoríficos para ‘encorpar’ os produtos que levavam ao mercado para consumo público.
Na lista dos ‘ingredientes’ usados estão cabeça de porco, a substância cancerígena ácido ascórbico, papelão e aditivos.
VEJA O QUE A OPERAÇÃO ENCONTROU:
CARNE PODRE
Uma médica veterinária, responsável técnica pelo controle de qualidade do frigorífico Peccin, em 2014, relatou aos investigadores que o fiscal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Tarcísio Almeida de Freitas ‘era o responsável por receber e fiscalizar os insumos comprados pela empresa, sendo que sempre constava em seus relatórios que o procedimento estava dentro da legalidade, quando na verdade não estava’. A testemunha disse que eram usados ‘outros produtos mais baratos para substituir a carne na fabricação dos produtos agropecuários’, relatou a utilização de carne mecanicamente separada (CMS) na fabricação dos produtos, no lugar da carne regular.
“Esclarecendo que sequer chegou a existir a entrada real de carne na empresa, exceto os carregamentos de carne estragada que presenciou a empresa receber”, declarou.
Segundo a testemunha, a Peccin também comprava notas fiscais falsas de produtos com SIF (Serviço de Inspeção Federal) para justificar as compras de carne podre, e usava ácido ascórbico para maquiar as carnes estragadas.
SUBSTÂNCIA CANCERÍGENA
A investigação destaca que uma auxiliar de inspeção da Peccin, entre agosto de 2013 e setembro de 2014, ‘atestou a existência de diversas irregularidades na empresa, como a utilização de quantidades de carne muito menor do que a necessária na produção de seus produtos, complementados com outras substâncias, a utilização de carnes estragadas na composição de salsichas e linguiças, a ‘maquiagem’ de carnes estragadas com a substância cancerígena ácido ascórbico, carnes sem rotulagem e sem refrigeração, além da falsificação de notas de compra de carne’.
CARNE DE PORCO
A Carne Fraca capturou uma conversa entre os sócios Idair e Nair Piccin em 8 de março de 2016 ‘acerca da utilização de carne de cabeça de porco, sabidamente proibida, na
composição de embutidos’.
“Mesmo cientes da proibição de utilização de carne de cabeça na linguiça, Idair ordena que sejam comprados 2.000 quilos do produto para a fabricação de linguiças”, destaca a investigação.
REEMBALAGEM DE PRODUTO
O fiscal agropecuário Daniel Gouvêa Teixeira, servidor federal que relatou à Polícia Federal a ocorrência de cobrança de propinas por agentes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e fraudes como uso de carne apodrecida por frigoríficos, afirmou em depoimento que funcionários da empresa BRF S.A. lhe informaram sobre irregularidades na empresa. Segundo a investigação, o fiscal Antonio Carlos Prestes descobriu ‘a venda irregular de produtos alimentícios (absorção de água em frango superior ao índice permitido e reembalagem de produtos inadequados para a venda, ocorrida em 22 de novembro de 2015)’.
CARNE VENCIDA
Grampo da Polícia Federal flagrou Paulo Rogério Sposito, controlador do Frigorífico Larissa, conversando com um funcionário. Segundo a investigação, o dono do Larissa ‘não demonstra qualquer surpresa com a substituição de etiquetas de validade em uma carga inteira de carnes de barriga ou com a utilização de carnes vencidas há 3 meses para a produção de outros alimentos (se é que se pode chamar de alimento algo composto por restos não mais aptos ao consumo humano)’.
SALMONELA
Em diálogo interceptado pela PF, o agente de inspeção federal Carlos César, presidente Associação dos Técnicos de Fiscalização Federal Agropecuária, e o auxiliar operacional em agropecuária Carlos Augusto Goetzke, o Carlão, ‘conversam sobre a contaminação de uma carga de carne de peru por salmonela, que teria retornado da Europa, provavelmente por não ter sido aceita’.
A Operação Carne Fraca identificou que 18 toneladas de peru com salmonela teriam sido levadas para o frigorífico Santos e ‘eles teriam que ir lá para liberar a carga, mesmo sabendo que a carne estava contaminada’.
“Carlos Cesar ainda sugere que a carne podre serve para fazer mortadela, ao que Carlão acha melhor colocar no ‘digestor’ para fazer ração”, destacam os investigadores.
ADITIVOS
A Carne Fraca afirma que havia ‘falcatruas’ no frigorífico Peccin ‘para não desperdiçar alimentos podres, vencidos, doentes e mal estocados. Laudo da Polícia Federal, ‘ao examinar produtos da empresa Peccin vendidos em estabelecimentos comerciais de Curitiba (salsichas e linguiças), concluiu que a sua composição está em desacordo com a legislação brasileira vigente, extrapolando os valores máximos para analito amido e nitrito/nitrato, e com aditivos não previstos pela legislação e não declarados no rótulo das amostras’.
PAPELÃO
Os investigadores da Carne Fraca descobriram que a organização criminosa lançava mão do prosaico papelão para ‘robustecer’ salsichas e congêneres. Tiras do material eram esmagadas e adicionadas ao produto que chegava à praça prontinho para o consumo.