O Brasil está se tornando o país do salário mínimo. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), usados freqüentemente pelo governo como indicador da dinâmica da geração de postos de trabalho no País, indicam que praticamente todos os empregos formais criados neste ano têm remuneração de até 1,5 salário mínimo. Entre janeiro e outubro, 1,5 milhão de postos de trabalho com carteira assinada foram abertos. Destes, 1,4 milhão não pagam mais que R$ 525, correspondendo a 96% das vagas abertas.
No mesmo período de 2005, a proporção era de 79%.
?Os números mostram a aceleração do processo de achatamento da classe média no Brasil, com a maior polarização dos trabalhadores entre pobres e ricos?, diz o economista Márcio Pochmann, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, autor do estudo sobre remuneração de empregos com carteira assinada no País. O número de empregos formais abertos este ano representa o saldo da contratação de 1,6 milhão de trabalhadores com salários de até R$ 1.050 (três salários mínimos) e da demissão de outros 151 mil que ganhavam acima dessa faixa.
Na avaliação do economista, o atual achatamento salarial decorre do próprio modelo de crescimento do País, baseado na produção e exportação de bens e serviços de baixo valor agregado. Para piorar, o câmbio desfavorável às exportações, os juros ainda elevados e a pesada carga tributária levam cada vez mais empresas a cortarem custo com mão-de-obra.
?Setores mais afetados pelo câmbio, como as indústrias têxtil, calçadista e moveleira, têm que reduzir custos de qualquer maneira para continuar no mercado?, afirma o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto.
O processo de substituição de funcionários com salários mais altos por outros ganhando menos é facilitado pelo quadro desfavorável ao mercado de trabalho, observa o economista. Márcio Pochmann diz que o Brasil tem taxa de rotatividade anual de 43,6% , ou seja, três em cada sete trabalhadores trocam de emprego a cada ano. Na prática, a proporção é menor, porque muitos trocam mais de uma vez por ano.
Nos EUA e na União Européia, essa taxa está abaixo de 20%.