Depois de dois anos de gestação, o Bradesco lançou, em 2017, o banco digital Next. Responsável pelo projeto e um dos principais cotados para assumir a presidência do Bradesco a partir de fevereiro, o executivo Maurício Minas disse que, diante da concorrência no segmento, o projeto deverá sofrer ajustes. Apesar de o banco inicialmente ter insistido na cobrança de tarifas, Minas diz que, já nas próximas semanas, uma versão grátis do Next deverá ser lançada.
O vice-presidente de Tecnologia do Bradesco falou com o Estadão/Broadcast durante participação no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. Em relação à substituição do presidente Luiz Carlos Trabuco Cappi, o executivo afirmou que a decisão será tomada até o dia 10 de fevereiro. “Esta decisão está entre sete vice-presidentes – e esta é a regra do jogo”, afirmou Minas.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Após o lançamento do Next, o Bradesco continuará a investir em tecnologia?
Temos a cultura de que tecnologia é vital para a organização. O volume de investimentos tem crescido ano a ano. Em 2017, o total foi superior a R$ 6 bilhões e este ano vejo um crescimento em torno de 10% sobre essa cifra. O papel da tecnologia hoje não é só de sustentação de negócios, mas de criação de negócios.
Como estão os resultados do Next?
É um bom exemplo (de geração de negócios por meio da tecnologia). Por melhor que seja a oferta digital que temos no banco atualmente, alguns clientes não nos comparam com as mídias sociais às quais estão acostumados a usar. Então, decidimos criar um modelo digital focado na experiência do cliente, que é o Next, para mudar isso.
Como foi a captação de clientes do projeto?
O lançamento oficial foi em 30 de outubro. De lá para cá, já tivemos 700 mil downloads e, desses, cerca de 150 mil entraram na jornada de adesão para abrirem uma conta no Next. Acho que essa taxa de conversão vai aumentar.
O que impediu que os resultados fossem melhores?
O modelo de negócios previa uma taxa a ser paga, no valor de R$ 9,95 até R$ 29,95, mas o mercado mudou muito e todos os entrantes dos últimos dois anos colocaram isso no mercado grátis. Boa parte dessa não conversão do Next se dá quando o cliente percebe que tem de pagar. Então vamos mudar a estratégia e ofereceremos também uma categoria free (grátis) nos próximos 10 dias, no comecinho de fevereiro. É o mesmo conceito que há no banco tradicional: há certos limites, mas se consegue operar sem pagar nada com isso. Com isso, a taxa de conversão deve melhorar bastante. Achamos que teremos uma curva de crescimento de clientes bastante acelerada. E hoje consideramos que já é positivo.
Na Europa, já se vê bastante migração para esta forma de banco e recentemente houve o início do Open Bank. Como isso se dará no Brasil?
Este é o terceiro modelo potencial de negócios, que é mais disruptivo ainda. Na Europa, foi feito por regulação no último dia 13 de janeiro. No Brasil, será mais a distribuição de seus produtos na plataforma de terceiros. Há um produto, que é a conta corrente, e o cliente é do Bradesco. O terceiro desenvolve um aplicativo interessante e este app vai ter direito de acessar o cliente, que é meu, e o colocar naquela plataforma. Para o Bradesco, isso será um potencial negócio. E temos certeza que o regulador também tem interesse de que isso também se mova. Além disso, há uma parte da população que está disposta a abrir mão da privacidade em troca de benefícios. Realisticamente, é algo para acontecer no ano que vem.
E quando será lançado o Habitat, espaço de tecnologia do Bradesco?
A gente lança no dia 7 de fevereiro e ele não é apenas um espaço de coworking, onde a gente convida apenas as startups. Convidamos ainda as grandes empresas que também inovam – e tem gente da área farmacêutica, de manufatura e outros segmentos. Tem também os investidores e a academia, com universidades e consultorias lá dentro. Então é um ambiente de inovação e será instalado em um prédio do banco de 22 mil metros quadrados.
O senhor é um dos cotados para substituir o presidente Trabuco. Como está esse processo de seleção?
Esta decisão é do conselho do banco. O processo do banco é estruturado e natural. A sucessão tem uma regra do jogo bem conhecida: é a prata da casa, em um timing já definido. Só não foi feito dois anos atrás porque coincidiu com a compra do HSBC e foi importante ter o Trabuco à frente dessa operação. Passado esse evento tão importante para o banco, voltamos para o status quo normal. Esta decisão está entre sete vice-presidentes e esta é a regra do jogo. Até o dia 10 essa decisão será tomada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.