Quem nunca guardou algumas moedinhas no famoso porquinho? Hoje em dia, os bichinhos que servem de cofre são variados, e nem se quebra mais o material para conseguir ter acesso ao dinheiro.
Porém, muita gente ainda conserva o hábito de guardar os níqueis na esperança de, um dia, comprar algo valioso. Mesmo com a pressão do comércio e dos bancos para que elas sejam entregues.
A aposentada Maria Teresa Grofs, de 70 anos, que vive em Curitiba, por incrível que pareça já conseguiu comprar uma TV guardando R$ 400 em moedas. Mas o mais curioso foi que há cerca de oito anos ela adquiriu uma geladeira, também com o que tinha no seu cofrinho.
A geladeira custou menos de R$ 2 mil, ela a comprou numa promoção. Porém, a aposentada faz um alerta: é preciso guardar, mas fazê-las circular periodicamente para não prejudicar o comércio.
“Eu junto uns R$ 30, R$ 40 e deposito na poupança. Depois, quando preciso transfiro para a conta-corrente”, disse Maria Teresa. Agora ela diversificou o cofrinho: guarda não só moedas, mas também notas de R$ 1, que estão cada vez mais raras. “Nem sei quanto eu tenho agora, perdi as contas, preciso contar”, brinca.
Para conseguir guardar algo a pessoa tem que ser detalhista, ter paciência e não usar as moedinhas para nada, como Maria Teresa faz. “Eu não pago contas ou nem as uso para ajudar em troco, só guardo”, brincou.
As moedas têm um significado lúdico e também de poder. Na Antiguidade elas eram muito valorizadas na medida em que não eram apenas objetos de troca, mas também simbolizavam a civilização da qual pertenciam.
O economista e Especialista em Finanças Pessoais, Marcos Silvestre, lembra que a moeda fala, anda (quando você acha dinheiro na rua geralmente é em formato de moeda, quase nunca em nota) e cresce a olhos vistos.
“Ela cresce a olhos vistos porque nada é tão gostoso quanto você fazer um cofrinho. As moedas dão mais impressão de abundância do que se você juntar um bolinho de notas”, comenta.
Nesse sentido lúdico, as moedas resgatam a proximidade das pessoas com o dinheiro. “Hoje se usa muito o dinheiro de plástico, então guardar moedinhas beneficia o relacionamento que temos com o dinheiro”. Entre as crianças, então, isso pode ser ainda mais valioso.
“Para a educação financeira das crianças, guardar moedinhas é muito bom. Elas podem não ter rendimento como no banco, do ponto de vista do adulto, mas para as crianças sempre terá, pois elas assimilam a quantidade de moedas com a ideia de que o dinheiro está aumentando”, diz Silvestre.
Já para os adultos, é possível atingir objetivos, sim, somente com as moedinhas. “Só é preciso perseverança e tempo. Se você juntar 1% de sua renda mensal e puser na poupança, ao final de sua vida produtiva você conseguirá comprar um carro popular”, brinca o economista.
Guardar pode ser benéfico, mas falta de troco é prejudicial
Mas será que guardar moedinhas não seria prejudicial ao comércio? As opiniões dos especialistas divergem sobre isso. Para o economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Breno Lemos, guardar moedas é mais indicado para quem não tem disciplina para poupar. “Para educação financeira é ótimo, mas como produto financeiro não vale nada”, comenta.
Para ele, guardar moedas é prejudicial tanto para o comércio, como para algumas pessoas menos avisadas. “Ao invés de ficar guardando no cofrinho e rendendo 0%, que essa pessoa cubra o cheque especial. Claro que é importante poupar, porém, do ponto de vista geral, guardar moedas não faz a economia crescer. Talvez seja interessante somente para as crianças. Por causa desse hábito é que está faltando tantas moedas no mercado”, criticou.
Já na avaliação do economista Especialista em Finanças Pessoais, Marcos Silvestre, guardar moedinhas não será prejudicial para ,ninguém se elas forem trocadas periodicamente. “Você pode juntar um pouco, e depois trocar na padaria, dar um brinde para os filhos, etc. Penso que no geral o comércio está com liquidez”, afirmou.
Luiz Afonso Cerqueira, do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), diz que é interessante guardar as moedas, desde que elas sejam colocadas em circulação de tempos em tempos. Até porque é possível pagar pequenas contas com elas.
“É possível guardar hoje porque não temos inflação, o que não era viável há alguns anos. Penso que o brasileiro não tem o hábito de poupar e não dá valor para as moedinhas”, diz.
Cerqueira lembra que as moedas são uma boa opção para ensinar as crianças a poupar. “Quando elas tiverem 6, 7 anos, é interessante começar a dar uma ‘semanada’ para elas irem se habituando com o dinheiro. E isso pode começar com as moedas. Depois, quando elas forem maiores, inicia com a mesada”, orienta.