O FMI da América do Sul

Brasília

– O Brasil está estruturando nos bastidores a formação de uma espécie de Fundo Monetário Internacional (FMI) da América do Sul, que teria ainda as participações de Espanha e Portugal. O novo organismo terá como base o grupo Coordenação Andina de Fomento (CAF) que concede empréstimos aos países em moeda local com trâmite bem menos burocrático que FMI, Banco Mundial (Bird) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Por trás da articulação, o governo Lula está de olho nos cerca de US$ 7,5 bilhões que fazem parte da carteira da CAF e já negocia a mudança de uma cláusula que faz com que o Brasil deixe de ser membro extrazona, passando à condição de integrante permanente do grupo.

Na condição de integrante extrazona, o Brasil faz hoje um aporte de US$ 100 milhões na CAF e tem direito a sacar quatro vezes esse valor (US$ 400 milhões). Ao passar para a posição permanente, o País poderá multiplicar sua capacidade de contrair empréstimos em até US$ 2,050 bilhões. O governo está de olho neste dinheiro para deslanchar o Plano Plurianual (PPA), que passa a valer de 2004 a 2007, e para ficar menos dependente do FMI.

“O Brasil, embora não seja integrante permanente da CAF, é um grande tomador de recursos do grupo. Desde 1994, já pegou US$ 1,2 bilhão”, disse o chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, José Carlos da Rocha Miranda.

Ele afirmou que o segundo passo da estratégia brasileira será propor a fusão entre a CAF e o Fundo da Bacia do Rio do Prata (Fonplata), que se tornariam uma única instituição financeira para a América Latina. A CAF hoje tem como membros permanentes os países andinos. Já o Fonplata – cujos ativos somam em torno de US$ 370 milhões – tem como integrantes os países do Mercosul. A Espanha já participa do fundo como convidada e Portugal também está sendo cooptado.

“As negociações ganharam grande impulso durante a reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Milão (Itália). Foi uma importante vitória do ministro do Planejamento, Guido Mantega”, ressaltou Miranda.

Para Miranda, no caso do Fonplata, a grande vantagem é que a instituição costuma financiar projetos de varejo, principalmente de interesse das prefeituras e governos estaduais. Miranda disse que os estados que mais têm se beneficiado são o Rio Grande do Sul e Mato Grosso.

As conversas já estão bastante avançadas e o assunto foi tratado, no fim da semana passada, por Mantega e o presidente da CAF, Enrique Garcia. Aliás, Garcia tem afirmado que vê com bons olhos a expansão da carteira da CAF e a fusão com o Fonplata.

O uso do dinheiro da CAF para financiar o PPA poderá, por tabela, ajudar no processo de integração sul-americana, iniciado pelo governo anterior e tido como prioridade pelo presidente Lula. Um levantamento realizado pelos governos da América do Sul, concluído no fim do ano passado, identificou 123 projetos de integração na área de infra-estrutura que estão sendo executados e que receberão investimentos de US$ 40 bilhões nos próximos anos.

Mas tudo isso deve ser feito em parceria com o setor privado. Por essa razão, outra proposta apresentada por Mantega na reunião de Milão foi a expansão do leque de financiamentos do BID para a classe empresarial. Pelo menos, enquanto não se concretizar a idéia da criação do novo organismo de crédito sul-americano.

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