O desafio da nova geografia econômica

Ao abrir oficialmente a Cúpula América do Sul-Países Árabes na manhã de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o encontro irá iniciar ?um novo capítulo? para as duas regiões, como uma oportunidade histórica de cooperação entre a América do Sul e o mundo árabe.

?Nosso grande desafio é desenhar uma nova geografia econômica e comercial internacional. Podemos traçar novos rumos na busca do desenvolvimento, sem desconsiderar caminhos tradicionais, mas com autonomia, criatividade e ousadia. Mas esse esforço só será recompensado se soubermos transformar os frutos do desenvolvimento em instrumentos eficazes para diminuição das desigualdades sociais, a promoção dos direitos humanos e o aperfeiçoamento das instituições democráticas.?

Segundo Lula, o encontro é uma demonstração de confiança no diálogo como forma de aproximar países distantes, culturas distintas e percepções diferentes do mundo. ?Ele expressa a confiança no poder do conhecimento mútuo como fator de aproximação e entendimento?, afirmou.

Os países presentes ao encontro, segundo Lula, também teriam em comum a tolerância e o culto à diversidade. ?Queremos dar passos concretos e duradouros na luta pelo desenvolvimento e pela justiça social?, afirmou o presidente. ?Defendemos a democratização dos organismos internacionais para que a voz dos países em desenvolvimento seja ouvida?, reiterou.

A realização da cúpula, segundo Lula, além de abrir e revitalizar os canais de comunicação entre as duas regiões, demonstra que os países presentes foram capazes de vencer o ?ceticismo? dos que acharam que os países da América do Sul e do mundo árabe não seriam capazes de trabalhar juntos.

Terrorismo

O documento final da Cúpula América do Sul-Países Árabes, que será assinado pelos chefes de Estado e de governo participantes do evento, fará uma condenação clara ao terrorismo, informou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O chanceler brasileiro coordenou na segunda-feira reunião com mais de 30 ministros árabes e sul-americanos para consolidar o texto do documento que esteve em debate durante todo o dia de ontem.

Amorim disse que, além da condenação ao terrorismo, o documento terá um parágrafo sobre ?o direito à resistência à ocupação estrangeira, de acordo com o direito humanitário internacional?.

?O terrorismo é condenado de maneira clara, num outro parágrafo fala-se do direito à resistência à ocupação estrangeira de acordo com o direito humanitário internacional, aí cada um lerá da maneira que tem que ser lido?, diz Celso Amorim. A pedido dos argentinos, o documento também trará uma referência às Ilhas Malvinas, ocupadas pela Inglaterra e reivindicadas pela Argentina. Haverá uma crítica à recente inclusão em tratados europeus das Malvinas como território britânico. 

Tratado prevê área de livre comércio

Os países membros do Mercosul assinaram ontem um tratado econômico com o objetivo de atingir uma área de livre comércio com os países membros do Conselho de Cooperação do Golfo – integrado pela Arábia Saudita, Bareine, Catar, Coveite, Iêmen e Omã. Por meio do Acordo-Quadro de Cooperação Econômica, os países envolvidos vão negociar listas de produtos de preferência tarifária para intensificar as suas relações comerciais.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, evitou fixar um prazo para o livre comércio entre os dois blocos, mas afirmou que o comércio entre o Brasil e os países árabes, hoje estimado em US$ 8 bilhões (cerca de R$ 19,7 bilhões), pode saltar para até US$ 20 bilhões (cerca de R$ 49,3 bilhões) em dois ou três anos.

Mesmo que as negociações sobre as listas de produtos e até mesmo o livre comércio ainda levem algum tempo, Amorim considerou que o ?final político? dado pelo acordo já gera uma mudança no comportamento do comércio entre esses países.

Segundo o ministro, o acordo entre o Mercosul e os países da Comunidade Andina, por exemplo, provocaram um aumento de 50% do comércio entre os blocos no ano passado antes mesmo da diminuição das tarifas entre os blocos entrarem em vigor.

Apesar de o acordo ter sido assinado apenas com os países do Mercosul, Amorim disse que irá defender a participação dos demais países da América do Sul como observadores desse acordo. ?É um grande acordo, um acordo pioneiro. Tem muita gente querendo assinar um acordo com a comunidade do Golfo e o Mercosul está sendo o primeiro?, comentou.

Amorim também declarou que, de 2003 para 2004, após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Oriente Médio, as exportações brasileiras para os países árabes aumentaram 47%. ?Acho que um acordo como esse propicia que aumente muito mais?, acrescentou.

Venezuela

O presidente da Venezuela Hugo Chávez apontou ontem o que chamou de ?caminhos? que considera essenciais para o fortalecimento das regiões sul-americana e árabe. O primeiro deles seria a integração dos países produtores de petróleo nas duas regiões.

?A área energética é um ponto que merece atenção de vários países aqui reunidos. A Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) é um exemplo de sucesso de como é possível conseguir acordos apesar das diferenças políticas e geográficas?, acredita Chávez. ?Também precisamos ampliar as nossas alianças no setor de comunicações, integrando as televisões para que nossos povos se conheçam. Só assim daremos continuidade a projetos de integração.?

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