Número de cheques sem fundo é o maior desde 91

São Paulo

– O número de cheques sem fundos voltou a crescer em todo o País e bateu recorde histórico no mês passado. De acordo com levantamento divulgado ontem pela Centralização de Serviços dos Bancos (Serasa), 3,27 milhões de cheques foram devolvidos pela segunda vez por falta de fundos em maio, o que corresponde a 17,6 cheques sem fundos a cada mil compensados. Foi a maior taxa desde 1991, quando a pesquisa começou a ser divulgada. Em maio de 2002, o índice de devolução estava em 14,9 cheques sem fundos por mil compensados.

Dados do Banco Central mostram que a soma dos valores dos cheques devolvidos por falta de fundos atingiu R$ 5,4 bilhões só em abril, R$ 200 milhões a mais do que em igual período de 2002. No acumulado de 12 meses até abril, o montante chega a R$ 58 bilhões, ante R$ 57 bilhões ao longo do ano passado. O total do calote equivale a mais do que o valor inicialmente previsto no orçamento deste ano para toda a área social do governo Lula, de R$ 40,4 bilhões. Os números do BC referem-se aos cheques devolvidos por insuficiência de fundos na primeira apresentação.

Para o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique Almeida, o recorde de maio nos cheques sem fundos ainda reflete as compras do fim do ano. Segundo ele, parte do problema foi causado pelo alongamento dos prazos de aceitação dos cheques pré-datados, que chegaram a 12 meses. “Com a elevação dos juros a queda na renda e o aumento do desemprego, os consumidores não conseguiram honrar seus compromissos.”

De acordo com o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Abram Szajman, a pesquisa da Serasa confirmou as expectativas do varejo, que já esperava um aumento da inadimplência. Além do achatamento dos salários, parte da renda do consumidor vem sendo engolida pelas tarifas e preços dos serviços públicos, como água, luz e telefone. “Enquanto o reajuste dos salários não repõe as perdas com a inflação, as tarifas são corrigidas na base de 20% a 30%. O resultado é que há menos dinheiro no orçamento das famílias para consumo e pagamento de compromissos já assumidos.”

Um dos setores que vêm sofrendo com o calote nos cheques é o de supermercados. Segundo o presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Sussumu Honda, o número de cheques devolvidos chega hoje a 30 para cada mil recebidos. “Estamos procurando substituir o uso de pré-datado pelo cartão de crédito próprio, que é muito mais seguro e confiável, apesar de mais caro”, diz Honda, ressaltando que o pagamento com cartões de crédito e de débito já responde por 30% das vendas dos supermercados.

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