A reedição do programa de redução de jornada e salário em estudo no governo deve ter diferentes níveis de adesão em cada setor. Alguns avaliam que não deveria ser incluída a exigência da contrapartida de preservar o emprego na nova rodada do modelo, porque parte das empresas podem preferir demitir agora em vez de embarcar na medida que as impediria de fazer cortes no período de estabilidade.

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No modelo em estudo, o governo quer que, após o fim da redução de salário e jornada, haja estabilidade no emprego pelo mesmo período do programa (até quatro meses), formato semelhante ao que aconteceu na versão que vigorou em 2020.

Entre os mercados que mais pediram a reedição do programa estão os restaurantes e a hotelaria, que também foram alguns dos maiores alvos da crise.

Orlando Souza, presidente do FOHB (operadores hoteleiros), defende que uma nova rodada venha sem a previsão dessa estabilidade temporária posterior para o funcionário que tiver jornada reduzida ou contrato suspenso. “A regra joga para frente um passivo que não sabemos se haverá fôlego para pagar”, afirma.

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Segundo Fernando Blower, diretor da ANR (associação dos restaurantes), a situação é tão grave no setor, que há dificuldade até para pagar custos de demissão.

Para Eduardo Sanovicz, presidente da Abear, associação de companhias aéreas, é preciso esperar para ver o que vem na próxima edição do programa antes de avaliar o que seria adequado. Na vez passada, as empresas fizeram acordos com os sindicatos de aeronautas e aeroviários para trocar a redução de jornada e salário por manutenção dos postos de trabalho.

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José Roriz Coelho, da Abiplast, diz que o interesse das empresas pelo novo programa vai depender do compromisso que tiver de ser assumido por elas. Algumas encerraram há poucos meses o prazo da contrapartida da manutenção do emprego do ano passado e estão no momento de decidir se vão fazer demissão já ou se vale a pena entrar novamente.

Para a indústria de eletroeletrônicos a medida vem como um alívio, segundo Humberto Barbato, presidente da Abinee (associação do setor), mas o cenário é outro. Aqui, o índice de confiança do empresário está mais alto, e a expectativa de demissões, longe do radar. Existe no setor uma perspectiva de travessia do deserto, com mais de 80% dos empresários acreditando em crescimento em 2021. “Como não sabemos ainda por quanto tempo teremos de conviver com a pandemia, porque a vacinação vai demorar, isso é importante para proteger os empregos”, diz Barbato.

Na indústria farmacêutica, a avaliação é que a primeira versão do programa no ano passado teve pouca adesão no setor, e ficou mais restrita às funções de vendas. Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma, afirma que as maiores dores da indústria hoje são o dólar alto e o custo dos insumos, outros problemas que poderiam ser atacados, segundo ele. “O foco deveria ser vacinar a população para as pessoas poderem trabalhar. O governo precisa gerar estabilidade”, diz Mussolini.

No setor da construção, José Carlos Martins, da Cbic, também diz que poucas empresas aderiram na primeira rodada porque o trabalho ao ar livre nos canteiros não foi suspenso.