São Paulo – Miguel Sampol Pou, diretor-geral da Klabin, uma das maiores fabricantes de papel do País, já desengavetou um projeto que começa em janeiro de 2004 e deve adicionar 50 mil toneladas à produção anual de 1,5 milhão de toneladas de papel da empresa, um terço dos quais destinado ao mercado externo. Não precisava. Afinal, a Klabin tem dez fábricas, e sua produção atinge hoje 70% da capacidade total da empresa. Pou está de olho na retomada da economia prevista para 2004 e não quer perder as exportações conquistadas nos últimos dois anos devido ao mercado interno fraco e ao dólar valorizado.
– As exportações de papel para embalagem subiram 15% e as de papel para cartões, 45%. É um patrimônio conquistado que não podemos perder – diz Pou.
A decisão do empresário está sendo seguida em maior ou menor grau por várias indústrias brasileiras, que enxergaram no crescimento vigoroso das exportações nos últimos dois anos uma janela permanente de oportunidade de vendas.
– O que estamos assistindo é o fim da gangorra que fazia as empresas venderem lá fora o que excedia a produção que abastecia o mercado interno, quando as vendas estavam fracas. Quando o mercado interno ficava mais forte, desviava-se a produção destinada à exportação para abastecer o País. Agora, exportação e mercado interno serão complementares – diz o economista Antônio Barros de Castro, ex-presidente do BNDES e professor da UFRJ.
Os setores mais empenhados são justamente aqueles próximos de 100% de uso da capacidade, como o siderúrgico e o de mineração. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), cuja capacidade esbarra nos 100%, prepara-se para tirar do papel dois megaprojetos de ampliação. De acordo com o diretor de investimentos da CSN, Lauro Rezende, o primeiro projeto se destina a triplicar a produção de minério de ferro da mina Mesa de Pedra, em Minas Gerais, que passaria das atuais 15 milhões de toneladas ao ano para 46 milhões de toneladas. O projeto inclui também a construção de um novo porto, provavelmente em Sepetiba.
– Quando decidimos investir para aumentar a capacidade é porque enxergamos que o mercado aqui e no exterior pode absorver esse acréscimo – diz o diretor da CSN.
Um segundo pacote, a ser desengavetado em 2004, destina-se à instalação de um novo alto-forno na usina de Volta Redonda, o que permitirá um acréscimo de dois milhões de toneladas por ano em placas de aço, num investimento total de US$ 1 bilhão.
Mesmo empresas voltadas para a exportação, como a Vale do Rio Doce (que exporta 80% de sua produção), estão de olho no crescimento das vendas internas.
– Investimos para o mercado de minério de ferro. Aqui e lá fora. Este ano foram US$ 700 milhões em logística e na produção. Estamos a 100% da capacidade e, se o mercado interno reagir em 2004, temos que estar prontos para vender sem deixar de exportar – diz Nelson Silva, diretor comercial da Vale. O projeto imediato é a ampliação da capacidade de Carajás para abastecer as 12 minissiderúrgicas que operam ao longo da ferrovia de Carajás.
Segundo o presidente do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, a instituição já detectou que os setores de papel, celulose e siderúrgico estão apostando no crescimento do mercado interno, sem abrir mão das exportações.
– Os setores apresentaram seus projetos. E não estamos falando apenas de ampliação da capacidade de produção, mas também da construção de novas plantas – disse Lessa, que citou também o setor naval como uma grande promessa.