Rio
– O anúncio de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai mudar as regras para concessão de empréstimos – tornando-as mais brandas, adequadas a cada país e considerando os aspectos sociais e políticos – pode facilitar a vida do Brasil nas revisões do acordo já acertado e na liberação de dinheiro novo. Economistas acreditam que o benefício de um FMI mais condescendente poderia vir em várias frentes: social, macroeconômica e financeira.A adoção de metas sociais, como redução da pobreza, melhoria nos índices de alfabetização e até de indicadores de saúde, seria um avanço significativo na atuação do Fundo, de acordo com Antonio Licha, economista da UFRJ. Esse novo perfil reduziria os efeitos nocivos das políticas de ajuste fiscal impostas pelo Fundo para acertar as contas dos países em crise:
– Essa receita, única, aplicada a qualquer país, tem criado cenários de destruição semelhantes a um pós-guerra. Como em Argentina e Rússia.
Licha, porém, não acredita que haja condições da inclusão de indicadores sociais no acordo já fechado pelo Brasil com o Fundo em agosto, que destinou US$ 30 bilhões ao país.
– Com dólar em alta, aumentando o risco-país, e a bolsa de valores caindo terrivelmente, não há clima para mudanças. Talvez depois das eleições, quando acabar o pânico que estamos vivendo, seja possível discutir algum indicador social, na revisão do acordo, em 2003.
O diretor do Centro de Estudos Mundiais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Langoni, acredita que programas com objetivos mais qualitativos e de longo prazo poderiam beneficiar o Brasil:
– Por exemplo, a relação dívida pública com o Produto Interno Bruto (PIB), que subiu muito com a crise cambial, poderia ser uma meta de longo prazo, não atrelada ao tempo do empréstimo, de um a três anos. As metas deveriam ser anuais e até dois anos, inclusive para inflação (atualmente, o acompanhamento é trimestral) – explica Langoni.
O tratamento especial para cada país é fundamental nessa mudança de postura do Fundo, de acordo com Langoni. Segundo ele, não se pode exigir o mesmo desempenho de um país em expansão e de outro com a economia estagnada.
Na opinião do diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Eustáquio Reis, essa intenção do FMI, por enquanto, só significa mais condescendência na liberação dos recursos, inclusive para países em crise, como a Argentina:
– Os critérios de desempenho não poriam em dúvida o acesso do país a linhas de crédito, dando mais tranqüilidade ao investidor.
