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Nem deu para sentir um
gostinho de preço baixo.

A Petrobras anunciou ontem um novo aumento dos preços dos combustíveis nas refinarias. A gasolina terá, a partir de hoje, um reajuste de 4,2% e o óleo diesel, de 8%. Este é o segundo aumento anunciado pela empresa em pouco mais de um mês e o terceiro do ano. No dia 14 de julho, o reajuste da gasolina foi de 10,8% e do óleo diesel de 10,6%. Três meses depois, novo aumento: de 2,4% sobre a gasolina e 4,8% sobre o diesel. Para os consumidores, este é o quarto aumento no ano, já que no dia 5 de novembro as distribuidoras elevaram o preço do álcool em 14%, o que levou a um aumento médio de 2,9% para a gasolina – que tem 25% de álcool em sua composição.

Desta vez, a Petrobras não fez estimativas sobre o percentual que deverá vigorar para o consumidor final nas bombas de derivados de todo o País, sob o argumento de que o mercado é livre e não há como prever qual será o reajuste. Mas estimativas de mercado indicam que a majoração deverá ficar em torno dos 3% para a gasolina e em cerca de 6% para o óleo diesel, mantidas as atuais margens de comercialização de distribuidoras e postos.

No Paraná, o impacto do aumento da gasolina para o consumidor deve ser de R$ 0,08 a R$ 0,10 por litro, segundo cálculo do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis no Paraná (Sindicombustíveis-PR). Já o litro do óleo diesel deve subir entre R$ 0,10 e R$ 0,12. "Pelo fato de os postos de Curitiba estarem trabalhando praticamente sem margem de lucro, o repasse (reajuste) deve ser quase imediato", afirmou Roberto Fregonese, presidente do Sindicombustíveis-PR.

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Antecipação

Antes mesmo do reajuste nas refinarias, muitos postos de Curitiba já haviam se antecipado à alta ontem. Um estabelecimento no bairro Mercês, que havia reduzido o preço da gasolina para R$ 2,01 no início da semana, aumentou para R$ 2,19 na tarde de ontem. "Muitos postos vinham praticando dumping (preço abaixo de custo). De qualquer forma, a gente esperava que os preços antigos fossem mantidos até hoje (ontem)", lamentou.

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Segundo Fregonese, o preço médio do óleo diesel no Paraná, antes do aumento, era de R$ 1,55 a R$ 1,57. Já o litro da gasolina, variava entre R$ 2,15 e R$ 2,20 no Estado. Mas em Curitiba, era possível encontrar gasolina sendo vendida até por R$ 1,97 o litro, por conta da concorrência entre os postos. "Os preços cobrados no primeiro dia depois do anúncio de aumento não são reais, só na próxima semana o mercado deve se estabilizar", afirmou.

Para Fregonese, este deve ser o último reajuste dos combustíveis no ano. "Não tem clima para subir mais uma vez", afirmou. Fregonese criticou ainda o aumento promovido pela Petrobras em outubro. "O mercado exigia um aumento muito maior na época, e o governo deu uma alta ridícula que não resolveu o problema da Petrobras. Agora, com o preço do petróleo em queda, o governo decidiu fazer esta alta", criticou Fregonese.

Já estão embutidos nos aumentos anunciados pela Petrobras a incidência da Cide e do Cofins, mas não a do ICMS. Segundo a Petrobras, os ajustes nos preços de realização da estatal, sem tributos, são de 7% para a gasolina e de 10% para o diesel, na média Brasil.

Petróleo

Os aumentos valem a partir da 0h de hoje e são motivados pelo aumento dos preços do petróleo no mercado internacional. Embora tenham recuado de um recorde de US$ 55,67 registrado na Bolsa Mercantil de Nova York em outubro para patamares próximos a US$ 49 ontem, o petróleo ainda justificava um aumento do preço interno da gasolina.

Segundo Alexandre Sant?Anna, da ARX Capital, os preços do petróleo vão ficar cada vez mais suscetíveis a condições climáticas nos Estados Unidos. "Já houve melhora na produção do Golfo do México e há ainda a reunião da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) prevista para o início de dezembro. Ainda não há uma tendência definida para o preço do petróleo, mas é difícil haver um novo reajuste neste ano", disse.

Aumento supera projeção do BC para o ano

Os aumentos parcelados da Petrobras não foram capazes de manter a alta da gasolina para o ano dentro das expectativas do Banco Central. A estimativa oficial era de um aumento de 9,5% no ano. Segundo projeções da Fecombustíveis, o aumento da gasolina para o consumidor deve ficar próximo de 12%.

Com relação à meta da inflação, o aumento de 4,2% da gasolina nas refinarias deve contribuir para manter a expectativa do mercado sobre o cumprimento da meta ajustada de 5,1% para o próximo ano e deve também reduzir as projeções de aumentos dos juros em janeiro, segundo analistas.

Para Adriano Pires, analista da consultoria Cbie (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), o aumento de hoje confirma o caráter político do reajuste anunciado em 14 de outubro. Segundo Pires, com o receio de causar um impacto maior na inflação deste ano, a Petrobras optou por parcelar os aumentos.

O analista afirma que a data de hoje foi escolhida a dedo para evitar a contaminação dos índices de preços em janeiro. "O aumento ajuda a cumprir a meta do ano que vem. Para evitar que a inflação fosse ?exportada? para 2005, o aumento deveria ocorrer até 30 de novembro", diz.

Lucros

Analistas avaliam que o aumento deve ajudar a alavancar os resultados da empresa no quarto trimestre. A Petrobras lucrou R$ 5,488 bilhões no terceiro trimestre, um resultado praticamente estável em relação ao mesmo período do ano passado, de R$ 5,361 bilhões.

"O aumento vai garantir que o lucro se equipare ao do ano passado. No trimestre anterior, o setor de abastecimento, onde se vê o resultado da venda de derivados, teve queda acentuada em razão da defasagem de preços", diz Pires.