O Nordeste enfrenta a pior seca dos últimos 50 anos. As chuvas estão escassas há quatro anos. A Federação da Agricultura e Pecuária do Piauí (Feapi) informou que houve perda de 20% das 1,7 milhão de cabeças de gado nos últimos dois anos como consequência da seca.

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O presidente da Feapi, Carlos Augusto Carneiro (também conhecido como o Caú), disse que cerca de 1 milhão de cabeças de gado foram remanejadas para regiões com pasto e água. “Foram levados da caatinga para o agreste até que as chuvas voltem”, disse o presidente. A situação só se agrava com a permanência da estiagem, falta de pasto, de alimentos e de água na superfície.

Ele acredita que tudo deve mudar até o fim do ano, quando começam as primeiras chuvas na região. Nessa época, volta o verde e o gado, e o agricultor se anima a plantar novamente. Mas o que se espera é a seca verde, quando a vegetação floresce, mas não produz. Essa situação atinge apenas o pequeno produtor e o trabalhador rural, que pratica a agricultura de subsistência.

Caú disse que os pecuaristas nessa região já estão se acostumando a conviver com a seca. O gado é criado solto, mas tem de ter o complemento com silagem ou ração. E esse suplemento normalmente é feito com milho, sorgo ou mandioca. No entanto, essa criação é mais cara, e muitos preferem levar o rebanho para pastar em outras paragens. O gado anda até 100 quilômetros para uma região onde tenha pasto e água.

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“Essa transferência tem de ser feita antes do rebanho estar debilitado”, advertiu. Se isso não for feito, o gado morre no percurso.

O presidente da Feapi disse que o rebanho pereceu diante da fome e sede por causa da estiagem que castiga o Estado. “Precisamos de pelo menos cinco anos para recuperar as perdas, se tivermos uma boa política de incentivos do governo”, declarou.

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Os criadores ainda acreditam numa parceria do Estado com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) para a construção de pequenas barragens no leito de rios e riachos perenes. Dessa forma, eles podem servir para irrigação e abastecer os animais. O problema é que atualmente, além do gado, estão morrendo caprinos e ovinos, animais mais resistentes à seca.

Bolsa Família

Com o quadro desalentador, é cada vez maior a dependência do Bolsa Família. Praticamente não existe mais plantio de subsistência no semiárido, por falta de água, escassa até para consumo humano. Não se vê mais roça na zona rural. Para o presidente da Feapi isso está ficando cultural.

“O agricultor de subsistência não planta mais, porque vai ter a cesta básica dele. E ele não tem a cultura de plantar para ganhar com isso. É preciso mudar essa mentalidade”, analisou.

Por outro lado, não houve a distribuição de sementes como normalmente era feita pelo governo, porque o agricultor não está plantando nem as culturas chamadas de sequeiro, como arroz, feijão, milho e mandioca.

Desabastecimento

Mesmo com toda essa situação, nem os pecuaristas nem os agricultores acreditam em desabastecimento de alimentos. “Se formos pessimistas e se não plantarmos, não faremos nada. O agronegócio é a base que sustenta a economia do País”, afirmou o vice-presidente da Feapi e presidente da Associação Brasileira de Produtores de Milho, Sérgio Bortollozzo.

Ele disse que quem planta monocultura utiliza tecnologia. São culturas irrigadas e a tendência é manter a mesma safra do ano passado. A safra brasileira foi de 206 milhões de toneladas no ano passado e este ano já é de 204 milhões de toneladas de grãos. A safra no Piauí foi de 3,2 mil toneladas de grãos e foi mantida, sendo que as áreas onde eram plantadas outras culturas como arroz, milho e feijão foram substituídas pela soja.

No entanto, Bortollozzo disse que houve redução de 20% na plantação de milho, 40% na plantação de algodão e as áreas dessas culturas foram substituídas pela soja, que tem um custo de produção mais baixo e está em alta no mercado internacional. Mas os produtores reclamam das condições e da falta de financiamentos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.