Brasília – Brasil e Argentina articulam participação no Fundo Latino-Americano de Reservas, que vem a ser um "embrião de FMI regional", conforme revelou nesta quarta-feira (15) o diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional, Paulo Nogueira Batista, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
Criado pelos países andinos, o Fundo Latino-Americano de Reservas teve adesão recente também de Costa Rica e Uruguai, e tende a funcionar como a rede de apoios bilaterais da Ásia, que envolve todos os países do sudeste asiático e conta com reservas de mais de US$ 80 bilhões, explicou Batista.
Essa movimentação na América Latina e na Ásia sugere, segundo ele, que "está havendo um pouco de fragmentação do sistema financeiro". E o FMI observa o avanço da cooperação regional "com uma certa intranqüilidade", porque embora essas organizações se apresentem como "complementares" ao Fundo, podem vir a ser também substitutas do Fundo, disse.
Segundo Batista, a rede de apoios bilaterais já é uma realidade na Ásia, enquanto aqui as negociações estão apenas começando. Ele citou como diferença de estilo cultural que os asiáticos "fazem muito e falam pouco", enquanto "nós fazemos um barulho enorme e atuamos pouco". E acrescentou que "aqui tem muita retórica, às vezes a gente esbarra em dificuldades operacionais que nos fazem avançar pouco".
O diretor disse acreditar, no entanto, que a entrada do Brasil e da Argentina no Fundo Latino-Americano de Reservas seria um passo decisivo na direção de um mecanismo complementar ao FMI. E considerou essa atitude importante para a sustentação regional em caso de crise, sem que os países tivessem que se subordinar a um sistema comandado dos Estados Unidos, sob influência americana e européia.Ele destacou ainda a importância para "preservar os laços de integração num momento de crise financeira, que poderá ocorrer, como estamos vendo nos últimos dias". Essa crise, disse, não se restringe mais ao mercado de hipotecas de alto risco, e já se espalhou para outros segmentos do mercado financeiro, o que revelaria "problemas mais complexos do que simples espasmos temporários".
Por isso, reiterou a necessidade de esquemas regionais de cooperação e compartilhamento de reservas como mecanismo de auto-proteção, em especial porque os agentes financeiros multilaterais ? como FMI, Banco Mundial e outros ? "estão a serviço de interesses que freqüentemente entram em conflito com os nossos".
O Fundo, concluiu, "tem seus pontos positivos, mas deixa muito a desejar; e espero que o Brasil não precise mais dele ? se soubermos trabalhar em conjunto com os países em desenvolvimento e explorar eventuais divergências entre os desenvolvidos, que às vezes se manifestam, o Brasil poderá paulatinamente aumentar seu peso e fazer valer a voz e influência dos países em desenvolvimento nas relações com o FMI".