O tamanho da recessão é motivo suficiente para usar uma meta de inflação ajustada para 2017, defendeu nesta segunda-feira, 13, o ex-diretor do Banco Central (BC) José Júlio Senna, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “No momento atual cabe meta ajustada”, afirmou Senna no Seminário de Análise Conjuntural Ibre/FGV.
Para Senna, isso será necessário porque os modelos estatísticos do próprio BC indicam que, dado o nível da inflação, nos cenários otimistas, para a inflação ficar na meta em 2017 não será possível baixar a Selic, taxa de juros básica da economia, hoje em 14,25%. Nos cenários pessimistas, seria necessário até subir a Selic para atingir a meta de inflação ano que vem.
Como, segundo Senna, há consenso que o sistema de metas de inflação inclui alguma flexibilidade e que o indicador alvo não deve ser atingido “a qualquer custo, o tamanho da recessão atual justificaria a flexibilização. “Postergar o cumprimento da meta em função da atividade econômica faz sentido. No caso atual, se a recessão não é argumento suficiente para postergar, nada mais é”, completou o pesquisador, destacando que, em nome da transparência, o BC não pode “ficar na moita” e simplesmente deixar de cumprir a meta em 2017, sem anunciar isso antes.
Senna reconheceu que a adoção de uma meta flexível para 2017 poderia arranhar a credibilidade da nova gestão do BC. Uma saída, segundo o pesquisador da FGV, seria, paralelamente ao anúncio da adoção da meta flexível, o Conselho Monetário Nacional (CMN) reduzir a meta de inflação para 2018, ainda que para 4,25%, apenas 0,25 ponto abaixo da atual.
Além disso, o plano só daria certo se o ajuste fiscal avançar. “Alguma coisa de ajuste fiscal seria entendido como pré-requisito para essa proposta”, ponderou Senna, completando que não se trata de fazer todo, ou quase todo, o ajuste, mas sim de dar “um encaminhamento” às propostas de reforma.