Uma tradição de décadas foi quebrada em 2018 no Brasil. Pela primeira vez desde 1982, operadores de bancos e corretoras não criaram um verdadeiro mercado financeiro paralelo ligado ao futebol: o de “Opções de Seleções”. Ao contrário do que ocorreu em copas anteriores, quando a negociação desses “ativos” chegou a movimentar alguns milhões de reais na base da confiança, nas últimas semanas nem parecia que a disputa estava para começar na Rússia.
A brincadeira começou no início da década de 1980, quando craques como Zico, Júnior e Sócrates integravam a seleção brasileira. Acostumados a apostar na alta ou na baixa de ações na Bolsa de Valores, operadores começaram informalmente a negociar contratos de “Gols da Copa”. Funcionava como uma espécie de contrato futuro de algum ativo, como um barril de petróleo ou uma ação da Petrobrás. Só que a referência era a quantidade total de gols marcados em cada Copa.
A negociação se dava sempre entre duas partes. Um operador “comprava” um contrato de 160 gols, por exemplo. Na outra ponta, outro operador “vendia” esse contrato de 160 gols. Se ao fim da Copa tivessem sido marcados 170 gols, o operador que comprou o contrato receberia a diferença em cruzeiros (10 gols = Cr$ 10) daquele que vendeu. Se o total de gols fosse de 146 (como de fato ocorreu na Copa de 1982), quem vendeu o contrato receberia a diferença de Cr$ 14.
Opções
Em todos os mundiais desde então, centenas de operadores negociavam dezenas contratos como esse, comprando e vendendo, semanas antes e também durante a Copa do Mundo. Formava-se, assim, um “mercado” que movimentava milhões. “Girava alguns poucos milhões, mas girava”, afirma o economista e professor Alexandre Cabral, que trabalhou 16 anos no mercado financeiro. Ele conta que, ao longo dos anos, o mercado de “Gols da Copa” deu lugar ao de “Opções de Seleções”. Nele, eram negociadas opções – um tipo de contrato financeiro – cujos preços variavam de zero a R$ 100.
Se um operador “comprasse” uma opção de Brasil a R$ 30, por exemplo, na outra ponta ficava o “vendedor” do contrato. No caso de o Brasil ser campeão, o comprador recebia R$ 70 do vendedor da opção (R$ 100 menos R$ 30). Se o Brasil não fosse campeão, o comprador ficava com o prejuízo dos R$ 30, porque a opção “virava pó”. E o vendedor embolsava os R$ 30.
Obviamente, a coisa ficava mais sofisticada por envolver operadores do mercado financeiro. Compradores de opções do Brasil revendiam esses contratos a terceiros antes de a Copa acabar, por preços maiores. Afinal, à medida que uma seleção passava de fase, o seu preço ficava mais alto.
Nas últimas semanas, o jornal O Estado de S. Paulo e o Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) consultou profissionais de bancos e corretoras para falar das Opções de Seleções. Mas o mercado não se formou. Às vésperas da Copa, ninguém sabia dizer quanto valia uma opção de Brasil. Para o consultor de investimentos Antenor Ramos Leão, que atua desde a década de 1970, o desânimo é justificado pelo desinteresse dos brasileiros pelo evento. Isso se reflete num 2018 sem Copa no mercado financeiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.