economia

No interior de Minas, crianças estão sem aula desde março

As crianças mineiras estão pagando a conta da crise fiscal do Estado. Há aquelas que estão sem aulas desde março e outras que, uma vez por mês, sempre que o salário de seus professores atrasa, também precisam ficar em casa por causa da greve dos docentes.

O Estado vive um caos financeiro, admite o próprio secretário da Fazenda de Minas, José Afonso Bicalho. Uma combinação de crise econômica, que freou a arrecadação, com explosão da folha de pagamentos levou Minas à crise fiscal atual, que já se assemelha à do Rio à do Rio Grande do Sul.

Na área da educação, o caso mais grave é na região do Vale do Mucuri, no nordeste de Minas. Lá, o transporte escolar, pago pelo Estado e operado pelos municípios, foi cancelado. Na cidade de Ladainha, onde a zona rural corresponde a 75% do município, o combustível para os ônibus escolares acabou em março e as crianças não conseguem chegar até as escolas, que atendem cerca de 3 mil alunos.

A agricultora Rosa Alves, de 42 anos, não sabe se os quatro filhos vão conseguir voltar às aulas até dezembro. “A gente sempre trabalhou na roça e sabe que a vida é muito difícil para quem não tem instrução. Queria que as minhas crianças tivessem uma vida mais fácil do que a minha, mas isso parece cada dia mais difícil. Todo dia, me perguntam quando vão voltar para a escola.”

“Este ano letivo já está praticamente perdido para as crianças”, diz o prefeito, Walid Nedir (PSDB). “Recebemos a verba do ano passado atrasada em fevereiro e conseguimos comprar combustível até março. Depois disso, ficamos sem condições. Como a maioria mora longe da escola, não vale a pena manter as aulas.”

O presidente da Associação Mineira de Municípios, Julvan Lacerda, prefeito de Moema pelo PMDB, afirma que R$ 6,7 bilhões em repasse às cidades do Estado estão atrasados. “Cerca de 70% dos municípios têm menos de 12 mil habitantes e dependem da verba repassada pelo governo estadual.”

Paralisação

Desde o último dia 6, os professores do Estado estão em greve. Em junho, eles também já haviam parado por 15 dias. “Já houve seis paralisações neste ano”, conta a professora Maria Luiza Mota, de 59 anos. Na última sexta-feira, ela recebeu R$ 1,5 mil, pouco menos da metade de seu salário. Até junho, o governo fazia, no início do mês, um pagamento de R$ 3 mil a todos os servidores – aqueles com salários maiores recebiam outras parcelas depois. Neste mês, a situação se agravou e o valor foi reduzido pela metade. “A gente paga nossas contas com juros, não tem outra solução”, diz Maria Luiza.

A professora tem ainda um consignado cujas parcelas são de R$ 235. Apesar de o governo estar descontando o valor do salário de Maria Luiza, tem atrasado o repasse para o banco. “Todo dia, recebo ligação de cobrança.”

A situação dos professores aposentados é ainda mais delicada. No começo de junho, quando deveriam ter recebido a primeira parcela do benefício, caíram só R$ 500 em suas contas bancárias. Segundo o governo, a greve dos caminhoneiros fez com que a arrecadação nos dez primeiros dias daquele mês diminuísse em R$ 340 milhões, prejudicando os pagamentos dos servidores inativos.

“Chorei quando vi só R$ 500 depositados. A dignidade vai lá embaixo. Enquanto isso, nos outros poderes, todo mundo ganha aumento”, diz a aposentada Rita de Cássia Gieseke, de 68 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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