O Paraná encerrou o mês de fevereiro com crescimento de 0,53% no nível de emprego – o que corresponde ao saldo de 9.147 vagas. Apesar da variação positiva, foi o pior fevereiro desde 2002, quando o crescimento foi de 0,38%. A elevação da taxa de juros há sete meses consecutivos é apontada como um dos fatores para a inibição de investimento e conseqüentemente da geração de novos empregos. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged/Ministério do Trabalho) e foram divulgados ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, regional Paraná (Dieese-PR).
?O crescimento de 0,53% é bom, mas poderia ser melhor não fosse a política econômica de juros elevados, que inibe os investimentos e gera menos empregos?, analisou o economista do Dieese-PR, Sandro Silva. Em fevereiro do ano passado, o crescimento havia sido de 0,74% (saldo de 11.755 vagas) e, em 2003, variação de 0,71% (10.770 vagas).
Depois de quatro meses seguidos em que a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) apresentou desempenho maior, o interior reverteu em fevereiro a tendência e fechou com variação positiva de 0,63% (6.634 vagas), contra o crescimento de 0,38% (2.513) da RMC. Em janeiro, a RMC havia gerado 4.099 empregos.
Apesar da reversão da tendência, a expectativa, segundo Sandro Silva, é de que a RMC apresente no ano desempenho maior que o interior. É que este ano, ao contrário do ano passado, os setores voltados para o mercado interno – como semi-duráveis e não-duráveis – devem ter melhor desempenho. ?O mercado interno deve sustentar a geração de empregos no Paraná?, apontou o economista. Como as indústrias ligadas a esses setores estão instaladas sobretudo em Curitiba e Região Metropolitana – enquanto o interior é voltado especialmente à agroindústria -, é este o resultado esperado.
Setores
Em fevereiro, os subsetores que mais empregaram foram Outros Serviços (segurança, vigilância, limpeza, recursos humanos), com 1.789 vagas, Ensino (1.479), Hotéis e Restaurantes (1.187), Transporte e Comunicação (1.094) e Comércio Varejista. Os piores desempenhos ficaram por conta da Agricultura (-0,23%, saldo negativo de 210 empregos) e Serviços da Indústria de Utilidade Pública (-0,99%, o que representou saldo negativo de 190 vagas).
Em comparação com outros estados, o Paraná ocupou a sexta posição no nível de emprego, acima da média nacional que ficou em 0,30%. Com o resultado de fevereiro, o número estimado de trabalhadores com carteira assinada no Estado é de aproximadamente 1,722 milhão.
No acumulado do ano (janeiro e fevereiro), o Paraná apresentou crescimento de 0,72%, com o saldo de 12.347 vagas. Os subsetores que mais empregaram no ano foram Outros Serviços (2.910 vagas), Transporte e Comunicações (1.708), Comércio Atacadista (1.432), Hotéis e Restaurantes (1.413) e Comércio Varejista (1.318). O desempenho negativo ficou por conta da Agricultura (-2.461) e Serviços da Indústria de Utilidade Pública (-149).
Para o mês de março, a expectativa é que o nível de emprego seja igual ou superior a fevereiro, segundo o economista do Dieese-PR. Historicamente, os maiores níveis de emprego são alcançados em abril e maio.
Reajustes salariais cobriram a inflação
Cerca de 87% dos acordos salariais fechados no ano passado no Paraná tiveram reajustes iguais ou superiores ao INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) – indicador normalmente utilizado como parâmetro para a recomposição dos salários nos processos de negociação. Foi o melhor desempenho da recomposição salarial desde 1996, quando o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) iniciou a pesquisa. O desempenho do Paraná ficou acima, inclusive, da média nacional, que foi de 81%.
?O Paraná segue a tendência nacional, mas com diferente magnitude?, observou o supervisor técnico do Dieese-PR, Cid Cordeiro. Segundo ele, o bom resultado de 2004 é reflexo dos movimentos sindicais. ?Em 2004, os trabalhadores foram à luta para recuperar as perdas salariais de 2003?, afirmou, referindo-se ao pior ano da série, quando apenas 41,6% dos acordos conseguiram zerar a inflação. Para o economista, o cenário econômico – com a geração de empregos, aumento das exportações e o crescimento da economia – também contribuiu com o resultado.
No Paraná, o Dieese analisou 485 acordos e convenções coletivas – ao contrário do Dieese Nacional, foram avaliados os acordos em sua totalidade, e não apenas uma amostra. Entre os setores que apresentaram os melhores resultados no Estado, destaque para a agricultura – 97% dos acordos foram iguais ou superiores à inflação -, comércio (93%) e indústria (92%). O setor com pior desempenho foi o de serviços (82%). Para o supervisor técnico do Dieese-PR, o setor de serviços apresentou o pior desempenho pela dificuldade de mobilização e ação sindical.
País
Em nível nacional, o melhor desempenho até então havia sido obtido em 2000, quando 66,7% dos acordos fechados conseguiram repor a inflação do período. A partir daí, o índice só caiu: para 62,8% em 2001; 53,5% em 2002 e 41,6% em 2003. Dos 658 acordos analisados pelo Dieese, 126 (ou 19,1%) não conseguiram repor a inflação. Em 2003, 57,7% dos acordos negociados obtiveram reajustes inferiores ao INPC.
Para fazer o levantamento, o Dieese compara os reajustes com a inflação pelo INPC porque esse é o indicador mais usado nas negociações salariais, além de servir de referência para reajustar o salário mínimo e as aposentadorias.
Para o supervisor do escritório regional do Dieese em São Paulo, José Silvestre de Oliveira, o balanço das negociações coletivas de 2004 é reflexo do ambiente macroeconômico. ?O ambiente mais favorável permitiu que as entidades [sindicais] conseguissem fechar acordos [salariais] mais positivos.?
No entanto, as centrais sindicais têm dúvidas sobre a continuidade em 2005 desse movimento de recomposição salarial verificado em 2004.
?Quando há crescimento econômico, emprego em alta e juro menor, o resultado da negociação salarial será melhor. Por outro lado, quando a gente começa a ter juro alto e piora do emprego, há sintomas de que as coisas podem piorar?, afirmou João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical. (Lyrian Saiki e agências)
