Correr atrás do prejuízo após uma recessão que consumiu 8% das riquezas produzidas pelo País exige pressa não só do ponto de vista macroeconômico, com o ajuste fiscal, mas também para que ativos reunidos pela economia até 2014 ainda possam ser aproveitados. De acordo com economistas consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo, do lado da capacidade ociosa da indústria, a retomada da operação dos equipamentos pode ser dificultada pelo fechamento das empresas às quais eles pertenciam. Já o desemprego prolongado pode gerar um desafio de treinamento de mão de obra.

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Enquanto parte dos equipamentos está à espera de novos pedidos em companhias ainda em funcionamento, a mortalidade de empresas no País foi alta na recessão: só em 2016, 70 mil negócios fecharam as portas, lembra Simão Silber, professor da USP. Dessa forma, explica ele, uma parcela dos ativos que estava em operação não poderá ser usada caso a retomada se concretize nos próximos anos.

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O mesmo raciocínio não se aplica à mão de obra. O desemprego está em 12,1% e, entre pessoas sem trabalho e exercendo atividades precárias, o total de trabalhadores disponíveis supera a marca de 27 milhões de pessoas. Trata-se de um contingente que, assim que as oportunidades surgirem, estaria preparado para retornar ao mercado.

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A questão da força de trabalho tem uma ressalva. Segundo o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, o constante adiamento de projetos de investimento por empresas em razão das incertezas político-econômicas pode influenciar o preparo dos trabalhadores. “Isso só não ocorre se a pessoa usar esse período sem trabalho para estudar, mas isso não é possível para a maioria das pessoas nessa condição”, diz Mesquita. Dessa forma, a questão do treinamento de pessoal pode surgir como necessidade logo adiante.

Âncoras

Existem outras “âncoras” que impedem a economia de sair do lugar. Mesmo que o Brasil consiga recuperar o que perdeu na recessão, a expansão de longo prazo depende de outras mudanças, como as tendências protecionistas do País, diz o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper. “É necessário que se defina uma agenda de produtividade que inclua a abertura da economia e a incorporação de tecnologias que combatam nossa baixa produtividade.”

Para Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre/FGV, é preciso também alocar melhor os investimentos. “Muitas das escolhas que o Brasil fez recentemente não geraram a capacidade produtiva imaginada”, ressalta. Entre os exemplos recentes de desperdício de recursos citados pelos economistas estão incentivos direcionados a setores específicos – como o de veículos -, estaleiros que hoje estão quase parados e refinarias construídas a preços exorbitantes.

Do ponto de vista de produtividade, Lisboa argumenta que há várias alternativas que “gerariam renda em vez de desperdiçar recursos”. Ele cita a reforma tributária, a simplificação do ambiente de negócios e a redução da insegurança jurídica como pontos prioritários. “Decisões atabalhoadas do Judiciário têm ocasionado retração especialmente no setor de crédito”, diz o presidente do Insper. “O leasing de veículos, que já movimentou R$ 110 bilhões, hoje foi reduzido a 10% desse total por essa razão.”

Nova ordem

Além disso, os incentivos e a relação de clientelismo entre parte das empresas e o governo federal contribuíram para criar um cenário de negócios pouco ambicioso. Silber diz que a maior parte do empresariado insiste em voltar a força produtiva para o mercado interno. Como pensar pequeno não leva à inovação, o economista diz que empresas fazem lobby por cotas nacionais para evitar que produtos estrangeiros abocanhem o mercado local. “O Brasil representa 2,6% do mercado global. Não faz sentido ignorar os 97,6% restantes. Precisamos de ambição.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.