Os elevados índices de desemprego no País são ainda mais dramáticos para a população negra e parda. Enquanto entre os brancos a taxa de desocupação em março era de 11,1%, entre os negros e pardos chegou a 15,3%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Havia 33 mil negros e pardos a mais do que brancos desempregados nas seis regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador). O estudo também revelou uma grande disparidade em relação à renda: negros e pardos ganham metade do que, em média, é pago aos brancos.
Os chamados afrodescendentes, minoria na população em geral e no universo dos ocupados, tornam-se maioria quando se trata de desempregados. Entre os 18,5 milhões de ocupados, 40,8% são da raça negra e parda. Entre os 2,7 milhões de desocupados, a proporção sobe para 50,4% de negros e pardos. A PME registrou em março taxa de desocupação de 12,8%. Pela primeira vez, os resultados são divulgados segundo a raça da população. Em números absolutos, são 1,373 milhão de negros e pardos desocupados e procurando emprego e 1,340 milhão de brancos.
A região metropolitana do Rio tem a menor taxa de desemprego entre negros e pardos, de 11,8%. No outro extremo está São Paulo, com 18,4%. Na população em idade ativa (com 10 anos ou mais), que soma 37,3 milhões de pessoas, 56,5% são brancos, 34% são pardos e 8,5% são negros. A população amarela (1%) e indígena (0,1%) não foi incluída no estudo por ter baixa proporção em relação ao total. O Estado de São Paulo concentra 83,3% dos amarelos das seis regiões metropolitanas.
Preconceito
A discriminação histórica e a baixa escolaridade são fatores determinantes na desvantagem de negros e pardos em relação aos brancos. Com mais acesso à escola, os brancos encontram melhores vagas no mercado de trabalho. E ganham o dobro que os negros e pardos: R$ 1.096 mensais em média contra R$ 535. “A desigualdade se reproduz historicamente, não é uma situação que hoje está melhor que há 50 anos. Essas pesquisas dão visibilidade à desigualdade, embora não seja possível desagregar o que é o difícil acesso à educação e o que é racismo”, diz Rosana Heringer, pesquisadora do Centro de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Cândido Mendes e coordenadora da ONG Action Aid Brasil.
Não é possível medir o preconceito, mas alguns números levam à conclusão de que ele tem um peso preocupante nas dificuldades do negro quando ele consegue um emprego. Entre os ocupados, a barreira salarial é ainda maior do que a diferença de escolaridade. A renda média dos brancos empregados é duas vezes maior que a dos negros. Já em relação à escolaridade, brancos ocupados têm 1,2 vez mais anos de estudos – são em média 9,8 anos de estudos para os trabalhadores brancos, o que indica que concluíram o ensino fundamental, e 7,7 para negros e pardos.
“Muitas vezes, apesar da mesma escolaridade, o afrodescendente tem menos chance de ocupar cargos de chefia, com salários maiores”, diz o pesquisador Alexandre Pinto, consultor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas. “O negro não pode se dar ao luxo de ficar desempregado. Então, ele vai mais ao mercado em busca de trabalho”, afirma Pinto.
Empregos
Duas atividades pouco exigentes em relação à escolaridade de seus trabalhadores – construção civil e serviços domésticos – ocupam mais negros e pardos. De 1,4 milhão de empregados na construção, 54% são negros e pardos. E 1,4 milhão trabalha em serviços domésticos, sendo 59% negros e pardos. Já na indústria e em serviços públicos, de saúde e educação, a predominância é de brancos.