Leonardo Tristão é veterano das gigantes de tecnologia no Brasil: já passou pelo Google e liderou o Facebook. Há quatro anos comanda o serviço de turismo Airbnb – foi sob sua batuta que a empresa se tornou, por exemplo, parceira dos Jogos Olímpicos do Rio. Em 2018, a empresa registrou 3,7 milhões de hospedagens no País, alta de 640% na comparação com a temporada do evento esportivo.
No ano passado, o impacto econômico do serviço – que inclui refeições, passeios e outros gastos que os turistas fazem além da hospedagem – foi de R$7,7 bilhões, alta de 92% em relação a 2017.
Na entrevista a seguir, Tristão discute temas como crise econômica, ameaças de regulação e a preparação da empresa para abrir capital. “Não vamos aceitar alegações de concorrência desleal nem de que não pagamos impostos”, afirmou.
O sr. ajudou empresas como Google e Facebook a entrar no Brasil. Agora, está há quatro anos no Airbnb. Qual é o balanço?
Quando entrei, o objetivo era colocar o Airbnb no mapa. Sempre acreditei no potencial do brasileiro para experimentar novas tecnologias. Tivemos marcos: nos Jogos Olímpicos, conseguimos que 80 mil pessoas tivessem hospedagem. Os anfitriões entenderam que podiam gerar riquezas com seus imóveis ou quartos fechados. Hoje, 69% dos anfitriões no Brasil dizem que a renda do Airbnb os ajuda a manter o imóvel. Já o turista entendeu que podia viajar, mesmo na crise. Fechamos 2018 com 3,7 milhões de chegadas. Em 2016, foram 500 mil estadias.
O crescimento do Airbnb seria tão grande sem a crise?
É difícil dizer. Sem a crise, haveria mais dinheiro circulando. Por outro lado, em uma pesquisa recente, 27% dos nossos viajantes disseram que não teriam viajado ou não teriam ficado tanto tempo se não fosse a opção do Airbnb.
O que o Brasil representa hoje para o Airbnb?
Não posso revelar números por conta da preparação para a abertura de capital. Mas nesse estudo recente que fizemos, mensuramos que o Airbnb gerou R$ 7,7 bilhões em impacto econômico no País em 2018. É o 13.º lugar entre os 191 países onde estamos. Ao todo, o Airbnb gerou US$ 100 bilhões em impacto no mundo todo. Agora, queremos entender como podemos pulverizar esse impacto pelas cidades do Brasil, além dos grandes destinos turísticos.
Nos últimos tempos, discute-se a regulação do Airbnb, em nível federal e municipal.
A regulamentação não pode olhar o passado, mas sim o futuro. No Brasil, nossa atividade é legal e se enquadra na lei do inquilinato. Cresci com meus pais alugando casas de praia no verão. Qual a diferença de fazer isso pela internet? Ajudamos a organizar e demos escala e segurança para as partes. Tradicionalmente, negócios estabelecidos tentam criar barreiras. Não vamos aceitar alegações de concorrência desleal ou de que não pagamos impostos.
No Brasil, muitos anfitriões optam por colocar seus imóveis na mão de administradores. Isso não vai contra o conceito da plataforma?
Não é ruim. Percebemos que, em muitas casos, as pessoas querem hospedar, mas não têm tempo para fazer a entrega de chaves. Para nós, os empreendedores de acomodação ajudam anfitriões a tornar disponíveis seus espaços. Isso não significa que não exista troca de experiências entre hóspede e anfitrião. É uma evolução natural do negócio.
O que a abertura de capital deve significar para o usuário?
Aqui no Brasil, não há impacto diferenciado. Já vivi isso em outros carnavais e sei que o segredo é continuar tocando o negócio independentemente dos fatores externos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.