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‘Não subir imposto é contra o País’, afirma Abílio Diniz

Às vésperas da aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o empresário Abilio Diniz, ex-dono do Grupo Pão de Açúcar (GPA), e hoje terceiro maior acionista do Carrefour global, diz estar esperançoso com as mudanças que estão por vir. Abilio diz que foi próximo dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, mas que agora o País está diante de um “fato novo”.

Para o empresário, o Brasil tem de passar por uma ampla reforma – que inclui cortes nos gastos públicos, revisão tributária, política e da Previdência. E defende abertamente um assunto espinhoso: aumento dos impostos. “Se a atividade econômica cresce, aumenta a receita. Enquanto não cresce, tem de aumentar o imposto. E é aí que vão dizer: De jeito nenhum! Não podem aumentar imposto. Isso é contra o País, é hipocrisia”, diz o dono da Península, gestora de investimentos com cerca de R$ 10 bilhões em ativos, incluindo participações na gigante de alimentos BRF (dona da Sadia e Perdigão); Anima Educação e outros negócios.

A volta da CPMF e o fim da guerra fiscal entre os Estados estão entre as bandeiras de Abilio. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Estamos a poucos dias da definição do impeachment. Quais são suas expectativas com o governo de Michel Temer?

Estou muito esperançoso. O impeachment é um fato novo. Não podemos continuar a fazer o que a gente estava fazendo, mais do mesmo, e não podemos continuar com um governo que não estava dando certo. Estou muito tranquilo para falar porque todos sabem que fui muito próximo do Lula e da Dilma. E durante todo esse tempo, procurei ajudar. Não a eles, mas ajudar o Brasil dentro das minhas convicções. E até os últimos momentos, sempre estive à disposição do governo. Nunca tive nada contra o Lula nem a Dilma. Pelo contrário. Eles fizeram muito pelo Brasil, tiraram muita gente da linha da pobreza. Eu considero a Dilma uma pessoa honesta, bem intencionada, mas no final não deu certo.

E o que não deu certo?

Não vou qualificar porque não há necessidade. O País está andando para trás, perdendo emprego, receita e PIB. Todo mundo sabe o que não dá certo. O Brasil tem uma nova chance. O Temer (como presidente interino) está num período de silêncio, mas as sinalizações que tem dado, têm sido boas. O PMDB tem o programa “Uma Ponte para o Futuro”, que é uma declaração de bons princípios e tem bons fundamentos. Minha esperança, é que vai ser muito melhor.

Alguns empresários dizem que, para dar certo após o impeachment, o Temer vai ter de ser menos Temer. Ou seja, mais incisivo, mais determinado…

Discordo em gênero, número e grau. Não é assim que eu penso. Ele é politicamente hábil. Ele tem sido, às vezes, criticado porque está fazendo concessões. Mas tem de fazer. O Executivo tem o dever de encaminhar propostas para o Congresso. Tem de encaminhar o que é importante e melhor para o País. Política é assim. As coisas têm de ser negociadas.

Mas a dúvida é exatamente essa. O Brasil precisa fazer a reforma fiscal, sob o risco de quebrar lá na frente. O ministro da Fazenda Henrique Meirelles sofreu algumas derrotas no Congresso.

Não acho que sejam derrotas, por enquanto. São negociações. Às vezes, você perde dez e ganha uma importante. Está havendo uma consciência de que é preciso pensar no Brasil. Na medida em que se pensa isso, o Brasil vai dar um salto, vai decolar.

A tomada de decisões na iniciativa privada é bem diferente da do governo, que é imediatista.

Não acho que seja uma questão da iniciativa privada. No caso do Congresso, estou otimista, mais esperançoso de que vamos conseguir aprovar medidas importantes. Há hoje uma consciência política muito maior. Esse processo de impeachment trouxe algumas coisas importantes. Aquela votação, deputado a deputado, foi de uma exposição extraordinária. O Brasil inteirinho viu o que estava acontecendo. Eu acho que aquilo deixou um recall dentro dos congressistas. Tem de prestar contas. Há medidas que têm de ser aprovadas pelo Congresso.

Quais são as prioridades?

A primeira delas é o ajuste fiscal, a contenção dos gastos. É fundamental. Há uma discussão sobre limitar o crescimento do gasto à inflação. Eu pergunto: Que inflação? Se limitar os gastos de 2017 pela inflação de 2016, vai ter um gap, uma vez que a meta de inflação para o ano que vem, de 4,5%, deverá ser a metade deste ano. Eu seria mais radical nesse ponto. Limitaria à expectativa de inflação do ano que vem. Temos que reduzir os gastos públicos e elevar a receita.

Como seria isso?

Se a atividade econômica toda cresce, aumenta a receita. Enquanto não cresce, tem de aumentar imposto. E aí vão dizer: De jeito nenhum! Não podem aumentar imposto. Isso é contra o País, é hipocrisia. Se não tem como (elevar a receita), tem de aumentar imposto. Em 2015, a carga tributária não aumentou. Neste momento, precisa pensar no País. Tem de zerar esse déficit fiscal. Se for ter aumento de imposto, teria de ser de maneira transitória e por lei. Muita gente fala da CPMF como se fosse um palavrão. Palavrão é deixar a classe mais pobre sofrer, não gerar emprego, não ativar a economia. Isso, sim, é ruim para o País. Por que recomendo a CPMF? Porque é simples de implantar e arrecadar.

Mas essa discussão da reforma tributária já ocorre há muito tempo e pouco foi feito.

A reforma tributária tem de vir em maior ou menor escala. Sou a favor de unificação do ICMS. A guerra fiscal neste País parece brincadeira. Tem de unificar as alíquotas. Minha proposta seria condicionar as renegociações das dívidas dos Estados à unificação das alíquotas. Dá para fazer agora? Talvez não. Outras mudanças terão de ser feitas.

O Congresso teria de ceder…

Tenho certeza que as pessoas estão mais preocupadas, transparentes, muito por causa da Operação Lava Jato (que apura corrupção na Petrobrás). O País está olhando para o Congresso. Há uma consciência política em virtude das coisas que estão acontecendo. Hoje há mais transparência no Executivo, Legislativo e, inclusive, no Judiciário. A reforma da Previdência é necessária. É uma hipocrisia essa história de direitos adquiridos. Todos têm de ceder. Assim como na reforma política, com a redução do número de partidos.

Como o sr. acha que os investidores, de modo geral, estão olhando a Operação Lava Jato?

A Lava Jato está sendo bem vista no Brasil e no exterior. O mundo não aguenta mais corrupção e corruptos. Hoje as coisas estão muito mais transparentes e nas redes sociais. O mundo está olhando para isso.

O sr. disse que no fim do ano passado que o Brasil estava barato? Mudou essa percepção?

Falei, em novembro passado, em um evento em Nova York a investidores que o Brasil estava barato e, então, era o momento para aproveitar. O câmbio estava a R$ 3,90. E, hoje, continua barato, apesar do real ter se apreciado. Por que os ativos estão baratos? Os múltiplos aplicados no Brasil (para compra de ativos) ainda estão baixos. Aqueles que não investiram no País quando o câmbio estava a R$ 3,90, vão ter de esperar. Nem sei se chega a esse patamar de novo.

O mercado especula que o câmbio pode chegar a R$ 3.

Pode ir não sei para onde. O Banco Central tem sido fiel a isso. Tem um probleminha no cambio flutuante: ele flutua. Sou contra sustentar o real através de swaps cambiais. Isso custa caro.

Tem um nível para câmbio que passa a ser preocupante para a indústria?

Prefiro não colocar uma meta.

O que é preciso para destravar os investimentos no País?

Muitos dizem que indústria foi sucateada pelo câmbio. Acho que as dificuldades da indústria vieram principalmente da parte tributária. Inclusive daqueles que exportam. O pessoal de fora não gosta de comprar imposto, querem pagar por produto. É preciso algumas medidas para destravar o sistema produtivo para que ele possa ganhar competitividade.

Muitos empresários engavetaram projetos…

Mas, com a esperança, vem a confiança. Na hora que os empresários tiverem confiança na estabilidade política e econômico, os investimentos serão destravados, inclusive os de fora, que estão loucos para entrar no País.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

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