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‘Não dá para dizer uma coisa e fazer outra no governo’

Amigo de longa data do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Roberto Giannetti da Fonseca, ex-secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior no governo FHC, prepara-se para compor a equipe de campanha do tucano ao lado do ex-banqueiro Persio Arida e do diretor da escola de Economia da FGV, Yoshiaki Nakano. Segundo ele, o perfil distinto dos integrantes do grupo é proposital. “Geraldo pensou: ‘vou convidar pessoas em quem confio, que tenham pensamentos divergentes, liberais ou keynesianos, vou ouvi-los e decidir em cada caso’.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

Poucos pré-candidatos contam com entusiasmo do eleitor. O que Geraldo Alckmin terá a seu favor?

A população está ansiosa pelo novo. Mas a renovação tem de vir com experiência. Não adianta algo improvisado. O PSDB está em época de muda. Geraldo é o mais jovem dos velhos e o mais velho dos jovens. Ele pode fazer a renovação para que o PSDB assuma nova atitude política. Tem de acabar com a imagem de em cima do muro.

Imagem baseada em fatos.

Tem razão. Fui do governo Fernando Henrique Cardoso e quantas vezes hesitamos. Acabou essa época. Não importa se a verdade tirará votos. Não dá para dizer uma coisa na campanha e fazer outra no governo. Deveríamos pensar numa proposta para que eleitos no Executivo tenham de assinar contrato de gestão. O estelionato eleitoral de 2014 foi tão excessivo que temos de aprender que não dá para acreditar no que se fala.

O mesmo questionamento poderia ser feito sobre a campanha para reeleição de FHC?

Foi um discurso ilusório (sobre o câmbio). Persio saiu do Banco Central por isso. O presidente quis manter a banda cambial e deu no que deu. Houve erros também do PSDB. Temos de ter autocrítica. Agora em política cambial temos visão clara do que deve ser feito. Já discuti isso muito com Nakano e Persio.

Qual é essa visão?

Estamos formando consenso. Câmbio flutuante, mas expurgando efeitos de sobrevalorização que vêm da falta de controle do mercado financeiro. Não vejo interesse da economia brasileira em abrigar fluxo de capital especulativo cuja única função é ganhar arbitragem de juro no Brasil e valorizar o real. Há duas formas de fazer: tributando, com IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), ou colocando limites para as instituições em posição vendida de dólar e comprada em real.

Não será lido como política de intervenção no câmbio?

Algum tipo de intervenção o Banco Central tem de fazer para eliminar volatilidade. O que não pode é deixar os fluxos de capitais interferirem na taxa de câmbio de forma permanente e disfuncional. Porque os preços relativos afetam o desempenho da economia. A alocação de recursos depende deles. Se a indústria não tem preço bom que remunera o capital, não vou investir. O pessoal prefere investir no mercado financeiro a colocar dinheiro na economia real. E os desempregados? O tema da campanha de Geraldo será emprego e emprego.

Os programas sociais têm de ser mantidos em sua opinião?

Têm de ser repensados. São absolutamente necessários. Ninguém mais discute isso. Mas o que tem de sobreposição e fraude é inacreditável. Tem gente no Jardim Europa, aqui em frente, que deve ter seguro-desemprego e Bolsa Família.

Considerando a composição do grupo de conselheiros, como Alckmin vai se posicionar? Não é estranho Nakano e Persio no time?

Se pensássemos igual, bastaria ter um. Geraldo, que é muito perspicaz, pensou: ‘vou convidar pessoas que confio, que têm pensamentos divergentes – não em tudo, mas em alguns pontos claramente divergentes -, liberais ou keynesianos, vou ouvir e decidir em cada caso a posição mais adequada’. Não há entre nós – eu, Persio, Nakano e José Roberto Mendonça de Barros – nenhum que terá predominância. Ele ouvirá todos e terá discernimento para buscar a melhor alternativa. Ninguém faz a cabeça do Geraldo. Sobre os mais variados assuntos, inclusive economia, ele sempre escuta opiniões divergentes, reflete e toma a decisão final.

Então o governador não vai adotar uma linha específica.

A ideia de esquerda, direita, liberal… Isso é coisa do século 20. No século 21, as pessoas têm de ser pragmáticas e ver o que funciona. Quais são as boas experiências de políticas públicas que têm dado resultado? É preciso fazer um blend, um mix.

Mendonça de Barros está dentro? Ele tem dito que não.

Ele têm conversado com Geraldo, mas não houve convite formal. Nem é a hora do Geraldo fazer isso, porque ele não é candidato. Individualmente, cada um está trabalhando, mas não existe equipe de campanha.

Ir na linha de defender o que funciona, sem se identificar com uma linha específica, não dará ideia de estar em cima do muro?

Não, porque teremos posição firme. A favor da privatização? Somos sim. Em 2006, não estavam claras certas posições do partido. De lá para cá, vimos um ataque às estatais pelos políticos, corporativistas. Vamos privatizá-las, porque aí elas serão realmente do público. Os brasileiros que têm poupança poderão investir na Petrobrás e ganharão dinheiro. E com golden share do governo, para impedir qualquer tentativa de tomada de controle hostil ou desnacionalização. Não é vender ao capital estrangeiro, como diz o PT. Isso nem passa por minha cabeça.

Os pré-candidatos de centro e de direita têm se colocado como liberais. Como atrair esse eleitor?

Mostrando que nossa política tem mais consistência. A visão de que o mercado tudo resolve é ingênua. E 2008 já nos deu a lição de que, quando há desregulamentação excessiva sem fiscalização, a coisa pode desandar. Nossa proposta tem mais equilíbrio e confiabilidade. O debate econômico será sério. Respeito todos eles: Arminio Fraga, Paulo Guedes, Edmar Bacha. Se dentro da campanha do Geraldo haverá divergências, que dirá fora. Teremos humildade de reconhecer se houver ideia melhor. Vamos misturar um pouco de Keynes e Hayek (Friedrich Hayek, economista liberal). Esse debate nunca se resolverá e temos de apostar nos dois.

Capital estrangeiro é sempre bem-vindo em sua opinião?

Temos de ser um pouquinho mais seletivos. Ele não pode vir de forma incondicional e sem nenhum compromisso ou reciprocidade. Recursos naturais, agronegócios, energia: não dá para deixar a porta aberta e seja o que Deus quiser. Tem de ter um pouco de compromisso por parte dos investimentos estrangeiros. Indústria de transformação que vem só explorar o mercado interno e não tem nenhum compromisso de exportação? Colocar o Brasil nas cadeias globais implica aqui ser plataforma de produção para o mundo. Essa é uma nova atitude em relação ao capital estrangeiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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