Christopher Garman, analista da consultoria americana Eurásia
Para Christopher Garman, analista da consultoria americana Eurasia, embora um governo Temer possa trazer mais credibilidade para o mercado, a vitória de Dilma não deve fazer com que o governo caia num populismo econômico. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.
Há um exagero no mercado com a possibilidade de impeachment da presidente Dilma?
Se o impeachment prosperar, o que o mercado financeiro está projetando é que isso representa possivelmente o fim de uma crise econômica e fiscal. Um governo Michel Temer traz a perspectiva de uma equipe econômica com mais credibilidade, de um apoio majoritário do Congresso e de um avanço em certas reformas.
Quais seriam essas mudanças propostas por um novo governo?
Ele deve mudar a equipe econômica, colocar um ministro da Fazenda bem respeitado pelo mercado financeiro. A estratégia política do vice-presidente ficou clara com o documento ‘Uma Ponte para o Futuro’. A equipe do Michel Temer chegou à conclusão de que o essencial para a sobrevivência política dele é que ele se coloque como uma solução perante a crise econômica. E, portanto, dando um choque de credibilidade no setor produtivo e financeiro.
Qual seria o espaço de manobra da gestão Temer?
A janela de oportunidade é bem estreita e a lua de mel também é reduzida. Nós vivemos um ambiente em que a crise econômica só vai piorar no lado do mercado de trabalho. E o PT pode estar na oposição com o movimento sindical. Não vai ser fácil. O Temer deve fazer um esboço de reformas amigáveis ao mercado, como a da Previdência, e tentar avanços na agenda microeconômica. O que também ajuda um possível governo Michel Temer é que o PSDB chegou à conclusão que não interessa ao partido ter um fracasso.
Por quê?
Se isso acontecer, é um cenário de aprofundamento da crise econômica e política. O temor no PSDB é que o País chegue a um ambiente no qual a raiva eleitoral se aprofunde ainda mais. E isso não é bom para o PSDB. Então, os tucanos devem ajudar um governo Temer numa agenda de reformas no Congresso.
Se a Dilma permanecer, haverá uma guinada na economia?
Não acredito que ela vá dobrar a aposta para o populismo econômico. Isso só exacerbaria a desancoragem de expectativas no mercado financeiro. A inflação iria correr solta, por exemplo. Tudo isso alimentaria uma crise econômica. Eu acredito que o ex-presidente Lula reconhece isso.
Qual seria a postura do governo, então?
O primeiro movimento seria ir para o centro, fazer uma repactuação, com um discurso de reforma política. E numa segunda instância, colocaria uma agenda de reformas mínimas para chegar até 2018. Deve permanecer o desenho do Nelson Barbosa: afrouxar no curto, mas tentar atacar desequilíbrios no médio e longo prazos. Seria um movimento de dois estágios. Primeiro, mais político. Segundo, tentando pautar reformas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.