O diretor da Escola de Economia de São Paulo (EESP-FGV), Yoshiaki Nakano, afirmou nesta sexta-feira, 07, que caso a presidente Dilma Rousseff adote um programa de ajuste fiscal firme, que gere um superávit primário de 3% do PIB, o País poderá registrar a volta dos investimentos e a economia poderia apresentar um quadro bem mais favorável de crescimento. “Isso seria o ideal”, destacou ele durante seminário promovido em São Paulo pela FGV projetos.
“Contudo, eu não acredito que isso irá ocorrer. O governo deverá fazer um ajuste fiscal no próximo ano com corte da proposta de Orçamento de 2015 e com alguma alta de tributos. Já é falado na volta da cobrança da Cide”, destacou Nakano. “E se esse quadro de falta de correção das contas públicas não ocorrer, é bem provável que o País ficará num quadro de semiestagnação da economia e os investimentos não vão voltar”, apontou.
Nakano também apontou que a política fiscal precisa ser firme para permitir ao Banco Central a redução dos juros, o que seria um fator essencial para estimular o incremento substancial da Formação Bruta de Capital Fixo. “Do contrário, poderemos ficar com uma taxa de investimentos ao redor dos atuais 17% do PIB ou um pouco menos”, apontou. “E o pior. Ocorreria num conjuntura de déficit público nominal que atingiu 4,9% do PIB em setembro, no acumulado em 12 meses.”
Na avaliação do acadêmico, há uma anomalia na gestão da política de juros que é o Banco Central utilizar a Selic como uma espécie de “overnight”, o que puxa a curva de juros de longo prazo para cima. “Mesmo que o Tesouro tenha superávit não consegue baixar os juros, pois todo o sistema financeiro vai recorrer ao overnight e operações compromissadas do Banco Central”, destacou. “Ao invés de o BC atuar só no mercado de poupança, atua no curtíssimo prazo, o que provoca nos bancos comerciais uma certa indexação à Selic generalizada.”
Infraestrutura
Ainda de acordo com Nakano, para que o Brasil tenha uma infraestrutura “similar” a de países avançados “será necessário investir 7% do PIB no setor, durante 30 anos.” Ele destacou que esse fator é importante para estimular a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que precisa subir de 17% para 25% do PIB, a fim de levar o Brasil a avançar 4% ao ano de forma sustentável no longo prazo.
“Temos de restabelecer a credibilidade do governo, especialmente na política fiscal, Só isso vai estimular o setor privado a elevar os investimentos de forma considerável, inclusive em infraestrutura”, destacou Nakano.