O estancamento do processo em curso de desindustrialização pelo qual passa o Brasil só será desmontado a partir da implementação de reformas que desarmem o “trio mortal” composto por câmbio valorizado, juros altos e política fiscal descontrolada, disse o economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia em São Paulo (EESP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para Nakano, está claro que o processo de desindustrialização não é um fenômeno exclusivo do Brasil; ocorre também nas economias avançadas. Segundo ele, nas economias avançadas a perda de dinâmica da indústria se dá em um ambiente de renda per capita alta. Ali, disse, o processo ocorre ao tempo em que os serviços tecnológicos ganham maior participação no crescimento. No Brasil, de acordo com ele, o processo é diferente, os serviços que crescem mais são os pessoais, com pouca força para gerar empregos.
“Nos países emergentes há um descompasso grande entre serviços e indústria. Uma série de serviços passam a ser feitos fora da indústria. No Brasil, os serviços não têm o mesmo dinamismo da indústria. Temos de entender isso”, disse Nakano, na abertura do seminário Indústria e Desenvolvimento Produtivo do Brasil, que a EESP e o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), também da FGV, organizam nesta segunda-feira, 26, e na terça-feira, 27, em São Paulo.
Para ele, faltam estratégias para inserir a indústria brasileira nas cadeias globais de produção.”Isso se dá por falta de liderança política. Não vou dizer que as políticas industriais e de inovação (no Brasil) foram um fracasso. Mas não têm dado resultado”, criticou Nakano.
Ainda de acordo com o economista, o Brasil teve uma grande oportunidade de criar um mercado de massa que desse dinamismo à indústria. “Mas aqui temos o trio mortal. Temos de desmontar esse trio mortal começando pela redução da taxa de juros, que é uma herança do tempo inflacionário, das taxas overnight. Temos todo o sistema financeiro atrelado à taxa de juros diária”, avaliou Nakano, acrescentando que essa política de juros desestimula os investimentos das empresas na produção industrial.
A consequência disso, segundo o diretor da EESP, é a baixa taxa de investimento registrada no Brasil, atualmente de 18% do PIB e com riscos de ser diminuída. “Enquanto isso, os países emergentes estão investindo 30% do PIB. Como crescer deste jeito sem sair dessa matriz macroeconômica?”, questionou Nakano.