Ainda que o Brasil saia campeão da Copa do Mundo, há quem possa preferir não comemorar. Por causa da realização do evento no País, indústria e comércio, já fragilizados pelo desaquecimento da economia doméstica, devem ter perdas ainda mais intensas por causa dos feriados decretados no período do Mundial.

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Na indústria brasileira, cada dia útil parado representa em média R$ 7,27 bilhões a menos no valor bruto da produção, calcula a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Só no parque fabril paulista, o maior do País, a perda pode chegar a R$ 2,854 bilhões por dia útil a menos. Na esfera municipal, a capital (cerca de 18% da produção do Estado) perde aproximadamente R$ 515 milhões a cada dia de produção parada.

A Fiesp pondera, entretanto, que há chances de o saldo final distinguir dessas estimativas, já que alguns empresários podem ter se antecipado à paralisação realizando turnos extras. Além disso, alguns jogos ocorreram só após as 16h, o que prejudicaria apenas parte da produção média diária. “Mas o valor citado nos dá uma boa ideia dos prejuízos”, diz em relatório.

No município do Rio de Janeiro, a Copa do Mundo deve tirar R$ 327 milhões da indústria local, calcula a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). São três dias de interrupção nos trabalhos apenas por conta do Mundial. A prefeitura decretou feriado parcial no dia 18 de junho e feriado integral nos dias 25 de junho e 4 de julho. A Firjan não acrescentou à conta as interrupções de jornada durante os jogos do Brasil.

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A perda acumulada nos três feriados locais da Copa mais os dias de trabalho perdidos em feriados oficiais no ano podem fazer o prejuízo da indústria carioca chegar a R$ 1,76 bilhão, o equivalente a 5,4% do PIB industrial do município.

Na última quarta, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), informou que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) caiu 0,8 ponto porcentual na prévia de junho, para 83,5%, o menor patamar desde novembro de 2011. A redução se deveu à desaceleração da indústria nos últimos meses e aos estoques elevados, mas também à antecipação de férias em algumas empresas, aproveitando a Copa.

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O comércio tampouco deve se beneficiar do evento de modo geral, diante de uma demanda doméstica fragilizada e pouco impulso vindo dos estrangeiros. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que cada dia útil perdido com um feriado significa em média 9% de lucro a menos no mês. O efeito varia conforme a localização do estabelecimento. No Rio e em São Paulo, a queda pode ser ainda maior, entre 10% e 11%.

“Para o varejista (do Rio), sacrificar 30% do lucro dói”, diz o economista da CNC Fábio Bentes. Insistir em abrir as portas do negócio não é alternativa melhor, já que os custos com funcionários são dobrados.

Gringos.

Nem a vinda de estrangeiros deve melhorar a situação. Com raras exceções, as vendas para turistas se concentram em suvenires, destaca o assessor econômico Fábio Pina, da Fecomercio-SP. Para eles, não compensa fazer compras no Brasil. “Os produtos aqui são mais caros que nos países dos turistas que nos visitam”, diz. “Não há possibilidade de um evento como a Copa do Mundo reverter uma situação macroeconômica complicada.”

O impacto positivo da Copa ficará concentrado em segmentos ligados a lazer e alimentação. As vendas de televisores devem movimentar R$ 863 milhões, segundo a CNC, ajudadas pelo barateamento do item, que custa em média 44,4% menos do que na última Copa. Nos supermercados, as vendas de carnes e bebidas frias devem puxar os resultados. “Para o comércio como um todo, o impacto não será positivo. Geralmente não é, e o fato de ser aqui agrava isso. As vendas são menores, já que a circulação cai dramaticamente em dias de jogo”, diz Bentes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.