economia

Na Bahia, população teme mas quer vagas criadas pelo urânio

A mineração nacional de urânio é feita na Unidade de Concentrado de Urânio, em Caetité (BA), desde 1999. Na região, há reservas estimadas em 100 mil toneladas do mineral e parte da população se preocupa com a extração. Segundo Allan Fernandes Pereira Ribeiro, de 23 anos, estudante de engenharia civil, existem muitas pessoas com câncer, inclusive da família dele. Para ele, é reflexo do contato direto com a água contaminada e com alimentos produzidos na cidade.

“Apesar da INB (Indústrias Nucleares do Brasil, responsável pela exploração) trazer vários projetos sociais para Caetité, não é a melhor maneira de troca que a gente tem. Tanto que Caetité é uma das cidades que menos evolui em comparação às vizinhas”, diz Allan.

Já a geóloga Alane Iasmin Cordara da Silva, de 24 anos, diz que, apesar de entender a preocupação das pessoas devido a falta de informação da própria empresa, a extração não é um risco. “A formação rochosa da base da cidade é possível ser vista também na superfície”, diz ela. “O contato com urânio acaba sendo inevitável e mesmo que a INB termine sua operação, a incidência de câncer será expressiva. Infelizmente a ‘culpa’ é da natureza mesmo.”

Para ela o urânio é essencial para a indústria nuclear brasileira. “Não acho que deva parar a sua extração. Até porque a INB tem sua importância na cidade principalmente em geração de empregos”, declarou Alane.

Desde 2014, quando a mineração da Mina Cachoeira foi esgotada, a produção parou. Mas o governo pretende retomar a mineração de urânio em 2020. A informação é de que a atividade está parada atualmente por problemas ambientais e devido à falta de recursos.

Com o esperado início da produção da mina do Engenho, a INB espera que o número de funcionários aumente. “A retomada da produção em Caetité irá dinamizar a economia local através da geração de emprego, de renda e do recolhimento de impostos. Para o País, significará uma redução do valor gasto com a importação de urânio.”

Questionada sobre o retorno de funcionários que foram desmobilizados pela INB com a paralisação da exploração da Mina Cachoeira, a empresa afirmou que a interrupção da produção não acarretou desmobilização de empregados.

Por se tratar de uma empresa estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a maior parte dos colaboradores é concursada. Mas há também os que têm contratos específicos de trabalho, como é o caso do casal Alessandro Prates Gomes e Eunilva Pinto de Carvalho Gomes, demitidos com a promessa de retorno assim que começasse uma nova exploração.

Eunilva, de 35 anos, mais conhecida como “Lôra”, trabalhava como auxiliar de laboratório e disse que, apesar de imaginar que seria demitida assim como seu marido, o momento foi difícil. “Foi um baque, pois ficamos os dois desempregados de uma vez.”

Para driblar o desemprego, Alessandro passou a fazer bicos como pedreiro e Lôra decidiu fazer bolos. Quando soube que poderia vir a ficar sem emprego, teve a ideia de já começar a conciliar seus horários para produzir bolos sob encomendas. Inicialmente, como ainda trabalhava, fazia poucos bolos. Quando de fato o desemprego bateu à porta, a produção cresceu e ela procurou se capacitar para que o novo negócio desse certo.

Segundo ela, o que mais ajuda na renda da família hoje em dia é justamente a renda proveniente da venda dos bolos. Mas complementou: “Sem a ajuda do meu marido, com os bicos que ele vem conseguindo, seria difícil manter tudo. Pagamos as contas, mas não ficamos sossegados. Estamos levando”.

Por esse motivo o casal aguarda ansiosamente a retomada das atividades da empresa, almejando o retorno de pelo menos um deles. Lôra torce para que Alessandro seja chamado, pois para ele arranjar emprego está mais difícil. “Como eu gosto do que estou fazendo, posso continuar assim. Mas seria importante que meu marido retornasse.” A expectativa da INB é que a retomada da produção aconteça até o fim deste ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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