Alcançar postos de gerência ou diretoria em empresas não é tarefa simples para ninguém. E quando quem postula o cargo é do sexo feminino, a tarefa continua sendo mais difícil.
É o que apontam dados de pesquisas divulgadas esta semana por ocasião do Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje. A conclusão é que, apesar do grau de instrução maior, as mulheres ainda ficam em menor número nas posições onde os salários são mais altos.
“Ainda existe dificuldade para a mulher galgar cargos de gerência”, conclui o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sandro Silva.
O empecilho, segundo ele, empurra as mulheres para a informalidade e para ocupações onde a renda é menor, como as indústrias têxtil e de alimentos, a área de serviços – com destaque para hotéis e restaurantes -, o ensino e a saúde. No setor informal, aparecem com alta concentração feminina o trabalho doméstico e, novamente, o setor de vestuário.
Outro problema apontado por Silva é que uma parcela das mulheres que entram no mercado de trabalho não o fazem por opção pessoal, mas sim por necessidade de compor a renda familiar.
Renda, porém, que não vem no mesmo patamar dos homens. Os dados do Dieese referentes ao Paraná mostram que, em 2007 – o último ano com informações concluídas -, as mulheres ocupavam 43,49% do mercado de trabalho. Entretanto, os salários tiveram diferença de 42,57%: enquanto os homens ganhavam, em média, R$ 1.191 mensais, as mulheres recebiam apenas R$ 684.
Em Curitiba e região metropolitana (RMC), os números foram semelhantes: 44,77% das vagas no mercado de trabalho eram preenchidas por mulheres. A diferença salarial foi de 40,92%, com os homens ganhando uma média de R$ 1.464 e as mulheres, R$ 865.
Os dados nacionais, no mesmo período, indicam uma distorção um pouco menor: 42,32% das vagas eram preenchidas por mulheres, e a diferença salarial foi de 33,87%, com a média salarial dos homens ficando em R$ 998 e das mulheres em R$ 660.
Outro dado analisado pelo Dieese foi a participação feminina de acordo com a faixa salarial. As mulheres representam 42,96% dos empregados que ganham até cinco salários mínimos no Paraná.
No entanto, à medida que os salários aumentam, os índices diminuem: na faixa de 10 a 15 salários mínimos, por exemplo, o índice cai para 33,52%. Já no grupo de quem ganha acima de 20 salários mínimos, o número de mulheres corresponde a apenas 24,41%.
O Dieese também concluiu, com base em números do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que os ganhos menores ou a conquista de cargos com salários mais altos não decorrem do grau de instrução, já que a taxa de mulheres com curso superior completo ou incompleto (27,62% no Paraná e 33,69% em Curitiba e RMC) é significativamente superior ao índice dos homens (13,35% e 18,39%, respectivamente).
Ocupação feminina nos cargos de chefia vem aumentando
Os principais cargos executivos também possuem, ainda, taxas menores de mulheres. Apesar disso, os índices vêm aumentando a cada ano. A conclusão é de uma pesquisa do site Catho Online.
O levantamento concluiu que 21,43% dos cargos de presidente e CEO de empresas são ocupados por mulheres, assim como 17,47% dos postos de vice-presidente e 26,29% das vagas de diretoria.
Há 10 anos, as taxas eram de 12,04%, 12,92% e 16,01%, respectivamente. Já cargos de gerente (34,14%), supervisor (47,58%) e chefe (42,07%) têm índices maiores. E as funções de encarregado (55,58%) e coordenador (55,67%) já são exercidas, em sua maioria, por mulheres.
A executiva Clenir Wengenowicz, diretora regional da Vivo Sul, ajuda a compor a estatística. Trabalhando em Porto Alegre – cidade onde a taxa de participação de mulheres no mercado de, trabalho é considerada alta – e exercendo cargos gerenciais há mais de 10 anos, ela vê sua conquista como normal.
“Que bom que a sociedade está mudando isso”, diz, ao comentar a menor participação feminina em cargos de comando nas empresas. “Hoje em dia vejo muito mais mulheres em altos postos”, afirma.
Wengenowicz concorda que pode haver diferenças entre modos de gestão masculinos e femininos, e que o sucesso pode depender do perfil do cargo. Mas, para ela, características como a facilidade em fazer muitas coisas ao mesmo tempo – qualidade que ela atribui à maternidade -, a dedicação e a capacidade de delegar tarefas e trabalhar em equipe contam muito a seu favor, e a favor da maioria das mulheres.
A necessidade de dividir a dedicação ao trabalho com a família – exigência que nem sempre recai sobre os homens – também não assusta a executiva, que tem uma filha. “É difícil, mas não é nenhuma barreira”, avalia.
“No início, era extremamente complicado, mas hoje consigo administrar bem meu tempo. A empresa também ajuda a proporcionar isso muito bem”, completa, lembrando que, se não pode dedicar tempo à família em quantidade, ao menos consegue primar pela qualidade.