“Firme, mas nunca inflexível”. É como o próprio presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Edson Ramon, já se definiu. Esse breve perfil é bastante evidenciado na entrevista que o empresário curitibano, no cargo máximo da ACP desde agosto deste ano, deu a O Estado. Para ele, a alta tributação e a infraestrutura deficiente são os maiores entraves ao crescimento nem só do comércio, mas do País.
O Estado – Sua gestão na ACP está nos primeiros meses. Já é possível levantar algumas bandeiras?
Edson Ramon – O projeto conceitual é fortalecer ainda mais a ACP institucionalmente. Isso quer dizer, também politicamente, porém apartidariamente. O que temos que partir sempre, e essa força tem que ser cada vez mais intensa, é na defesa dos valores institucionais da nação, previstos na Constituição. Por exemplo, a livre iniciativa, a defesa da propriedade privada, da economia liberal, do processo democrático e do fortalecimento do comércio.
OE – Aí que entra a questão tributária, que vocês questionaram esta semana com a nova marca do Impostômetro?
ER – Sim, aí entra a necessidade da reforma tributaria, da diminuição da carga que está um absurdo – beira os 38% do Produto Interno Bruto (PIB). Quando o presidente Lula assumiu em 2003, era 31%, e subiu vertiginosamente, apesar da luta dos empresários para diminuir. A arrecadação aumentou 14% esse ano, atingiu R$ 1 trilhão, conforme o Impostômetro, que temos aqui na frente da ACP. Mas isso não quer dizer que vai sobrar dinheiro para o governo investir, porque ele aumentou os gastos públicos, as despesas correntes, em 15%. Quer dizer que a poupança continua zero. E um país desenvolvido, para ter um crescimento sustentável, precisa ter uma poupança interna, para promover as reformas necessárias. Inclusive em infraestrutura: estradas, portos, aeroportos. Uma série de coisas que o governo só pode fazer com a agilidade necessária se tiver poupança, se gastar menos. Mais do que arrecadar, o importante é gastar menos.
OE – Apesar desse aspecto, temos também o outro, de um crescimento de classe média e do consumo. Que avaliação o senhor você faz desse momento? Estão se abrindo oportunidades ao comércio?
ER – O comércio varejista teve uma expansão de 2% em agosto, sobre agosto do ano passado. Nesse ano, deve fechar com 10%. Mas temos que entender que estamos chegando a um gargalo de infraestrutura que não vai poder sustentar um crescimento, como o governo está prevendo no PIB, de em torno de 7%. Estamos chegando a um gargalo insolúvel. Os portos estão sobrecarregados e não têm infraestrutura. Os aeroportos, nem se fala. As estradas, muitas estão com uma pista só, por onde passa toda nossa produção agrícola. Vinte e dois por cento da produção brasileira de grãos sai do nosso Estado. Nossa agroindústria é forte, mas temos que exportar muito através de portos e aeroportos fora do nosso Estado. Isso no Paraná, mas no Brasil também está um caos. Se não melhorarmos nossa infraestrutura, não vamos conseguir crescer por muito tempo. Estamos num momento bom, colhendo frutos do que foi feito anteriormente. O governo Lula tem mérito porque deu continuidade ao que estava sendo feito, usou alicerces feitos no governo Fernando Henrique. Isso é uma realidade. O governo Lula, inteligentemente, soube colocar pessoas competentes nos ministérios certos, que deram continuidade a uma política econômica de sustentação e estabilidade. O mérito existe aqui e lá. Mas não vamos ter um crescimento sustentável se não melhorarmos a infraestrutura do País.
OE – E qual a consequência disso?
ER – A consequência é que não podemos esperar grandes crescimentos para o futuro se não ,melhorarmos a infraestrutura, se não diminuirmos a carga tributária, se não reduzirmos os encargos trabalhistas e se não conseguirmos nem melhorar a Previdência Social. Para tudo isso precisa desonerar nem só o empregador, como o empregado. Temos hoje no Brasil um fato inusitado, que é mérito do governo federal e do estadual, que isentou as micro e pequenas empresas, as desonerou fiscalmente. Mas não na parte trabalhista. Precisamos no Brasil um Simples trabalhista para a micro e pequena empresa. Mas precisamos também promover e dar uma atenção maior para as médias empresas. Grande parte das empresas do País não é só de micro e pequenas, mas de médias empresas, aquelas familiares que são o sustentáculo da economia brasileira. E hoje elas estão com total desatenção. Têm, hoje, privilégio – em que pese precisarem mais – as micro e pequenas, e as grandes, que pelo próprio tamanho conseguem superar os obstáculos. As médias estão totalmente desatendidas no País.
OE – Como o senhor vê os problemas de falta de mão-de-obra, que ou é pouco qualificada ou está sem interesse de trabalhar em setores como o comércio?
ER – Falta mão-de-obra para cargos de melhor qualificação. Aí a importância de cursos técnicos que precisamos implantar no País e no Estado. Quem está contribuindo muito com isso, mas não atinge um universo muito grande porque precisa de apoio dos governos, são as instituições de classe como a ACP. Nós temos, por exemplo a ULC – Universidade Livre do Comércio -, em que ensinamos o trabalhador e o empregador a administrar melhor. Hoje sobram vagas de empregos qualificados. Na mão-de-obra mais barata e menos qualificada, hoje sobra oferta por causa da Bolsa Família. É impressionante o número de pessoas que deixaram de trabalhar por conta da Bolsa Família. Ela pode ser um grande instrumento de fazer aflorar as classes mais pobres para o consumo e para terem uma vida mais digna. Mas ainda precisa uma contrapartida, isso precisa ser temporário. A pessoa tem que saber que vai ganhar a bolsa enquanto não tiver emprego, e ter um tempo monitorado pelo governo para dar por um tempo determinado. Hoje é simplesmente uma ação filantrópica, que não ensina a pessoa a trabalhar, não qualifica. Isso faz com que falte mão-de-obra. Isso acontece principalmente na construção civil.
OE – Mas pagando salários melhores o comércio não conseguiria atrair mais pessoas para trabalhar? O que falta para isso, uma desoneração nos encargos trabalhistas?
ER – Sem dúvida. Hoje o salário de uma pessoa custa o dobro para o empregador. Daria para pagar bem melhor os trabalhadores, como daria para desonerar sensivelmente as empresas.
OE – Mas elas pagariam melhor os empregados se houvesse redução?
ER – Sem dúvida que sim. Hoje o empresário está tolhido, engessado. Ainda coloca em cima disso os altos tributos. O maior tributo da América do Sul e um dos maiores do mundo é no Brasil.
OE – Pesquisas recentes estão mostrando que a inadimplência está aumentando. Que causas vocês apontam para isso e como o comércio está enfrentando esse aumento?
ER – O grande problema é a expansão de crédito. Foi dado tanto crédito a juros exorbitantes. A população está sendo solapada. Isso é um desvio de conduta, uma visão míope, permitir que o sistema financeiro ponha spreads tão altos em cima da população e dos empresários. Isso faz com que aumente o endividamento da população, que paga por um produto, além dos impostos que o oneram em muito, juros exorbitantes em cima dele. Faz com que [o consumidor] tenha dificuldade para sair de um círculo vicioso, porque hoje compra geladeira, fogão, motocicleta, automóvel. Chega uma hora que vai haver um estouro, e isso é muito perigoso. Como aconteceu nos Estados Unidos e outro países, é uma bolha, que de repente estoura. Temos que ter muito cuidado. Não é não dar o crédito. É desonerar, diminuindo os juros, de forma que a gente possa conceder crédito saudavelmente à populaç&atil,de;o. Hoje ela está sendo assaltada, agredida. E o empresário também.
OE – Quais as expectativas de vendas do comércio local para o final do ano?
ER – Estamos acreditando nesse crescimento de 10%. É um aumento que, se não é maravilhoso, é expressivo. E estamos fazendo com que isso aconteça com uma campanha de Natal, a Magia do Natal, em conjunto com os associados, e com apoio da prefeitura de Curitiba. Vamos promover premiações para motivar um maior consumo, além do que a época já promove, a partir do final do novembro. Cabe à Associação ajudar os seus associados a encontrar os instrumentos necessários para melhorar suas vendas. E cabe no sentido institucional empunhar bandeiras que façam bem ao comércio e a toda a comunidade. É nossa missão ajudar a consolidar no mínimo esse patamar de 10%.