Mudar a realidade social e econômica de um município que depende da agropecuária é um desafio muito grande e difícil de ser realizado em pouco tempo. Congonhinhas, localizado no Norte do Paraná, distante 45 quilômetros de Cornélio Procópio, vai mostrar que não é impossível e dará exemplos de sucesso, depois de exatos dois anos, durante a realização do seu 2.º Seminário de Desenvolvimento Rural, marcado para dia 26 de setembro.

A sede do pequeno e pacato município de Congonhinhas, que tem seu nome originário da planta nativa conhecida como falsa erva-mate, abriga a metade de sua população de quase oito mil habitantes. Os 50% restantes estão distribuídos nas comunidades rurais Água Branca, Vitópolis, São Benedito, Patrimônio do Vaz, Valérios, Bairro dos Mineiros, Canedos, Monjolo, nos três assentamentos do Incra, no Banco da Terra Colônia de Agricultores Água Branca e na Vila Rural Francisco Tozzi. São 760 agricultores familiares na atividade agrícola nos mil estabelecimentos rurais existentes.

Na realização do 1.º Seminário de Desenvolvimento Rural, o município, que tem a extensa área cultivada de 63 mil hectares, apresentava poucas alternativas de renda e de ocupação da mão-de-obra para atender as necessidades dos agricultores familiares, lembra o engenheiro agrônomo Luciano Merhy, da Unidade Municipal da Emater-Paraná.

“A metade do território era de pastagem, outros dez mil hectares produzindo soja e trigo e mais de dois mil hectares de canavial”, relata o extensionista, mostrando uma realidade favorável na expulsão das famílias do campo e que fortaleceu a realização do evento, ocorrido dia 21 de setembro de 2001, tendo como tema principal a diversificação da produção agrícola.

Os resultados positivos começaram a aparecer graças atuação conjunta de todos, garante o produtor rural José Carlos Ferreira, presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento de Congonhinhas, citando a participação dos próprios agricultores do município e do apoio prestado pelo governo do Estado através da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, Emater-Paraná e dos programas Paraná 12 Meses e Pronaf.

O primeiro deles foi a entrada da sericicultura, atividade atualmente desenvolvida por 11 criadores que cultivam em média 2,5 hectares cada, produzindo casulos de excelente qualidade, atestada pelos técnicos da indústria Kanebo, de Cornélio Procópio, responsáveis pelo acompanhamento tecnológico e na compra do produto no município.

As mesmas geadas ocorridas no café na safra 2000 que comprometeram a produção da cafeicultura tradicional, estimularam a reorganização do setor e incrementaram a adoção do sistema adensado e das técnicas preconizadas pelo programa Café Qualidade Paraná.

Atualmente 185 cafeicultores familiares cultivam 802 hectares, com produtividade média de 25 sacas beneficiadas por hectare, obtida na última safra. Para garantir a melhoria de qualidade do produto, 26 cafeicultores do São Benedito e do Patrimônio do Vaz construíram, com apoio do programa Paraná 12 Meses, dois secadores comunitários.

Outra conquista dos agricultores familiares de Congonhinhas está na expansão da pecuária leiteira, afirma o extensionista Luciano Merhy, ao citar a participação de 150 criadores na produção de leite, com um rebanho de 13.400 cabeças de gado misto. “O que temos que fazer daqui para frente é melhorar a organização da produção e do produtor”, destaca Merhy.

Uma das principais surpresas na mudança do perfil social e econômico do município fica por conta da evolução da cultura do alho. São 16 agricultores familiares produzindo a média de 10 mil quilos de cabeças de alho em cada um dos 53 hectares em cultivo nessa última safra.

O seu potencial de crescimento está na independência do processamento da semente de alho no próprio do município, obtido pela construção de um barracão que abriga a câmara fria industrial, localizada na comunidade dos Canedos, com aporte financeiro de R$ 34 mil do Programa Paraná 12 Meses e mais R$ 46 mil pelo grupo especializado daquela comunidade, constituído de 11 produtores de alho.

A menina dos olhos do município é sem dúvida a micro usina de açúcar mascavo, produzido de forma orgânica desde o cultivo da cana-de-açúcar até o processamento final, por um grupo de 12 agricultores familiares, que trabalham em regime de mutirão e exportam o produto final.

Esta usina, viabilizada pelo Programa Paraná 12 Meses, Pronaf e o grupo comunitário, é a primeira e derradeira entrada dos produtores rurais de Congonhinhas na agroindustrialização familiar e eles querem mais. Além de ampliar a área para o cultivo de grãos nesta safra de verão que se inicia, incorporando mais de 4 mil hectares pela ocupação das tradicionais áreas de pastagens, querem participar dos projetos regionais de produção industrial de laranja, de uva para suco, de mamona e até do biocombustível.

Por causa de tudo isso, o município realiza, depois de dois anos, o Seminário de Desenvolvimento Rural, programado para o transcurso do dia 26 de setembro, com a expectativa de 400 participantes presentes, “consolidando a diversificação agrícola implementada e mantendo a visão nas novas oportunidades necessárias a qualidade de vida da população congonhinhense”, conclui o prefeito José Olegário.

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