O desempenho da economia no ano que vem deve ser uma continuidade do que aconteceu em 2005. Mudanças na política econômica só devem acontecer em 2007, com ou sem reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois o sistema atual está desgastado. Esta é a opinião do professor e consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Robson Gonçalves, que proferiu palestra ontem sobre as perspectivas econômicas e financeiras para 2006, em evento realizado pela FGV e Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), em Curitiba. ?Acredito que deve continuar a política atual em 2006. Mudar agora é uma estratégia de risco?, afirma.
Para ele, há perspectivas para três cenários econômicos no ano que vem. O primeiro, o mais provável, está relacionado com um crescimento moderado, juros cedendo lentamente e câmbio baixo com aumento de consumo, que reduzem o saldo comercial. Diante desta situação, as previsões indicam incremento de 4% no Produto Interno Bruto (PIB), inflação IPCA de 4,5% ao ano, juros de 10% no final do ano, câmbio médio de R$ 2,25 e superávit comercial de US$ 33 bilhões.
O segundo cenário poderia estar associado a uma indefinição eleitoral, com incertezas quanto ao crescimento, apesar da queda dos juros. A inflação ficaria mais elevada por conta do aumento da especulação sobre o dólar. Neste caso, a diminuição do consumo e o aumento do câmbio favoreceriam o saldo comercial. Seria um ano como o de 2002, quando houve eleições presidenciais, cuja disputa ficou polarizada entre José Serra e Lula. O PIB cresceria 3%, a inflação seria de 6,5%, juros de 8%, câmbio médio de R$ 2,40 e US$ 37 bilhões de superávit comercial.
O último cenário envolveria cortes rápidos nos juros, dólar baixo, crescimento com inflação baixa e redução do saldo comercial. Nestas condições, o PIB aumentaria 5%, a inflação ficaria em 5,5%, os juros seriam de 6%, o câmbio médio giraria em torno de R$ 2,30 e o superávit comercial atingiria os US$ 30 bilhões.
?O cenário base é a continuidade da política econômica, como aconteceu com Fernando Henrique Cardoso em 1998, antes de sua reeleição. Ele já sabia que a política estava esgotada, mas as mudanças foram adiadas para o segundo mandato. O Brasil pode suportar mais um ano com esta política, mas 2006 não será um ano de grandes realizações?, comenta Gonçalves.
De acordo com o vice-presidente de finanças do Ibef, Luiz Afonso Cerqueira, 2006 será uma incógnita por ser um ano eleitoral. ?Deve ocorrer uma liberação maior de recursos para investimento, o que não aconteceu este ano, por incapacidade do governo. O dinheiro injetado na economia vai representar crescimento no primeiro semestre de 2006?, conclui.
Gonçalves acredita que ?2005 foi um ano em que se errou na dose?. A queda no PIB no terceiro semestre, noticiada esta semana, após 3 anos de crescimento, pode ser considerada uma frustração. ?E a taxa de câmbio caiu mais do que todos imaginavam. As exportações só não recuaram porque foram fechados contratos com a expectativa de que o câmbio ficasse em R$ 2,80. A possibilidade de renovação é menor agora. Já é visível a queda nas exportações e o crescimento das importações?, avalia.
O crescimento da economia de 2005 deve fechar abaixo das expectativas iniciais por um conjunto de fatores, como a política monetária centrada na taxas de juros, uma meta de inflação apertada e o comportamento do câmbio que ninguém esperava, na avaliação de Cerqueira.
Gonçalves explica que a freada da atividade econômica no País, após dois anos de altas taxas de crescimento, é resultado da própria política monetária. Esta fase começa em setembro de 2004, com o aumento da taxa de juros. ?A culpada não é a crise política. Há um esgotamento do atual regime de política econômica. É possível manter o combate inflacionário com taxas de juros reais da ordem de 5% ao ano?, diz o professor das FGV. (Joyce Carvalho)