O trabalho policial foi solicitado pelo secretário estadual de Produção, Dagoberto Nogueira Filho, que acredita nessa hipótese. ?Alguém plantou o vírus no rebanho ou houve algum problema com a vacina?, disse.
Ele explicou que a dona da propriedade rural, Emília Vezozzo, cumpre rigorosamente as medidas preventivas contra as doenças do gado. ?Eu conheço toda a família. Eles fizeram o que poucos pecuaristas fazem no Estado. Contrataram veterinários para fazer a imunização contra aftosa e têm certificado dos profissionais que realizaram essa tarefa. A maioria utiliza peões, dispensando despesas com especialistas.? O secretário comentou que a mesma desconfiança existe do lado paraguaio, onde as autoridades consideram o caso ?no mínimo surpreendente?.
Depois de comentar que desde 1999 não acontecia caso do gênero no MS, ressaltou que o governo federal tem uma ponta de culpa no episódio porque não avaliou o tamanho do desastre na economia local e nacional, tampouco a repercussão dos fatos. ?Infelizmente teve que acontecer isto para eles acordarem.?
Indenização
Dagoberto lamentou a dificuldade em solucionar um outro problema conseqüente do foco de aftosa na região sul do MS. Trata-se da indenização dos proprietários da Fazenda Vezozzo. Foram sacrificados e enterrados em valas 582 bois da raça limousin, cujo prejuízo será ressarcido pelo Estado, conforme disse o secretário, enfatizando que ?não temos verba disponível para isso?. Haverá também o ressarcimento das perdas com suspensão da comercialização de carne, leite e derivados. Explicou que ?existe um fundo estadual com esta destinação. Mas primeiro é preciso detectar as razões do foco, se foi criminoso, se é problema com a vacina ou um novo vírus. Também nem sei quanto de dinheiro existe nesse fundo?.
Segundo esclareceu o diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária, Vegetal e Animal, João Crisóstomo Muad Cavalléro, o fundo a que se referiu o secretário estadual de Produção não recebe qualquer verba da União. ?Todo o dinheiro que entra na agência mensalmente soma R$ 1,2 milhão, servido única e exclusivamente para as despesas da instituição?.
Fazendeira diz que vai recomeçar, se governo deixar
Eldorado (AE) -?Vamos arregaçar as mangas e começar tudo de novo.? Assim reagiu a fazendeira Emília Turquino Vezozzo, de 63 anos, depois de presenciar, ontem, o abate do último dos 582 bovinos da sua fazenda, interditada após o surgimento de um foco de aftosa, em Eldorado, no Mato Grosso do Sul. As máquinas enterraram nas valas sanitárias abertas no pasto 40 anos de dedicação à pecuária brasileira, segundo ela. ?Espero que o governo não me faça desistir.?
A atividade foi iniciada pelo pai dela e está, agora, na quarta geração. Seus irmãos, Renato, Luís, Diva, José Moacir e Hélio Turquino, têm fazendas próximas. ?Minha fazenda sempre foi modelo?, orgulha-se a fazendeira. ?Fizemos um bom trabalho de genética com a raça limousin em cruzamentos com o nelore. Muitas das vacas abatidas eram puras.? A propriedade é administrada pelos filhos Luiz Henrique, economista, e Mariza, arquiteta. Outro filho, Marcelo, é empresário do setor de carnes. ?Entregamos ao Iagro não só as notas das vacinas, como os frascos vazios. Tiramos fotos também da marca da vacinação na paleta dos animais.?
Emília pretende redirecionar a propriedade para a agricultura. Ela foi recebida ontem pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, mas não obteve garantia da indenização pelos abates, nem da rápida liberação da área para outras atividades. A fazendeira cobrou também a investigação sobre a origem do surto, pois tem certeza que não houve falha da fazenda. ?Fizemos nossa parte, pois vacinamos o gado e, ao constatar os sintomas, informamos o Iagro. Não queremos ser tratados como bandidos.?