O Banco Central vai observar a evolução do cenário externo, principalmente dos preços do petróleo e dos juros nos Estados Unidos, para só então decidir se põe fim ao ciclo de aumento da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic). Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária, do BC) elevou a taxa pelo sétimo mês seguido, de 18,75% para 19,25% ao ano. O mercado espera que a alta da semana passada seja a última, segundo o boletim Focus divulgado nesta segunda-feira e que ouviu analistas de mais de cem instituições financeiras.
O BC, entretanto, afirmou que precisa esperar para tomar a decisão. ?A existência de alguns focos localizados de pressão na inflação corrente e a deterioração recente no cenário externo, com nova escalada nos preços do petróleo e maior incerteza acerca da condução da política monetária norte-americana, aumentaram os riscos a que estão sujeitas as perspectivas de convergência da inflação para a trajetória de metas, em relação ao que havia sido avaliado pelo Comitê na reunião de fevereiro?, afirma o BC na ata da reunião do Copom divulgada ontem.
Diante disso, o Copom informou que vai ?acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na estratégia de política monetária implementada desde setembro de 2004?.
Selic
O BC também avalia que os efeitos do processo de aumento da taxa básica de juros já estão presentes na economia.
?O comitê considera que os efeitos do ciclo de aumento da taxa de juros iniciado em setembro de 2004 já se fazem sentir tanto nos resultados mais favoráveis da inflação no início do ano como nas projeções de inflação para horizontes mais longos realizadas pelo Banco Central e pelos analistas do setor privado. A atividade econômica continua em expansão, mas a um ritmo menor e mais condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação?, diz o documento.
De acordo com a ata, foi a atuação do Copom que evitou a propagação dos efeitos da inflação de curto prazo, causada por reajustes de preços administrados acima do esperado, tivesse efeito em um horizonte mais longo.
?As expectativas para a inflação doze meses à frente e para 2006 permanecem estáveis, sugerindo que a postura monetária mais restritiva tem evitado que as pressões inflacionárias de curto prazo não se propaguem para horizontes mais longos.?
O Copom trabalha para manter os preços sob controle. A meta de inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para este ano é de 4,5%, com intervalo de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. No entanto, desde setembro o BC trabalha com um objetivo de 5,1%.
Apesar de ver a inflação estável nos próximos meses, a autoridade monetária alerta que os riscos de curto prazo dificultam a avaliação sobre o comportamento da inflação, e por esse motivo, o BC continuará ?vigilante? para evitar possíveis pressões inflacionárias que possam ter efeito no longo prazo.
?Cabe à política monetária, portanto, manter-se especialmente vigilante para evitar que pressões detectadas em horizontes mais curtos se propaguem para horizontes mais longos?, diz o documento.
Vigilância
O Copom ainda vê uma deterioração do cenário externo e uma incerteza maior sobre a condução da política de juros nos Estados Unidos.
Por isso, o BC volta a alertar, assim como na ata do mês passado, que poderá ?adequar às circunstâncias o ritmo e a magnitude do processo de ajuste da taxa de juros básica, caso venham a exacerbar-se os fatores de risco acompanhados pelo comitê?.
BC diz que gasolina não vai subir
A recente elevação do preço do petróleo no mercado internacional não foi suficiente para o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) mudar sua previsão em relação ao preço da gasolina no mercado interno, mesmo com ?um grau razoável de incerteza? sobre o produto. A ata da última reunião do Comitê, que elevou a taxa básica de juros da economia para 19,25% ao ano, mantém a previsão de que o preço da gasolina não irá subir neste ano. O mesmo ocorre em relação aos preços do gás de botijão.
O Copom vê com atenção o comportamento dos preços do petróleo, e lembra que as cotações alcançaram níveis bastante elevados.
?Os preços internacionais do petróleo voltaram a subir de forma quase contínua desde a segunda semana de fevereiro, atingindo recentemente níveis superiores aos alcançados em outubro passado. O comportamento dos preços reflete informações acerca das condições de demanda e do estoque disponível de petróleo nos principais países consumidores – em especial, em virtude de condições climáticas no hemisfério norte – assim como possíveis restrições na oferta por parte dos países produtores?, diz a ata.
Antes da reunião do Copom, realizada na semana passada, o preço do petróleo ficou acima de US$ 56. No entanto, ontem, caiu abaixo de US$ 54 com o fim do inverno no hemisfério norte – período de maior consumo do óleo.
Com a elevação, de acordo com o documento, os preços internacionais da gasolina estão acima dos praticados no mercado interno. Por isso, mesmo com a previsão de não ocorrer um reajuste, o Copom lembra que outros insumos derivados do petróleo podem sofrer elevações.
?É importante assinalar que esse quadro externo mais desfavorável passou a representar um risco maior para a trajetória futura da inflação do que havia sido avaliado na reunião de fevereiro do Copom. Como ressaltado em ocasiões anteriores, ainda que essa escalada recente não se traduza em aumento doméstico no preço da gasolina, ela tem efeitos sobre os preços de insumos de derivados do petróleo e sobre as expectativas dos agentes econômicos.?
Reajustes
O Copom manteve também as previsões de reajustes para as tarifas de telefonia fixa e energia elétrica em 8,7% e 9,5%, respectivamente, em 2005.
A expectativa em relação a todos os itens administrados por contrato ou monitorados passou de 6,7% para 6,9% neste ano. Para 2006, a previsão foi mantida em 5,1%.
O Copom está distante da realidade
O esforço do Banco Central (BC) em segurar o preço da gasolina, e assim tentar evitar a alta da inflação, pode não alcançar os resultados esperados. É que mesmo sem o aumento oficial pelo governo federal no preço dos combustíveis, a gasolina não pára de subir.
Em Curitiba, em pouco mais de um mês o litro da gasolina comum sofreu uma sucessão de reajustes, passando de R$ 1,99 para R$ 2,39 na maioria dos postos. Segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a margem de lucro dos revendedores de combustíveis em Curitiba passou de R$ 0,11 na terceira semana de fevereiro para R$ 0,30 na semana passada. Com isso, o preço médio do litro da gasolina comum saltou de R$ 2,05, média de fevereiro, para R$ 2,29 na semana passada.
Com o avanço dos preços em tão pouco tempo, o peso na inflação se torna inevitável. De acordo com o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, regional Paraná (Dieese-PR), Cid Cordeiro, caso março feche com o preço médio da gasolina a R$ 2,28, o impacto sobre a inflação em Curitiba será de 0,45%.