Rio
– Os investidores não devem se deixar levar pelo nervosismo extremo que tomou conta do mercado financeiro nas últimas semanas. Os analistas são categóricos: a recomendação é mexer o menos possível nas aplicações. Para quem pensa em começar a formar uma carteira de investimentos ou mesmo aplicar em fundos, o conselho é um só: muita calma nessa hora. O ideal é procurar aplicações conservadoras, que tragam o menor risco possível.– Há muita incerteza no mundo todo. No exterior, temos a iminência de uma guerra entre os Estados Unidos e o Iraque, o que afetaria a economia global. No Brasil, o problema é a transição política. Nesse contexto, o investidor tem que privilegiar a liquidez da aplicação – diz João Adamo, diretor-executivo da consultoria financeira pessoal MaxBlue. Traduzindo, o aplicador tem que pensar, antes de mais nada, se poderá dispor do dinheiro a qualquer momento.
Para Renato Ramos, diretor de renda fixa do HSBC Investment Bank, o mais aconselhável é aplicar em fundos de renda fixa e DI que investem em títulos de curtíssimo prazo, com vencimento em até um ano.
– Eles trazem pouca oscilação à carteira pois refletem menos as incertezas com o futuro do governo. Em cenário de manutenção de juros elevados até o fim do ano, essas aplicações garantem pelo menos a taxa básica, que está hoje em 18% ao ano – explica.
Já Octávio Vaz, sócio da Questus Asset Management, adverte que os títulos do governo estão sofrendo deságio (desvalorização) por causa da desconfiança em relação à capacidade de o Tesouro honrar os pagamentos.
– Os fundos DI não são mais o porto-seguro que todo mundo acreditava.
Para Diniz Bernardo Nunes, diretor de administração de recursos do banco BBA, fundos atrelados a índices de inflação, como o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), por exemplo, também são uma boa alternativa.
– Com a expectativa de inflação mais alta no ano que vem, esse fundos devem manter o poder de compra dos investidores.
Aos que estão seduzidos pela escalada do dólar, um alerta: a aposta na valorização da moeda pode se transformar num tiro no pé.
– A única certeza que se tem hoje é de que o dólar vai oscilar, mas isso pode acontecer tanto para cima quanto para baixo. Quem tentar especular pode sair perdendo – diz Ramos, do HSBC.
O investidor também deve fugir do troca-troca de investimentos. Luís Carlos Ewald, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra que, ao sair de uma aplicação para outra, o investidor paga CPMF.
– Parece que 0,38% é pouco, mas dependendo do montante investido, esse percentual pode pesar no bolso.
O diretor do banco Banif Primus, Germano Guimarães, lembra que, quando se vende uma ação para comprar cotas de fundo ou um Certificado de Depósito Bancário (CDB), por exemplo, paga-se imposto. A única compra que é isenta de impostos é a de ações.
A orientação dos analistas
FUNDOS DI: Em agosto, renderam 1,33% e acumulam ganhos de 16,38% nos últimos 12 meses. Esse tipo de aplicação pode trazer perdas caso o mercado continue temendo que o governo eleito não pague seus títulos. O investidor deve perguntar ao seu gerente ou gestor do fundo qual é o prazo médio de vencimento dos papéis. Quanto maior o peso dos papéis de longo prazo, maior o risco da aplicação.
FUNDOS DE RENDA FIXA: Tiveram rentabilidade de 1,43% em agosto e 15,39% nos últimos 12 meses. São considerados conservadores mas correm os mesmos riscos dos DIs, por deterem em carteira títulos do governo brasileiro.
FUNDOS CAMBIAIS: Perderam 1,91% em agosto, mas nos últimos 12 meses embolsaram ganhos de 16,75%. Segundo Octávio Vaz, da Questus, continuar apostando na alta do dólar é ficar “no fio da navalha”. Os analistas só recomendam esse tipo de aplicação para quem tem dívidas em dólar.
AÇÕES: Em agosto, a bolsa rendeu 7,97%, mas as perdas chegam a 19,08% nos últimos 12 meses. Analistas alertam que esse é um investimento só para longo prazo.
