Ministra diz que não, mas Petrobras admite nova alta

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Postos nem bem reajustaram
o preço e nova alta já é prevista.

O novo reajuste do preço dos combustíveis mal chegou às bombas, e a Petrobras já fala em possível aumento ainda este ano. A declaração foi dada ontem pelo diretor de Finanças e Relações com Investidores da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Segundo ele, um novo possível reajuste neste ano vai "depender do mercado". Ou seja, da cotação do petróleo no mercado internacional. Com o reajuste de 4,2% na gasolina e de 8% no diesel, que entrou em vigor ontem, o litro da gasolina em Curitiba, que antes era encontrado por até R$ 1,97, chegou a R$ 2,28 em alguns postos.

Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis no Paraná (Sindicombustíveis-PR), Roberto Fregonese, não há espaço para nova alta até o final do ano. "Não tem clima para subir mais uma vez", declarou. Foi o segundo aumento promovido pela Petrobras nos últimos 42 dias, e o terceiro do ano. Para o consumidor, foi o quarto reajuste, já que no início de novembro as distribuidoras elevaram o preço do álcool em 14% – o que levou a um aumento médio de 2,9% na gasolina, que tem 25% de álcool na sua composição.

Nos postos de Curitiba, o que se via ontem era uma infinidade de preços. Em um posto da bandeira BR, ao lado da rodoferroviária, o litro da gasolina comum passou de R$ 1,97 para R$ 2,07 – aumento de 5%. No posto GT, também bandeira BR, o aumento foi maior: o litro passou de R$ 2,05 para R$ 2,19, ou seja, aumento de quase 7%. Para o gerente do posto, Emerson Moreira Pires, o reajuste por parte das distribuidoras também foi elevado. "Não tem como segurar o preço", afirmou. Para o gerente, os novos valores não devem se sustentar por muito tempo. "A concorrência é acirrada. Daqui uma ou duas semanas, o preço cai." O litro do óleo diesel, no mesmo posto, passou de R$ 1,52 para R$ 1,69.

Em Curitiba, o preço médio da gasolina está entre R$ 2,09 e R$ 2,19. Apesar disso, em alguns estabelecimentos o preço chega a R$ 2,28. É o caso de um posto da bandeira BR, no bairro Juvevê, que estava vendendo ontem o litro da gasolina a R$ 2,289. Segundo a funcionária do posto, o preço anterior era R$ 2,19. "Os preços cobrados no primeiro dia depois do aumento não são reais. Só na próxima semana o mercado deve se estabilizar", apontou Fregonese, do Sindicombustíveis-PR.

Preço do petróleo

Após atingir US$ 55,67 em outubro, o barril de petróleo recuou para patamares mais próximos a US$ 49 em Nova York nesta semana. O mercado acredita que, permanecendo nesses patamares, não haveria mais necessidade de elevar o preço dos combustíveis no Brasil por causa do petróleo.

Entretanto, caso o preço da commodity volte a subir, poderia haver um novo aumento. Na ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) divulgada ontem, os diretores do Banco Central admitem que novas turbulências no mercado de petróleo poderiam ter impacto sobre a inflação e levar a um aumento mais agressivo da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic).

Eleições

Além de não descartar possível aumento do preço dos combustíveis até o final do ano, o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, também admitiu que a estatal foi influenciada pelas eleições municipais em suas decisões de reajuste. No dia 14 de outubro, a empresa reajustou a gasolina em 4%.

O mercado e o BC avaliaram que o aumento não era suficiente para cobrir a defasagem do preço interno com o mercado internacional e falaram abertamente que seria necessário um novo reajuste.

A Petrobras, entretanto, adiou o anúncio do novo aumento, que foi realizado apenas na quinta-feira. Questionado se a Petrobras levou em consideração as eleições em sua avaliação do mercado, Gabrielli disse: "A eleição é um fenômeno político que afeta a economia tanto no Brasil como no exterior. Nós levamos isso em conta, nós estamos no mundo real".

A afirmação contradiz todo o discurso adotado pela diretoria da Petrobras nos últimos meses. Os diretores da empresa sempre afirmaram que a política de preços da empresa leva em consideração apenas critérios técnicos.

Dilma nega novo aumento

A afirmação do diretor de Finanças e Relações com Investidores da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, sobre o novo possível aumento de combustíveis ainda este ano contraria a declaração da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Na quinta-feira, ela garantiu que o reajuste dos combustíveis, anunciado pela Petrobras, é o último do ano. A ministra disse ainda que os preços dos combustíveis não deverão sofrer reajuste no início de 2005.

Com o novo reajuste anunciado pela Petrobras – o terceiro no ano – a gasolina já acumula em 2004 alta nas refinarias de 23,4% e o diesel, de 29,3%. "Este aumento é o último do ano", afirmou Dilma. Segundo ela, o reajuste foi necessário por conta da alta do preço do petróleo no mercado internacional, que tem variado entre US$ 40 e US$ 45 o barril do Brent.

Alta do diesel vai impactar o frete

A Associação Nacional do Transporte de Cargas & Logística, entidade que representa empresas do setor, anunciou ontem que o custo do frete do transporte rodoviário de cargas deve aumentar cerca de 8% a partir de segunda-feira por causa do aumento do diesel. A Petrobras anunciou na quinta-feira um reajuste de preços nas refinarias de 4,2% para a gasolina e de 8% para o diesel.

Os percentuais de alta nas refinarias são maiores do que os reajustes na bomba, já que parte dos preços é composta por impostos, que se mantiveram estáveis.

Segundo a associação, os transportadores estavam segurando os repasses desde outubro, quando a Petrobras aumentou a gasolina em 4% e o diesel em 6%. Além disso, a associação alega que outros insumos tiveram aumentos entre junho e novembro. Citando dados da Fipe/USP, a entidade diz que também houve altas em carroçarias (21,27%), recapagem (14,7%), óleo de cárter (9,05%), seguros (7,71%), veículos (6,04%), despesas administrativas e de terminais (5,08%), pneus (3,8%) e salários (2%).

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