O Ministério da Agricultura confirmou ontem a existência de seis novos focos de febre aftosa no Paraná. Além da Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira – apontada como foco da doença no dia 6 de dezembro -, foram declarados casos em duas propriedades rurais no município de Loanda, duas em Maringá, uma em Grandes Rios e outra em Bela Vista do Paraíso. Nas seis fazendas, o rebanho estimado é de 4,5 mil cabeças de gado. O Ministério da Agricultura já autorizou o governo do Estado a sacrificar os animais.
Com a confirmação dos novos casos pelo Ministério da Agricultura, sobe para sete o número de propriedades com focos da doença no Estado. São elas: Fazenda Flor do Café, em Bela Vista do Paraíso; Fazenda Santa Izabel, em Grandes Rios; Fazenda Cesumar e Fazenda Pedra Preta, em Maringá, Fazenda Alto Alegre e Fazenda São Paulo, em Loanda, além da Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira. As seis confirmadas ontem já estavam interditadas pelo serviço veterinário estadual.
Para evitar um impacto negativo do anúncio nos países importadores, a Secretaria de Defesa Agropecuária caracterizou os novos focos como ?confirmação das suspeitas? anunciadas pelo vice-governador e secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, Orlando Pessuti, em outubro. Das seis propriedades, duas – a Fazenda Santa Izabel, em Grandes Rios e a Fazenda Cesumar, em Maringá – estavam entre as quatro propriedades declaradas como suspeitas do foco no dia 21 de outubro.
O superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Paraná (Mapa), Valmir Kowaleski, admitiu que houve demora em divulgar o resultado das 2.205 amostras, colhidas em animais de dez fazendas no início de janeiro. ?Houve esse atraso exatamente para que se fizesse uma análise técnica, exaurindo todos os debates sobre o assunto para chegar a essa conclusão?, justificou o superintendente.
Como no caso de São Sebastião da Amoreira, o ministério não conseguiu isolar o vírus da aftosa. Por isso, optou por decretar os novos focos com base em estudos epidemiológicos e a ?nítida vinculação? entre os resultados positivos com os focos originais da doença em Mato Grosso do Sul.
Segundo Kowaleski, os proprietários das seis fazendas estão sendo notificados pelos Núcleos Regionais da Seab. Assim como ocorreu no caso da Fazenda Cachoeira, a Comissão de Avaliação, Taxação e Sacrifício irá até as fazendas para contar o número de animais, pesar e, com base no preço de mercado, estipular a indenização que cada um dos proprietários irá receber. ?Nosso apelo é para que eles dêem a autorização para o sacrifício, para fazermos o saneamento o mais rápido possível?, pediu o superintendente, criticando a onda de ações e liminares. ?O Brasil não pode mais ser prejudicado.? Nenhum representante da Seab informou ontem se o sacrifício terá de ser aprovado pelo Conesa, antes de ser concretizado.
Levantamento do Sindicato da Indústria de Carnes no Paraná (Sindicarne-PR) aponta que o Paraná já perdeu em quatro meses – do dia 21 de outubro, quando foi anunciada a suspeita da doença, até hoje – quase R$ 300 milhões: R$ 197 milhões em exportações de suínos, bovinos e aves e outros R$ 100 milhões devido às barreiras sanitárias de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Quarenta
Agora são 40 – 33 deles no Mato Grosso – o número de casos de febre aftosa diagnosticados no rebanho do País desde outubro do ano passado, quando um surto do vírus interrompeu um período de mais de um ano sem registro da doença em território nacional. No total, 56 países embargaram de forma parcial ou integral as importações de carne do Brasil.
Diante da notificação feita pelo Ministério, a Secretaria da Agricultura informou ontem que está tomando todas as medidas de caráter sanitário para, o mais rapidamente possível, juntamente com o Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária (Conesa) e o Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Paraná (Fundepec), restituir a condição sanitária de zona livre de febre aftosa, com vacinação.
Pagamento de 50% é exigido e sacrifício está indefinido
O sacrifício dos 1.795 animais da Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, não deve ocorrer esta semana, conforme era esperado. Ontem, a juíza federal Vânia Hack de Almeida, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª Região, acatou o pedido do advogado da fazenda, Ricardo Jorge Rocha Pereira, e negou seguimento ao agravo por ela despachado.
Desta forma, a decisão válida volta a ser a que estipula o abate dos animais desde que a União faça prévio depósito em juízo de R$ 1,285 milhão, com liberação imediata de 50% ao proprietário dos animais, André Carioba.
A magistrada havia julgado o recurso da União baseado na primeira liminar emitida pelo juiz federal Cléber Sanfelici Otero, que impedia o sacrifício dos animais enquanto não ficasse comprovada a contaminação do rebanho. Após analisar o recurso, Vânia havia suspendido a decisão e autorizado o abate sem referir a questão do depósito.
Recorre
A Advocacia Geral da União (AGU) confirmou que entrou ontem com agravo de instrumento no TRF, em Porto Alegre, tentando derrubar a liminar que obriga o depósito em juízo da indenização. ?Estamos aguardando os aspectos legais, mas já estão sendo tomadas providências para o sacrifício?, afirmou o superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, Valmir Kowaleski. Entre estas medidas estão a abertura das valas e o seu isolamento, através de uma manta texturizada para impermeabilizar o chorume da decomposição dos animais, conforme determina laudo do Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
Amanhã, segundo Kowaleski, integrantes da Comissão de Avaliação irão à Fazenda Cachoeira para conversar com o proprietário André Carioba.
Sobre o tempo que o Paraná deve levar para recuperar o status de livre de aftosa com vacinação, Kowaleski preferiu não arriscar. ?Qualquer previsão, no momento, é futurologia. É importante lembrar, porém, que só é contado o tempo depois do último foco ser saneado?, afirmou. Em caso de sacrifício sanitário, o tempo é de seis meses após o último animal ser morto. Já no caso de abate comercial, o tempo é de 18 meses. (LS)
Brasil nega denúncia de que esteja pagando propina aos russos
Rio (AE) – O embaixador da Rússia no Brasil, Vladimir Tyurdenev, e o chefe de gabinete do Ministério brasileiro da Agricultura, Maçao Tadano, disseram não acreditar no pagamento de propina por produtores brasileiros para liberação de entrada de carne na Rússia. ?Para mim é uma notícia um pouco estranha, me parece invenção de quem quer conseguir algo?, disse Tyurdenev. ?Nós desconhecemos essa prática e não acreditamos nisso?, emendou Tadano.
O embaixador russo disse que as autoridades do seu país não aceitariam a propina e ameaçou: ?Isso é ilegal. Se houve prova de que isso é feito, a situação para os exportadores (brasileiros) vai piorar.?
Exportadores brasileiros estariam subornando funcionários russos para furar o embargo decretado por causa da febre aftosa. O valor da propina seria US$ 125 por tonelada de carne. Tyurdeney e Tadano participaram ontem de seminário no Rio, onde comentaram a denúncia.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Marcus Vinicius Pratini de Moraes, disse que a entidade nega qualquer envolvimento de seus associados em prática de propina e afirmou acreditar que a denúncia possa ter sido inventada por concorrentes no Brasil. ?Isso me parece mais uma dessas coisas de concorrentes do Brasil que ficam nos colocando problemas?, disse.
