O atual cenário do minério de ferro acendeu o sinal amarelo em torno dos negócios das mineradoras, no entanto, a Vale é vista como a empresa do setor mais protegida em relação à redução dos preços e só uma queda mais brusca afetaria de fato a lucratividade da brasileira.
Por ser detentora do minério de melhor qualidade do mundo e dona do título de mineradora de mais baixo custo, a companhia está em melhor posição competitiva em relação aos concorrentes, embora o preço mais baixo já esteja batendo em seus dados financeiros. Neste ano, o minério acumula perdas de 28%.
“Quando os preços do minério de ferro caírem a ponto de atingir a Vale de fato, todas as outras mineradoras do mundo já terão sido impactadas muito antes”, disse o especialista em mineração e ex-diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), José Mendo de Souza, e consultor da J.Mendo.
Neste ano, o preço do minério de ferro registrou a mínima em quase dois anos, batendo US$ 89 a tonelada no mercado à vista chinês no mês passado. Na quinta-feira (03) estava em US$ 96,5 a tonelada na China.
Segundo cálculos do UBS, o ponto de equilíbrio (break even point) do preço do minério para a Vale, ou seja, valor que separa a atividade lucrativa daquela que gera perdas, é de US$ 68 a tonelada na China.
“A Vale é muito lucrativa com o minério em US$ 100 a tonelada”, afirma o analista do banco suíço Andreas Bokkenheuser. Embora os preços estejam neste momento um pouco abaixo desse valor, a previsão é de que fiquem em torno de US$ 100 neste terceiro trimestre, segundo especialistas consultados pela reportagem.
“Acreditamos que os preços serão suportados ao longo das próximas quatro a seis semanas devido à atividade sazonal da construção na China”, afirma Bokkenheuser.
Em relatório recente, o BTG Pactual destacou que, na sua visão, o preço médio para este ano ficará em US$ 105 a tonelada, mesmo valor projetado para 2015. Para o longo prazo, iria para US$ 90.
“Em nossa opinião, a única razão para reduzir Vale é se os preços caírem em torno de US$ 80, um cenário que consideramos improvável”, de acordo com os analistas Leonardo Correa, Luiz Fornari e Antonio Heluany.
A recomendação do BTG para as ações da Vale é de compra. Os analistas do BTG destacam que a maioria da indústria de minério de ferro ficaria em grande pressão com os preços no patamar de US$ 80 a tonelada.
Um dos pontos que merece ser olhado, lembram, é como será a reação das mineradoras chinesas em relação à queda ainda maior dos preços do insumo, já que grande parte dessas companhias é de custo elevado.
Os profissionais lembram que em setembro de 2012, quando os preços caíram abaixo de US$ 90 a tonelada, algumas mineradoras locais suspenderam atividade.
No mercado, a percepção é de que a Vale conseguiu ao longo dos últimos anos ampliar a sua posição competitiva, tendo em vista que os investimentos em logística a aproximou de seu principal mercado consumidor, a China. A diferença da distância entre Brasil e Austrália para a China sempre foi um ponto a favor das australianas BHB Billinton e Rio Tinto.
No primeiro semestre deste ano, por exemplo, o centro de distribuição da Vale na Malásia começou a receber os navios Valemax, que possuem capacidade para carregar 400 mil toneladas, que foram banidos dos portos chineses em 2012.
Nele a Vale irá estocar minério e assim poderá atender com mais proximidade seus clientes asiáticos. Neste ano, um dos fatores de pressão sobre os preços do minério de ferro é a entrada de novas capacidades.
A previsão é de que as quatro maiores mineradoras do mundo irão adicionar uma oferta de 100 milhões de toneladas por ano no mercado internacional até 2015. Outro ponto que gera cautela é a preocupação em torno da atividade econômica chinesa.
No entanto, de janeiro a maio, a produção de aço ainda registrou alta na relação anual. Segundo a Associação Mundial do Aço (WSA, na sigla em inglês), a produção de aço na China subiu 2,7% nos cinco primeiros meses do ano, para 342,519 milhões de toneladas.