Cerca de 1,1 mil bois confinados morreram na semana passada com suspeita de botulismo na Fazenda Monica Cristina, em Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul. O Estado é um dos principais produtores de boi para corte do País, com 20 milhões de cabeças.
Especialistas do setor dizem que, nos últimos anos, não se lembram de uma mortalidade tão grande de animais no rebanho nacional causada por doença. O prejuízo estimado da 7 Pecuária, dona do rebanho, que estava quase pronto para o abate, é de R$ 2 milhões.
Luciano Chiochetta, diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro), disse que até sexta-feira deverá sair o laudo veterinário sobre o que provocou as mortes. Pelos sintomas apresentados pelos animais – paralisia dos membros e parada cardiorrespiratória – e pelo fato de ter sido encontrado bolor na silagem, há suspeitas de que as mortes tenham sido causadas por intoxicação pela ingestão de toxina botulínica.
“A intoxicação é alimentar e não se trata de um doença infecto contagiosa”, explicou Chiochetta. Isso significa que não há risco de que a doença se propague e contamine os rebanhos de fazendas vizinhas.
O produtor Persio Ailton Tosi, dono do rebanho, informou por meio de nota que “todas as providências pertinentes foram tomadas, em irrestrita obediência ao Iagro e à Delegacia Federal de Agricultura, enterrando os animais em valas de quatro metros de profundidade”.
De acordo com o produtor, todos os animais da sua propriedade tinham sido vacinados contra botulismo. Chiochetta explicou que a vacina não é obrigatória como a da febre aftosa e trata-se de um “recomendação técnica”. Segundo ele, mesmo vacinados, os animais não estão livres de contrair a doença, dependendo no nível de contaminação a que foram expostos.
Danos
“Em mais de 30 anos no mercado, não me lembro de uma ocorrência desse tamanho”, disse o diretor da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, em referência ao número de animais envolvidos. Levando em conta que o valor de cada boi pronto para abate gira em torno R$ 1.800, o prejuízo para o produtor é de R$ 2 milhões.
O vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto, disse que não se lembra de algo com essa proporção. Ele explicou que, no caso da febre aftosa, o animal não morre por causa da doença, isso é raríssimo, observou o especialista. Nesse caso, o boi acaba sendo abatido para evitar a propagação da doença. “Na aftosa ocorre o abate sanitário.”
Tanto para Chiochetta quanto para Camargo Neto, esse episódio não deve arranhar a imagem da carne brasileira – que vem sendo afetada nos últimos meses por outras ocorrências – aos olhos dos compradores internacionais. Isso porque se trata de uma contaminação de um rebanho de forma isolada. “É um caso isolado. O problema está na ração, não no animal”, disse Camargo Neto.
Em relação à possível contaminação do consumidor que venha a ingerir a carne de um boi contaminado, Camargo Neto explicou que no abate há uma obrigação imposta pelo Ministério da Agricultura de que o animal seja inspecionado vivo e depois de abatido.
O Ministério da Agricultura informou, por meio de nota conjunta com a Iagro, que “estão sendo tomadas medidas necessárias para identificação da causa e a resolução do problema”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.