Os metalúrgicos de Curitiba e Região Metropolitana prometem entrar em greve por tempo indeterminado a partir de amanhã, como forma de pressionar as recém-iniciadas negociações com os sindicatos patronais (Sindimetal e Sindimaq) e com as empresas. Ontem, mais de 6 mil trabalhadores da Robert Bosch, Case New Holland, New Hübner, Trox e Molins – na Cidade Industrial de Curitiba – realizaram paralisações de uma hora por turno. O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba encaminhou ofícios à direção das empresas comunicando a possibilidade de greve dentro de 48 horas, conforme aprovado em assembléias realizadas na semana passada.
A negociação em curso abrange cerca de 3,3 mil empresas que empregam 30 mil metalúrgicos com data-base em primeiro de dezembro. A categoria já havia garantido o reajuste integral pelo INPC na campanha emergencial concluída em junho, mas agora apresentou novas reivindicações: aumento real de 10,7% – referente a recomposição das perdas inflacionárias acumuladas desde 1998; redução da jornada de trabalho para 42 horas semanais em janeiro de 2004 e 40 horas em julho; unificação do piso R$ 650, garantia do pagamento da multa do FGTS; Participação nos Lucros e Resultados (PLR), e custeio de tratamentos e remédios em caso de acidentes e doenças do trabalho.
“O INPC deve fechar na casa de 13%, mas durante o ano houve picos de 20%”, diz Clementino Vieira, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos. De dezembro de 2002 a outubro de 2003, a variação do INPC é de 12,34%. Falta apenas o fechamento da inflação em novembro para se definir o percentual de reajuste a ser aplicado nos salários em dezembro. “O trabalhador teve prejuízo, por isso queremos discutir aumento salarial real”, afirma Vieira. Hoje o piso salarial dos trabalhadores da base do Sindimetal é de R$ 425, enquanto os do Sindimaq recebem R$ 483.
Novas paralisações estão programadas para hoje. A partir das 5h, haverá concentração na Bosch, a maior metalúrgica do Paraná, com 3,5 mil trabalhadores, e na seqüência haverá protestos em outras empresas. Vieira informou que, num segundo momento, o movimento atingirá também as metalúrgicas localizadas em São José dos Pinhais.
Patronal
O Sindimetal (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado do Paraná), que representa 2 mil empresas da Grande Curitiba, realizou ontem, no final da tarde, a primeira assembléia patronal para apreciar a pauta dos trabalhadores – dez dias após o recebimento do documento, como prevê a legislação. A reunião não havia terminado até o fechamento dessa edição. Para o presidente do Sindimetal, Roberto Karam, não faz sentido a negociação direta com as empresas, já que a pauta apresentada é a mesma. “As empresas associadas estão respondendo que esperam a negociação do sindicato”, informa.
Karam ressalta que a negociação antecipada já garantiu 11% de reajuste salarial em junho. “Assumimos, por e
escrito, o compromisso de incorporar nos salários a diferença do INPC em dezembro. A rigor, esta seria a única negociação”, declara, ressalvando que a pauta seria analisada pelos associados da entidade. Na avaliação do presidente do Sindimetal, será difícil conceder aumento real porque o ano foi recessivo. “Tirando as exportações, a indústria nacional andou para trás”. As vendas da indústria paranaense caíram -12% até setembro, conforme a Fiep.
Em relação ao piso salarial, seria proposta na assembléia patronal a criação de pisos diferenciados para micro e pequenas empresas. Sobre outros itens da pauta, como a redução da jornada, Karam comenta que são temas negociados na reforma trabalhista. “São assuntos que extrapolam os nossos sindicatos”, avalia.
Reintegração na Repar
O Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro) retardou ontem a entrada de funcionários operacionais e administrativos da Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), em Araucária. A manifestação, que começou às 7h30 e durou aproximadamente uma hora, foi um ato simbólico para comemorar a reintegração do último trabalhador demitido da refinaria na greve de 94/95. A produção não foi prejudicada porque os trabalhadores do turno anterior continuaram trabalhando durante a manifestação.
Em setembro de 94, a categoria deflagrou greve nacional por causa das dificuldades na negociação do acordo coletivo. Em outubro daquele ano, os petroleiros, a CUT e o governo Itamar Franco assinaram acordo que previa, além do retorno às negociações, a promessa de não haver demissões em caráter retaliatório ao movimento grevista. “Entramos em uma greve histórica (em maio de 95), que durou 30 dias, para que o acordo fosse cumprido”, relata Anselmo Ernesto Ruoso Júnior, presidente do Sindipetro. Após a greve, 59 empregados foram demitidos pela Petrobras, sendo nove da Repar.
A categoria se mobilizou para manter os trabalhadores demitidos. A nova gestão da Petrobras se comprometeu a resolver as demissões de 94/95. Antônio Monteiro, o funcionário da Repar que voltou ao trabalho ontem, dependia da homologação judicial para ser reintegrado, mas o acordo coletivo 2003/2004 permitiu o retorno imediato antes da decisão judicial. “Fizemos o ato simbólico para comemorar a justiça de um erro passado cometido. É o resgate da nossa história e da dignidade dos trabalhadores petroleiros”, afirma o presidente do Sindipetro.