São Paulo (AE) – Os trabalhadores da Volkswagen aprovaram ontem, em assembléia, um acordo costurado entre empresa e sindicato que permitirá a demissão de 3.600 dos 12.400 funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo (SP). No entanto, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, e representantes da comissão de fábrica receberam muitas vaias dos funcionários da empresa durante a assembléia.

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O acordo para a demissão tem dois pontos principais. O primeiro é a concessão de um pacote de incentivos para a demissão voluntária, que varia de 0,3 a 1,4 salário adicional por ano trabalhado, conforme a data de adesão. O plano será feito em 11 etapas, e as demissões ocorrerão entre o próximo mês de novembro até dezembro de 2008.

O segundo ponto-chave é a promessa de que na fábrica de São Bernardo serão fabricados dois novos modelos até 2009.

Fox Europa

O início das vendas do compacto Fox para a Europa, no ano passado, foi visto como uma nova etapa da indústria automotiva brasileira. Pela primeira vez, um carro desenvolvido no Brasil seria vendido em volume significativo para aquele continente. O projeto da Volkswagen era exportar 100 mil unidades ao ano para vários países europeus. Passado pouco mais de um ano desde o lançamento em Copenhague, na Dinamarca, a montadora decretou o fim da exportação do Fox Europa.

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O presidente da Volkswagen, Hans-Christian Maergner, disse que o câmbio valorizado acabou com a competitividade do veículo. ?A matriz alemã vai substituir o Fox pelo Polo que será fabricado na Rússia em 2009.? O carro brasileiro é vendido por cerca de 10 mil euros, mas deixou de ser atraente para os consumidores da região.

Nos próximos três anos, o envio de Fox será reduzido gradativamente. Este ano devem ser exportadas 60 mil unidades, no próximo serão 30 mil e em 2009 as últimas 7 mil unidades.

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A fábrica do ABC paulista produz só a versão européia, que exigiu investimentos de R$ 99 milhões. A unidade do Paraná concentra a produção para o mercado interno, América Latina e parte destinada à Europa. Para obter aval da matriz para produzir o Fox, a Volks do Brasil disputou com outros países. Até o presidente Lula fez coro com trabalhadores do ABC para que a fábrica ficasse com o projeto.

Outras montadoras apontam a política cambial e altos custos de produção no Brasil como responsáveis pela suspensão de vendas externas. A GM perdeu contrato de 25 mil Corsas e Astras que iriam para a Venezuela, Equador e Colômbia, mas encontraram preços melhores na Coréia. Só em unidades desmontadas, a GM deve reduzir as vendas em 30% este ano. Outro contrato de 12 mil Merivas para o México saiu do Brasil e foi para a Espanha.

Maergner calcula que as exportações da Volks, que até o ano passado correspondiam a 42% da produção, deverão baixar para 32% este ano e continuarão caindo em 2007.

Nos anos 90s, o Brasil atraiu montadoras que pretendiam estabelecer bases de exportação no País. ?Agora isso é cada vez menos provável?, disse o diretor da consultoria A.T.Kearney, Richard Dubois. Segundo ele, os sinais do governo são de poucas mudanças na política cambial. Além disso, não há empenho em acordos bilaterais.