Cenário

Mesmo com medidas, real segue valorizado

As medidas governamentais anunciadas para tentar frear as sucessivas quedas do dólar – que já apresenta os menores valores registrados desde 1999 (veja quadro abaixo) – não estão sendo suficientes para controlar a valorização do Real. Análise de economistas mostra que sem decisões mais incisivas e estruturais, como a aprovação da reforma tributária, esse cenário tende a se acentuar nos próximos meses. De outro lado, especialistas apontam: o ponto positivo desse cenário é aproveitar as viagens ao exterior e comprar eletroeletrônicos que chegam ao Brasil a um preço mais barato.

O possível calote da dívida nos Estados Unidos – que depende de decisão do Congresso norte-americano ao pedido feito pelo governo daquele país, a ser anunciada ainda nesta semana – pode ser decisivo para o comportamento da moeda daqui para a frente, uma vez que somente essa incerteza na renegociação da dívida que já vem impactando na desvalorização do dólar. “A acentuação da crise agora está muito ligada ao possível calote aí nós estaremos no pior cenário. O calote terá um impacto terrível sobre o dólar”, projeta o coordenador do curso de Mestrado da Faculdade de Administração e Economia (FAE), José Henrique de Faria.

Internamente, as medidas anunciadas até agora pelo Banco Central não foram sentidas para frear a moeda americana, avalia o economista. “O efeito das medidas não aconteceu. Se não houver política tributária correta e de desenvolvimento industrial que melhore a qualidade da formação da força de trabalho, a economia brasileira vai ficar dependendo de vender commodities agrícolas”.

Faria defende a necessidade de discussão e aprovação da reforma tributária, que até agora não avançou. Sem a reforma tributária, o Brasil continua cobrando impostos cumulativos que acarretam aumento do valor dos produtos. “O governo precisa do tributo para sustentar máquina estatal, mas os tributos inflacionam os preços. É preciso encontrar um equilíbrio nessa necessidade de arrecadação do Estado e melhores condições de mercado”, aponta Faria.

O coordenador destaca que o Brasil precisa de um projeto de desenvolvimento industrial, econômico e social que vá além do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Só o PAC não vai adiantar, embora tenhamos melhorado renda média do brasileiro, ainda há 24 milhões de brasileiros na miséria, recebendo até um salário mínimo”, diz.

A vinda de investidores estrangeiros ao Brasil, com o crescimento da economia, tem aumentado as importações frente às exportações, além de baratear produtos importados. “O aumento de importação, se por um lado baixa preços dos produtos, de outro lado causa um problema interno para o setor industrial, porque as empresas têm dificuldade em produzir, principalmente as que não exportam”, explica Faria.

E por isso se tem falado tanto na desindustrialização brasileira, que pode ter desemprego como consequência, conforme industriais vêm alertando. “Se o País não colocar alguns limites para o capital estrangeiro, pode haver queda no volume de empregos e perdemos a vantagem que temos hoje, que é o mercado consumidor forte”, lembra o economista.

Desaceleração da economia

Para o economista Lucas Dezordi, é inevitável a economia se desacelerar para controlar essa queda acentuada do dólar. “Não é recessão, mas o governo pode procurar reduzir o ritmo de crescimento nos próximos 12 meses para conter o capital estrangeiro”, opina.

Enquanto isso, o consumidor brasileiro deve comprar mais eletrodomésticos, televisores e computadores, que estão mais baratos. “O consumidor já está percebendo que o supermercado ficou mais caro, mas o eletrodoméstico está mais acessível. Tem essa compensação”, compara Dezordi.

O economista lembra que a população deve estar preparada para uma desaceleração da economia e evitar financiar mais do que cinco ou seis vezes na hora de adquirir um novo produto. “O ideal é comprar a três ou quatro prestações”, indica. Importação de livros, DVDs ou outros produtos do gênero também estão favorecidas neste momento.

Apesar de o dólar tender a fechar o ano em queda, no período de um ano a moeda deve voltar a subir, na análise de Dezordi. “O Brasil não tem produtividade para sustentar dólar tão barato a longo prazo”, afirma.

Arte: Edgard Larsen

Análise da indústria

No último mês de maio, as exportações do Estado tiveram aumento de 8,52% em relação ao mês anterior, atingindo o valor de US$ 1,701 bilhão, o que representa 24,78% a mais que em maio de 2010, de acordo com o Desempenho do Comércio Exterior Paranaense da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Por sua vez, as importações somaram US$ 1,67 bilhão, 15,47% a mais que abril e 59,85% superior ao valor de maio do ano anterior.

Com esses resultados, as exportações acumuladas em 2011 já são 24,09% superiores ao mesmo período de 2010, enquanto as importações aumentaram 47,90%. Essa menor evolução das exportações em relação às importações sinaliza a possibilidade de restrição à sustentação da atividade econômica interna, na análise dos técnicos da Fiep.

“Deve-se, também, incluir neste cenário a possível deterioração no fluxo de comércio internacional (Paraná e Brasil) que advenha dos repiques de crise de alguns países da zona do Euro, a ele se adicionando agora sinais de inquietação quanto a políticas que venham a ser acionadas pela China para controle da inflação”, afirma o documento que contém a análise dos industriais paranaenses.

Leia mais

Dólar baixo favorece viagens para o exterior

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna