Foto: Agência Brasil |
Lula na reunião do Mercosul: otimismo temperado com cuidado. |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em discurso na 30.ª Reunião de Cúpula do Mercosul, que o bloco conseguiu se firmar da Terra do Fogo ao Caribe, com o ingresso da Venezuela. Pela primeira vez, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, participa deste encontro com seu país na condição de membro pleno. Também essa foi a primeira inserção ao Mercosul que, nos 11 anos de sua implementação, contava apenas com associados.
?O Mercosul vai agora da Terra do Fogo ao Caribe e confirma sua vocação natural para acolher novos parceiros da região e construir associações mais ambiciosas?, afirmou Lula, deixando clara a sua satisfação com esse movimento de ampliação do bloco e assinalando que o Mercosul ?só faz aumentar nossas capacidades individuais de inserção internacional?.
Apesar do entusiasmo, Lula declarou que mantém um ?otimismo temperado com apreensão e cuidado?, mas que não duvida da ?capacidade coletiva de encontrar soluções para os grandes desafios do desenvolvimento econômico e social da região?.
Neste encontro de cúpula, o Mercosul celebra ainda os acordos de livre comércio com Cuba – daí a presença de Fidel Castro na reunião – e o Paquistão. Lula insistiu que são também ?muito boas as perspectivas? de acordos com a Índia, com o Conselho de Cooperação do Golfo e a União Aduaneira da África Austral e ?as provas de sua união de propósitos? nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O presidente brasileiro teve, no entanto, o cuidado de não mencionar nenhuma expectativa sobre as negociações com a União Européia, que se arrastam há oito anos. Ele mencionou, ainda, que o Mercosul conta com capacidade de ?encontrar soluções coletivas, sem se fechar para o mundo?. Afirmou que o maior propósito do bloco é garantir a segurança energética na América do Sul e que não compartilha as percepções de que o bloco está em crise.
?Hoje, vejo que muitas das questões que são apontadas como sinais de um esfacelamento do Mercosul são fruto de problemas legados por um passado que queremos superar?, afirmou Lula. ?O Mercosul tem diante de si o desafio de reinventar-se e atender às expectativas de todos os seus membros?, completou o presidente.
Divergências
Lula fez, ainda, um alerta. Segundo ele, as divergências bilaterais que vêm ocorrendo em alguns países do bloco e têm atrasado o avanço de acordos é o querem ?aqueles que trabalham para acabar com o Mercosul?. ?Nos momentos de maior inquietação, a palavra-chave é paciência.?
Vários são os impasses entre os países. Brasil e Bolívia (associada do Mercosul), por exemplo, ainda não conseguiram chegar a um acordo sobre o preço do gás natural vendido pela Bolívia ao País. O mesmo assunto vem causando discórdias entre Argentina e Chile, outro país associado. O governo argentino anunciou que vai repassar o gás importado da Bolívia ao Chile, que terá que pagar duas vezes pelo produto. A Argentina pretende, ainda, aumentar o valor do combustível na região de fronteira.
Lula ressaltou que o ?problema? vem sendo a questão energética na América do Sul e ressaltou a necessidade de os países resolverem a questão ?com serenidade?.
A Argentina também enfrenta tensões com o Uruguai, por discordar da construção de duas fábricas de celulose na fronteira dos dois países. Os argentinos dizem que as indústrias vão causar danos ambientais.
Paraguai e Uruguai argumentam que Argentina e Brasil têm levado vantagens nos acordos do bloco. O Uruguai ameaça sair do Mercosul, enquanto o Paraguai reclama das barreiras comerciais impostas pelo Brasil e pressiona o País para abaixar os juros da dívida.
No Rio Grande do Sul, produtores de arroz fecharam as estradas impedindo a entrada do arroz argentino. Eles querem melhores condições de competitividade. A Argentina tem cobrado do Brasil uma solução para o impasse.
Kirchner quer igualdade
Córdoba (Argentina) – O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, afirmou ontem que o Mercosul deseja uma integração atrativa para todos. Essa é a reivindicação do Uruguai e do Paraguai, os dois países mais pobres do bloco. Além dos três países, fazem parte do Mercosul o Brasil e a Venezuela, que entrou no bloco no último dia 4.
Durante discurso na abertura da 30.ª reunião dos presidentes do Mercosul, em Córdoba (Argentina), Kirchner disse que Brasil e Argentina, os dois países mais ricos do bloco, devem ser solidários com os menores. E defendeu a entrada da Bolívia e do México no Mercosul.
?O Mercosul é o instrumento para garantir uma integração digna e necessário para enfrentarmos juntos o desafio de um mundo globalizado?, afirmou, acrescentando que o bloco não pode ser partidário.
O Uruguai negocia um acordo com os Estados Unidos. Se fechado, o país terá que sair do Mercosul, já que o bloco não permite tratados que não sejam conjuntos.