Após oscilarem fortemente ao sabor das pesquisas eleitorais nas semanas anteriores, os mercados financeiros brasileiros – em especial a Bolsa – parecem menos nervosos, ao mesmo tempo em que a disputa pela Presidência se consolida. Os investidores já precificaram um segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) e, por isso, as reações às pesquisas mais recentes têm sido mais contidas, avaliam analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Isso não significa, contudo, que os participantes tenham voltado a operar com base em fundamentos, até porque a corrida acirrada no segundo turno deve tornar a impulsionar a volatilidade em breve.
“Existem duas realidades. A primeira é que o mercado subiu em razão das projeções de vitória da oposição. Recentemente, houve uma certa realização e, agora, o mercado está passando por uma fase de amadurecimento”, comenta Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora. Para Julio Hegedus Netto, economista-chefe da Lopes Filho & Associados, a corrida eleitoral também parece estar se consolidando, com Marina atingindo um piso perto do nível atual de 30% das intenções de voto e Dilma em uma faixa relativamente estreita, com teto um pouco abaixo dos 40%.
No último dia 4, por exemplo, a Bovespa caiu 1,68% após pesquisas do Ibope e do Datafolha terem mostrado, na noite anterior, uma melhora de Dilma e queda de Marina. Já nesta última quarta-feira a Bolsa ficou praticamente estável (-0,01%), mesmo com uma sondagem do Ibope indicando recuo das intenções de voto de Dilma.
Petrobras
Netto diz não acreditar em um novo rali da Bolsa ainda no primeiro turno das eleições. “Só aconteceria algo assim se surgissem fatos novos que pudessem desestabilizar Dilma, mas isso já ocorreu, com o escândalo na Petrobras, e parece que não teve efeito.” Mesmo assim, ele aponta que a negociação na renda variável está “totalmente descolada dos fundamentos”, dominada pela disputa presidencial.
Na opinião de Lígia Heise, analista de câmbio e macroeconomia da INTL FCStone, o segundo turno deve voltar a incentivar a volatilidade nos mercados brasileiros, em razão da disputa apertada entre Dilma e Marina. “O primeiro turno já está precificado, enquanto o segundo é mais incerto.” Para ela, a interpretação dos investidores internacionais é basicamente a mesma dos locais, que veem na oposição um governo menos intervencionista, com independência do BC e políticas fiscais mais claras.
Figueredo aponta que já houve uma diminuição da liquidez nas últimas sessões e a volatilidade implícita da Petrobras está em um nível elevado, perto de 55%, mas diz que ainda existe espaço para especular com papeis de estatais em cima das eleições. “Ainda há muitas oportunidades, mas não é um mercado fácil, as operações de day trade ainda são muito grandes”, explica.
Ele observa que, do ponto de vista da análise técnica, o Ibovespa está em uma zona de indefinição, mas acredita que o mercado tem potencial para subir um pouco nas próximas semanas, à medida que forem ocorrendo novos debates e os investidores concretizarem as expectativas em relação a Marina, contando também com a esperança de que, com o mesmo tempo de TV de Dilma no segundo turno, ela ganhe força.