Mercado vê PIB de 0,3% e corte de 1 ponto no juro

Os analistas e economistas do mercado financeiro reduziram a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas pelo país) para este ano de 0,68% para 0,30%. A nova projeção consta da pesquisa semanal realizada pelo Banco Central junto aos economistas do mercado financeiro e é menor que a previsão com que trabalha o governo agora, de crescimento de apenas 0,40%. Para 2004, os analistas mantiveram a previsão de crescimento de 3,5%.

As estimativas mais pessimistas são resultado da divulgação do PIB do terceiro trimestre na semana passada. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB cresceu só 0,4% em relação ao segundo trimestre. O resultado ficou bem abaixo das estimativas do mercado, que esperava alta de 1% a 3%.

No entanto, para incentivar o reaquecimento da combalida economia brasileira os analistas de mercado apostam agora que o BC fará um corte maior que o esperado na taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic.

Segundo a pesquisa divulgada ontem, o mercado espera um corte de 1 ponto percentual em dezembro, reduzindo a taxa para 16,5% ao ano. Até a semana passada, a expectativa era de um corte de só 0,5 ponto.

Inflação

O crescimento menor, no entanto, favorece a redução da inflação, já que os empresários são obrigados a baixar preços para disputar mercado em um cenário de demanda fraca.

Com isso, pela sexta semana consecutiva os analistas reduziram a previsão do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para os próximos 12 meses, desta vez de 5,89% para 5,80%. Para este ano, a projeção também caiu, pela quinta vez consecutiva, de 9,23% para 9,19% e, para 2004, foi mantida em 6%.

Com relação à inflação de novembro, a expectativa do mercado é de que o IPCA fique em 0,35%, contra uma previsão de 0,38% da semana anterior. Para dezembro, as projeções também caíram de um IPCA de 0,46% para 0,45%.

Com relação à taxa de câmbio, a estimativa para o final deste ano continua apontando para uma taxa de R$ 3,00 e, para 2004, R$ 3,25. Já a relação dívida líquida/PIB deverá fechar 2003, segundo os analistas, em 57,7% e não mais em 57,6% como previsto anteriormente. Em 2004, essa relação cairia para 56%.

Para a balança comercial, foi mantida a previsão de superávit de US$ 23,5 bilhões em 2003, a mesma do Banco Central, e, para 2004, a projeção subiu de US$ 18,10 bilhões para US$ 18,33 bilhões.

Os analistas também mantiveram a estimativa de ingressos de investimento estrangeiro direto neste ano de US$ 9 bilhões e de US$ 12 bilhões para 2004.

Risco-Brasil abaixo de 500 pontos

O risco-Brasil operou ontem abaixo do patamar de 500 pontos, no menor nível desde 5 de maio de 1998. O indicador, medido pelo banco americano JPMorgan, registrou uma queda de 6,2%, aos 497 pontos.

A redução refletiu a valorização do C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, que foi negociada pela cotação recorde de 97,31% do valor de face.

Na prática, um risco em torno de 500 pontos significa que os títulos do país pagam, em média, uma taxa de retorno ao investidor de 5%, na comparação a um título de prazo equivalente emitido pelo Tesouro dos EUA, considerado de risco zero.

Por isso, o indicador acaba refletindo, na visão do mercado, a probabilidade de os países pagarem suas dívidas. Em setembro de 2002, com a especulação sobre as eleições, o risco atingiu o pico de 2.436 pontos. O menor foi de 337 pontos, em 22 de outubro de 97.

Dólar tem a maior queda desde outubro

Novos anúncios de captações externas, a valorização recorde dos títulos brasileiros no exterior, a forte queda do risco-Brasil e a expectativa de uma nova emissão de bônus da República levaram ontem o dólar comercial a registrar a maior queda percentual em quase dois meses. A moeda americana começou dezembro em baixa de 0,71%, a maior desvalorização desde o último dia 6 de outubro (-0,76%). No fim dos negócios, o dólar era vendido por R$ 2,926, o menor valor desde o último dia 24 de novembro (R$ 2,921).

Ontem, o C-Bond foi negociado pela máxima de 97,25% do valor de face, novo recorde.

Segundo o analista André Kitahara, do banco holandês Rabobank, a valorização dos papéis brasileiros foi influenciada pela alta das taxas de retorno dos títulos do Tesouro americano. Ontem foi divulgado que as fábricas dos EUA registraram em novembro o maior crescimento desde 1983, superando as previsões dos economistas.

Com o novo recorde do C-Bond, voltaram às mesas de operações rumores de que o governo brasileiro poderá realizar uma nova captação no mercado internacional ou alguma operação de troca (“swap”) de títulos.

Há expectativas positivas dos investidores estrangeiros em relação a uma melhora do “rating” (nota de crédito) da dívida soberana do Brasil, após elogios feitos pela agência S&P (Standard & Poor’s).

A baixa da moeda americana também foi puxada pela expectativa de entrada de recursos externos no país.

Ontem o Banco Votorantim lançou uma captação externa de US$ 50 milhões, em eurobônus de quatro anos. A previsão é fechar a operação amanhã. Já a Telemar começa nos próximos dias a procurar investidores europeus para uma emissão de US$ 300 milhões, em bônus com prazo de dez anos. Já o Banco do Brasil prepara-se para lançar 150 milhões de euros em títulos de três anos.

Previsões

As cinco instituições financeiras com maior índice de acertos em suas projeções, ouvidas pela pesquisa do Banco Central divulgada ontem, reduziram suas previsões para o fechamento do dólar em 2003 e 2004.

O grupo, chamado pelo BC de “Top 5”, espera que a moeda americana feche este ano em R$ 2,95 e o próximo, em R$ 3,23.

O Top 5 para as projeções de curto prazo para o câmbio é formado pelas instituições Banco Cruzeiro do Sul, Banco BNL, Boreal DTVM, Tendências e Banco BMC.

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