O programa de swaps cambiais do Banco Central (BC) deve ser encerrado, mas de forma planejada e paulatina. Esse é o diagnóstico dos agentes do mercado de câmbio ouvidos em uma enquete do Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. Dos 29 agentes contatados, nove responderam que a intervenção “deve ser extinta, mas de forma gradual”. Apenas quatro responderam que “deve continuar”. Ninguém respondeu simplesmente “deve ser extinto”. O restante não quis se pronunciar mesmo sob a condição de confidencialidade do levantamento.

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Para o diretor de pesquisas para a América Latina da Nomura Securities em Nova York, Tony Volpon, a única opção é desmontar o programa de forma gradual. Ele avalia que simplesmente interromper a atuação de uma hora para outra seria traumático. Nas palavras do especialista, extinguir o programa de swaps de forma abrupta seria a melhor forma para “quebrar tudo”.

“Tem de ser gradual. Não dá para simplesmente parar de rolar”, afirma o economista. Em maio, o diretor da Nomura publicou um artigo com o professor Marcio Garcia, da PUC-RJ, demonstrando os riscos do programa e sua posição contrária à intervenção do Banco Central no mercado. Em artigos publicados na imprensa, o professor Garcia também pontuou as contradições da iniciativa e sua posição contrária. O programa equivale à venda futura de dólar e foi criado pelo BC, em agosto do ano passado, para reduzir a volatilidade do câmbio.

Um alto executivo do setor de fundos de investimento compartilha o mesmo entendimento de Volpon e concorda com o resultado da enquete. “Interromper o programa com o atual cenário mundial, o déficit externo brasileiro e a balança comercial em tendência desfavorável aumentaria muito a volatilidade do câmbio”, afirma o executivo, que pediu para não ser identificado.

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Para ele, é preciso desmontar o programa de swaps cambiais e deixar o câmbio flutuar. Entretanto, o que não pode ser feito é superestimar a soberania da autoridade monetária brasileira sobre variáveis pautadas por absoluta incerteza. Uma delas é quando o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, vai voltar a aumentar os juros nos Estados Unidos. Outra é o impacto do menor ritmo de crescimento da China sobre as outras economias, inclusive a brasileira. Outras variáveis são a evolução da economia europeia nos próximos meses e os conflitos geopolíticos, envolvendo diferentes países.

“Somente se toda essa conjuntura externa mudasse completamente e passasse a ter um viés mais positivo, seria possível extinguir o programa de forma abrupta”, diz o executivo.

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Eficácia

Como demonstra o resultado da enquete do Broadcast, a eficácia do programa é motivo de questionamento pelo mercado. Volpon, da Nomura Securities, argumenta que alguns dados já vêm demonstrando isso. Um deles é a apreciação do cupom cambial. O cupom para o título que vence em abril de 2015 era de 1% em setembro. Na sexta-feira, estava em 1,64%. O cupom de janeiro de 2016 era próximo de 1,45%. Passou para 2,33%. “A variação pode parecer pequena para quem acompanha o mercado de DI, mas tem de comparar esses valores com a Libor, que não chega nem perto desse patamar nem em períodos mais longos”, diz o diretor da Nomura.

Como parte de sua argumentação, Volpon também destaca a atual exposição dos bancos ao dólar. Segundo o último relatório do Banco Central, os bancos estavam no fim de setembro com uma posição vendida de US$ 17,163 bilhões. “A área de risco impõe limites. Eles, aparentemente, chegaram a esse patamar próximo de US$ 18 bilhões e não têm aumentado”, diz. Desde agosto do ano passado, quando o BC iniciou o programa, a exposição das instituições nunca tocou os US$ 20 bilhões. O maior nível foi registrado em agosto deste ano e foi de US$ 18,826 bilhões.

Outro ponto que pode ser entendido como um limitador é o tamanho do atual estoque. Contando as intervenções de sexta-feira, o BC já tem US$ 101,209 bilhões de posição vendida em operações de swap cambial que vencem até outubro de 2015. “Pode ir a US$ 200 bilhões? Até pode, porque não há um limitador e a reserva cambial é grande. Mas o ideal é repensar essa tendência”, diz o operador da corretora H.Commcor, Cleber Alessie Machado Neto.

Um processo de transição que levaria à extinção do programa poderia levar em conta o aumento da Selic, previsto pelo Relatório Focus a partir de janeiro; uma nova mudança no IOF sobre as captações externas, como já aconteceu nesse ano; e mesmo a atuação do Banco Central no mercado de câmbio à vista, na avaliação de Machado Neto. “É difícil afirmar como mexer no programa. Mas é essencial que seja feito de forma gradual para evitar uma pressão ‘altista’ no mercado”, diz o especialista.