Bovespa já se recuperou:
investidores temem juros nos EUA.

O mercado financeiro já recuperou grande parte das perdas provocadas pelas turbulências dos últimos meses, com exceção do dólar, que encontrou um novo ponto de equilíbrio, em torno dos R$ 3,10. Na verdade, durante a minicrise financeira de maio, o mercado estava antecipando um desfecho que só será confirmado esta semana: o aumento do juro básico nos Estados Unidos. Na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve elevar o juro básico pela primeira vez em quatro anos, pondo fim a um dos mais longos períodos de estímulo monetário na história dos EUA, e certamente o mais agressivo.

Na única vez em que o Fed ficou mais tempo sem elevar os juros, entre 1989 e 1994, a taxa caiu de 9,53% ao ano para um nível bem mais alto que o atual, de 3,05%, ou 0,53% descontando a inflação, como mostra um estudo do instituto de pesquisa americano Financial Markets Center. Desta vez, os juros caíram de 6,40% ao ano em dezembro de 2000 para 1% atualmente, o que corresponde a juros negativos de 2,05% se descontada a inflação. Em termos reais, a taxa média dos últimos 4 anos ficou negativa em 0,04%.

A expectativa quanto à data da virada – e depois, quanto à agressividade com que o Fed vai elevar os juros americanos – vem chacoalhando os mercados mundiais desde abril. No Brasil, a perspectiva de que um aumento dos juros nos EUA traga ainda menos investimentos ao País e a ameaça inflacionária de cotações recordes do petróleo no mercado mundial chegaram a provocar uma minicrise financeira, cujo auge ocorreu em meados de maio.

De lá para cá, a maior parte dos ativos financeiros recuperou pelo menos a metade das perdas. O risco-Brasil, que aumentou 50% entre o início de abril e 10 de maio, para 808 pontos, hoje está em 660 pontos, o que reduziu a alta para 22,4% nos 3 meses. A crise na Bovespa também chegou ao auge em 10 de maio, quando acumulava uma perda de 22,3% em relação a 1.º de abril. Depois disso, a Bolsa já subiu 18,8% e acumula baixa de apenas 7,63% em todo o período. Os juros futuros no mercado doméstico devolveram metade da alta de 19,9% entre o início de abril e o pico dos últimos meses, atingido em 21 de maio. Atualmente, com o contrato para janeiro cotado a 16,67% ao ano, a alta desse juro desde o início de abril está em 10%.

Dólar não quer baixar

Neste cenário de recuperação, o dólar é uma exceção. A cotação da moeda americana no Brasil disparou de R$ 2,89 no começo de abril para R$ 3,21 em 20 de maio, uma variação de 11,1%. Daí em diante, só em dois pregões o dólar fechou abaixo dos R$ 3,10. Pelo fechamento de sexta-feira, a alta acumulada desde o início de abril ainda está em 7,6%. E o câmbio tende a ficar nesse nível até o fim do ano, segundo a previsão de economistas.

O dólar se estabilizou num novo nível por causa do desajuste no balanço de pagamentos provocado por uma entrada fraca de investimentos estrangeiros diretos (IEDs), diz o economista-chefe do Pátria Banco de Negócios, Luis Fernando Lopes.

Os IEDs e o superávit da balança comercial são as principais fontes de dólares de que o País dispõe para honrar a dívida externa, que este ano soma US$ 44 bilhões entre juros e vencimentos. Como os investimentos estrangeiros vêm caindo ainda mais que o esperado, atingindo no mês passado o pior nível para um mês maio desde 1994, é preciso compensar com os dólares das exportações. ?O dólar precisa ficar nesse patamar para fazer o ajuste no balanço de pagamentos?, diz Lopes.

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