Brasília – A inflação projetada pelo mercado financeiro para este ano já é menor do que a expectativa oficial do governo. As instituições financeiras e empresas de consultoria ouvidas pelo Banco Central, em sua pesquisa semanal sobre indicadores econômicos, apostam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulará alta de 9,93%. A estimativa oficial do BC é de que o índice – referência do sistema de metas de inflação – terá neste ano uma elevação de 10,2%. Esta é a primeira vez neste ano que o mercado estima uma inflação abaixo dos 10%.
Até a semana passada, as instituições apostavam que o IPCA teria uma variação de 10,02% este ano. Os agentes ouvidos pelo BC também reduziram suas projeções para a inflação dos preços administrados, conjunto que inclui tarifas públicas como energia elétrica e telefonia. Pelo levantamento, esse conjunto de preços acumulará alta de 13,60%, abaixo dos 13,84% estimados na pesquisa anterior.
O mercado aumentou de 0,57% para 0,60% sua estimativa de inflação para agosto. Também houve elevação da projeção de IPCA para os próximos 12 meses, que passou de 6,20% para 6,64%. Essa alta, entretanto, reflete apenas uma questão estatística, já que foi retirada do cálculo a inflação de 0,20% apurada no mês passado e incluída a projeção para julho de 2004, que é superior a esse porcentual.
Para 2004, as projeções ficaram inalteradas. A expectativa é de que o IPCA acumule uma alta de 6,50% e os preços administrados, de 8%. A meta de inflação para 2004, fixada pelo governo, é de 5,5%, com margem de variação de 2,5 pontos porcentuais para cima ou para baixo.
No que se refere a juros, o mercado manteve a previsão de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduzirá em mais 1,5 ponto porcentual a taxa Selic na reunião que ocorre na próxima semana. A projeção das instituições é de que a Selic terminará agosto em 23% ao ano, ante os atuais 24,5%.
Crescimento
O ritmo lento de recuperação da atividade econômica também refletiu-se nas projeções do mercado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A estimativa dos agentes ouvidos pelo BC é de que a economia crescerá 1,50% neste ano, e não mais 1,56%, como previsto na pesquisa anterior. Para 2004, a aposta continua a mesma há 33 semanas: crescimento de 3% do PIB.
A estimativa de ingresso de investimentos diretos no País neste ano sofreu um revés, caindo de US$ 9 bilhões para US$ 8,5 bilhões. Para 2004, foi mantida a projeção da semana passada: US$ 12 bilhões. Em termos de câmbio, as instituições apostam que o dólar fechará 2003 cotado a R$ 3,15 – abaixo dos R$ 3,18 estimados até semana passada. Para 2004, a aposta é que a moeda norte-americana estará valendo R$ 3,41 no fim do ano, e não mais R$ 3,44.
Dólar fecha acima de R$ 3,00
O dólar comercial voltou a fechar acima da marca dos R$ 3,00, o que não ocorria desde a última quarta-feira. No fim dos negócios, ontem, a moeda americana era negociada na cotação máxima de R$ 3,005, uma alta de 0,60%. Na mínima do dia, o dólar foi vendido a R$ 2,985, uma ligeira baixa de 0,06% em relação ao preço de fechamento da sexta-feira passada (R$ 2,987).
Segundo o operador da corretora Didier Levy, Julio César Vogeler, as compras da divisa foram puxadas pelos importadores. “Sem notícia relevante, o mercado vive um momento de ressaca, após a agitação da semana passada com a votação das reformas”, diz.
Nem os boatos sobre uma possível melhora do “rating soberano” do Brasil pelas agências de classificação de risco interferiram nos negócios.
“É um pouco cedo para que isso [melhora do rating] aconteça. Essas decisões precisam ser mais calcadas, com os passos mais acertados”, afirma o gerente de renda fixa do banco Prosper, Carlos Cintra.
Nos bancos, os analistas sustentaram avaliações de que o real tende a se desvalorizar nos próximos meses, mas sem variações expressivas, dentro da normalidade.
Em relatório divulgado ontem, assinado pelo economista Darwin Dib, do Unibanco, a estimativa é de um dólar próximo dos R$ 3,10 no final do ano. Para chegar a esse previsão, a instituição analisou o desempenho de indicadores macroeconômicos, como balanço de pagamentos, exposição cambial da dívida pública, captações externas do setor privado e posição do sistema bancário em dólares.
Com o resultado de ontem, o dólar acumula alta de 1,2% no mês, mas uma baixa de 15,2% no ano.